Giovana Anceski Bataglion nasceu em 1986 em Araranguá, no estado de Santa Catarina, a cerca de 200 km da capital. Teve uma infância simples e humilde, na cidade litorânea Balneário Arroio do Silva, com poucos brinquedos, passeios e viagens. Seu pai trabalhava com distribuição e venda de frutas, verduras e vegetais, enquanto a mãe era diarista. Ela foi a primeira pessoa da família a ingressar em um curso superior e inspirou a irmã mais nova a fazer o mesmo. Hoje, elas são as únicas doutoras da família. 

O interesse em ciência foi despertado no terceiro ano do ensino médio, quando Giovana foi selecionada para participar de uma Olimpíada Nacional de Genética. Ao vencer a etapa municipal, ela teve a oportunidade de concorrer à etapa estadual, que ocorreu na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Aproveitou bem a oportunidade e foi escalada para a etapa nacional, que ocorreu na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Em ambas as universidades, ela teve a oportunidade de visitar os laboratórios de pesquisa – algo que a marcou.  

“O que mais me encanta na ciência é a sua relação íntima com a nossa vida cotidiana, inclusive isso vale para a minha área de atuação”, disse a cientista. Para ela, a relação entre sociedade e meio ambiente deve ser harmoniosa para ser duradoura, propiciar qualidade de vida e garantir o bem-estar: “Nesse sentido, é imprescindível avançarmos na compreensão dos processos químicos que ocorrem no meio ambiente, para que os temas socioambientais sejam discutidos com base em conhecimento científico.” 

Giovana Bataglion ingressou na UFSC em 2005, para cursar licenciatura e bacharelado em química ao mesmo tempo. Por conta da afinidade com as disciplinas, ficou em dúvida entre química e biologia, mas acabou optando a primeira por avaliar que teria mais possibilidades no mercado de trabalho. Ela lembra as dificuldades vividas durante os quatro anos de curso, morando longe da família e em uma cidade nova: “Foi bastante difícil, pois precisei conciliar a graduação com um emprego praticamente ao longo dos quatro anos. Com um ritmo pesado de estudos, acabava quase nunca aproveitando as belas praias de Florianópolis nem os amigos da graduação.” Por esse motivo, só conseguiu fazer iniciação científica no último ano da graduação, mas a já sabia que seguiria a carreira acadêmica. 

Já no mestrado, que iniciou 2010 também na UFSC, a vida de Giovana mudou. Finalmente conseguiu se dedicar totalmente aos estudos, além de aproveitar a integração com o orientador e com o grupo de pesquisa. “Nessa época, também tive a oportunidade de participar de eventos científicos nacionaisque me despertaram interesse em novas linhas de pesquisa”, comentou. Esse foi seu maior incentivo para cursar o doutorado na Unicamp, em um grande grupo de pesquisa com excelente infraestrutura. “Consegui ser contemplada com uma bolsa de doutorado da Fapesp de 2012 a 2015, o que foi fundamental para que eu participasse de congressos no exterior”, relatou a Acadêmica. 

Atualmente, Giovana Bataglion é professora adjunta do Departamento de Química do Instituto de Ciências Exatas da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Desenvolve pesquisas na área de química analítica, em especial na aplicação de técnicas cromatográficas e espectrometria de massas em estudos ambientais e de geoquímica orgânica. Ela coordena três projetos de pesquisa relacionados com a caracterização da matéria orgânica dissolvida e sedimentar de igarapés e rios da Amazônia, com financiamento, buscando desvendar os constituintes químicos do meio ambiente amazônico. Ela quer compreender a interação e a dinâmica entre a floresta e os rios, mensurar a influência das atividades humanas no ambiente amazônico e avaliar a resiliência dos grandes rios amazônicos perante as ações de degradação ambiental. Outra de suas áreas de interesse é investigação das alterações na composição química do ambiente amazônico sob cenários de mudanças climáticas. “Tais pesquisas podem contribuir para a elaboração de políticas públicas que visem a proteção, a preservação e a conservação ambiental”, explicou a Acadêmica. 

O título de membro afiliada da ABC vai muito além da alegria pessoal pelo reconhecimento da sua trajetória: “É uma conquista importante para a Ufam, que tem pela primeira vez um representante na área de ciências químicas da ABC.” Bataglion acredita que sua atuação na ABC pode contribuir na discussão sobre temas socioambientais de importância e urgência indiscutíveis no país. “Além da importante representação como jovem pesquisadora da região Norte, também vale mencionar a representação feminina cada vez maior na ciência brasileira, inclusive em posições de destaque”, ressalta a cientista. 

Fora dos laboratórios, Giovana Bataglion tenta levar um estilo de vida saudável e minimalista: “Gosto de praticar atividades físicas leves, preparar refeições, evitar qualquer tipo de desperdício e acúmulo de coisas desnecessárias”, conta. Ela também gosta muito de viajar, especialmente para lugares cheios de história, natureza e tranquilidade. Seus assuntos favoritos são jardinagem, culinária, história e economia. A cientista é mãe da pequena Angela Sofia, e afirma: “É um desafio enorme conciliar a carreira com a maternidade.”