No dia 1º de dezembro, 5ª feira, a Academia Brasileira de Ciências (ABC) promoveu o Simpósio e Diplomação dos Membros Afiliados da ABC da Regional Norte, no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), em Manaus, no estado do Amazonas.
Na ocasião, os membros afiliados eleitos pela Vice-Presidência Regional Norte da ABC, liderada pelo Acadêmico Adalberto Val, apresentaram suas linhas de pesquisa e foram diplomados.
Abertura
O vice-presidente da ABC para a região Norte, Adalberto Val, ressaltou a importância da iniciativa da ABC ao constituir o corpo de membros afiliados com igual distribuição nacional. “Isso aproxima as regiões, que são separadas por um imenso fosso no que diz respeito à ciência e tecnologia”, afirmou.
Val ressaltou a atividade intensa da ABC no apoio aos pesquisadores do Brasil. Explicou que a categoria de membros afiliados foi criada em 2008 e tem como objetivo reconhecer o talento dos jovens cientistas brasileiros de até 40 anos, que são eleitos por região e ficam ligados à ABC por cinco anos não renováveis.
O vice-presidente destacou também a categoria dos membros correspondentes e homenageou Thomas Lovejoy, que deixou uma grande contribuição na Amazônia, mas não viveu para tomar posse quando foi eleito para a ABC. Apontou que a ABC discute e produz publicações sobre as questões candentes no cenário nacional, como a contaminação por mercúrio, as mudanças climáticas, os recursos hídricos, etc. e também atua na comunidade científica internacional, indicando Acadêmicos para compor os órgãos mais importantes e áreas de ciência e tecnologia em nível mundial.
Representando o Instituto Federal de Tecnologia da Amazônia, o professor Jucimar Brito de Souza apontou as dificuldades enfrentadas nos anos recentes no ensino superior público no país, mas passou a esperança de dias melhores pela frente para a ciência e educação.
Representando o INPA, onde atua como pesquisadora titular e coordenadora de capacitação, a bióloga Beatriz Ronchi Teles afirmou que para o crescimento do país o reconhecimento aos jovens pesquisadores da Amazônia é fundamental.
Representando o Hospital Tropical de Manaus, o infectologista Marcus Vinicius de Lacerda, que foi membro afiliado da ABC no período de 2011 a 2016, ressaltou as imensas dificuldades que seu grupo de pesquisa enfrentou durante a pandemia. Pesquisador da Fiocruz Amazônia, ele esteve à frente de um estudo pioneiro no país sobre o uso de cloroquina em pacientes com covid-19 (o Clorocovid), ainda no início da pandemia. O estudo indicou que o medicamento não apenas era ineficaz, como poderia apresentar riscos aos pacientes infectados pelo Sars-Cov-2. Em função disso, Lacerda precisou andar com escolta armada, depois que ele e outros pesquisadores receberam ameaças de morte.
“O que eu queria destacar aqui é que, naquele período, um senador da República escreveu para a Polícia Federal durante as investigações, questionando o porquê de uma pesquisa importante com aquela estivesse sendo feita na Amazônia e não em São Paulo, reforçando um Brasil dividido, isolando a região e diminuindo a qualidade da ciência feita na Amazônia”, pontuou Lacerda. Ele ressaltou a parceria da ABC desde o início desse processo, que lhe deu grande apoio. “A ABC está crescendo em representatividade nacional por conta dessas iniciativas, de apoiar os jovens cientistas de todo o país de forma equilibrada.”
Os novos membros afiliados
Os jovens cientistas de excelência apresentaram suas pesquisas, pelas quais foram selecionados para integrar a Academia. Leia os perfis deles e conheça-os!
- Da jabuticabeira à Amazônia
Professor do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Daniel Marra tem como objetivo último de suas pesquisas consolidar o manejo ambiental na Amazônia. - Das olímpiadas de genética à docência na Unicamp
Giovana Anceski Bataglion é professora da Ufam e estuda os constituintes químicos do meio ambiente amazônico. - Crescendo junto com a computação
Professor da Universidade Federal do Amazonas, Horácio Fernandes busca propor soluções para problemas práticos das redes de computadores. - Conhecimento em números
O estatístico Jeremias Leão, professor da UFAM, direciona suas pesquisas para a análise de dados médicos através de técnicas de análise de sobrevivência. - A origem de doenças emergentes na Amazônia
O farmacêutico Jorge Rodrigues de Sousa é pesquisador colaborador do Instituto Evandro Chagas, em Manaus, na seção de arbovirologia e febres hemorrágicas.
Rede de conexões traz esperança
O botânico do INPA Jadson José Souza de Oliveira, membro afiliado da ABC eleito para o período 2020-2024, recepcionou os novos membros, em nome de todos os membros afiliados.
Jadson valorizou a realização da cerimônia presencial de diplomação. “É muito bom estarmos juntos. As cerimônias regionais de 2020, quando eu seria diplomado, tiveram que ser adiadas para 2021, e em 2021 foram remotas, em plataformas on-line”. Ele destacou a importância da interação entre as diferentes disciplinas da ciência que o ambiente da ABC promove. “É uma grande honra, privilégio e conquista fazer parte da ABC, e também responsabilidade de desempenhar bem na construção do conhecimento científico e do diálogo interdisciplinar. A Academia fornece este ambiente de ampliação de conexões e da percepção científica, com a abertura de muitas janelas de oportunidades de cooperação e crescimento em conjunto.”
Importantíssima e riquíssima, a Amazônia é hoje um dos centros das atenções no mundo, ressaltou o pesquisador. “É um grande privilégio e grande responsabilidade atuarmos neste imenso bioma, e trabalharmos para conservá-lo. Mais do que estudar a Amazônia, ou na Amazônia, é fazê-lo sendo parte da Amazônia. Para isto é preciso amá-la, dialogando e colaborando com toda a sociedade, especialmente com os povos originários e tradicionais. Esta rede de conexões entre nós ressaltará uma outra mensagem: esperança. Contem conosco.”
Por projetos multidisciplinares de longa duração
Daniel Marra representou o novo grupo para os agradecimentos e expectativas. Afirmou que os colegas, assim como ele, estavam enormemente honrados com a eleição, mas que sabem que toda oportunidade vem com desafios. “Diante das apresentações de hoje, fica evidente que na Amazônia o papel da ciência é especialmente desafiador precisamos contribuir com pesquisas que forneçam bases técnicas para o desenvolvimento econômico, social e de infraestrutura, aliados ao uso sustentável do meio ambiente. E isso não é fácil”, ressaltou o novo Acadêmico.
Citando artigos de jornais e outras referências, Marra apontou que na Amazônia inteira há menos doutores do que na Universidade de São Paulo. Para mudar esse quadro, é preciso fortalecer as instituições locais e criai incentivos para atrair e fixar recursos humanos na região Norte. “Entender o funcionamento da floresta, sua importância para a manutenção dos ciclos biogeoquímicos globais, da biodiversidade e do clima exige equipes de pesquisa multidisciplinares, com pesquisadores e técnicos atuando em projetos de longa duração que abordem diferentes escalas espaciais, temporais, espectrais, altitudinais e outras”, ressaltou Marra.
O pesquisador destacou os valores principais que devem nortear o nosso país: educação e ciência inclusivas, que estimulem a igual representatividade de todos os grupos da sociedade. “As escolas, universidades e institutos de pesquisa precisam ser prioridade. Uma sociedade livre e autônoma se faz de educação, ciência, arte e esporte.”
Efetivar a Amazônia na agenda nacional
Finalizando, Adalberto Val conclamou os afiliados a colocar sua ciência para fins sociais, estar preocupado com fins sociais. “A ideia da neutralidade científica é importante e precisa ser exercida, mas as sociedades precisam de informação acurada. Incluam as pessoas no radar do que vocês fazem no dia a dia”, ressaltou. E completou: “Que se juntem a nós outros membros titulares e afiliados para que busquemos uma REAL integração da Amazônia na agenda nacional. Ocupamos 60% do território brasileiro e continuamos recebendo 2,5% dos recursos para a ciência do Brasil. Ora, se a região produz 10% do PIB [Produto Interno Bruto] do país, deve receber o mesmo tanto em recursos, de modo a não trabalhar em situação de subordinação. Precisamos continuar construindo um futuro ambiental e socialmente justo. Precisamos caminhar juntos, sem deixar ninguém para trás.”
A seguir foi realizada a cerimônia da entrega dos diplomas, registrada na galeria de fotos abaixo.