Confira o artigo de Francilene Garcia, professora da Universidade Federal de Campina Grande e diretora da SBPC, e Mercedes Bustamante, professora da Universidade de Brasília e vice-presidente da ABC para a Região de Minas e Centro-Oeste, para o Correio Braziliense. O texto foi publicado em 24/10.

Recentemente, o país testemunhou manifestações de profundo preconceito em relação ao Nordeste. Prontamente, respostas contundentes destacaram o quanto falas preconceituosas ignoram as enormes contribuições da região para a cultura, literatura, música, gastronomia e história do Brasil.

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Como ocorre em vários países, grande parte dos investimentos em P&D realizados no mundo destina-se às universidades e instituições públicas de pesquisa. No Brasil, da mesma forma, a maior parte da ciência é realizada por alunos de pós-graduação (mestrado, doutorado e pós-doutorado) nas universidades públicas, sob a orientação de seus professores pesquisadores.

A produção de conhecimento científico, portanto, depende diretamente da existência de infraestruturas de pesquisa científica e tecnológica e de processos de gestão (cérebros, equipamentos, insumos, facilidades, governança institucional e mecanismos de investimentos, entre outros). No Brasil, as universidades públicas, federais e estaduais, são as responsáveis por mais de 95% da produção científica.

O Nordeste conta com 20% dos programas de pós-graduação avaliados e reconhecidos no país (MEC/CAPES), cujos pesquisadores são responsáveis por cerca de 20% dos grupos de pesquisa em operação (MCTI/CNPq). Os indicadores crescentes contribuem com a redução das desigualdades regionais e, em boa parte, são resultantes do programa de reestruturação e expansão das universidades federais — o Reuni, instituído em 2007. O Reuni assegurou investimentos nas universidades públicas e contribuiu para a ampliação da oferta de vagas para estudantes — alguns com aspiração de se tornarem jovens cientistas — e do número de grupos de pesquisa com influência direta na capacidade do país de realizar pesquisas em áreas estratégicas. Para regiões como o Nordeste, a ampliação da contratação de jovens pesquisadores nas universidades federais, em geral recém doutores, contribuiu com a formação de novos grupos de pesquisa, motivados a seguir fazendo ciência no Brasil. Em quatro Estados do Nordeste (PE, PB, CE e RN), o percentual de pesquisadores com nível de doutorado está acima da média brasileira que é de 61%.

Os estímulos para a consolidação dos grupos de pesquisa no Nordeste mostrou resultados significativas na produção científica sobre a covid-19 considerando o período entre 2019 e 2021. O maior número de publicações foi da região Sudeste, onde 23 universidades concentraram o quantitativo de 2.253 publicações, seguida pela região Nordeste, com 683 publicações, e pelo Sul, com 526.

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As redes de colaboração reforçam a importância do envolvimento de pesquisadores e de instituições sediadas no Nordeste em temas estratégicos para o Brasil. Da mesma forma, permitem ampliar a presença de temáticas com maior impacto para o Nordeste. Por exemplo, redes de pesquisa contribuem com o monitoramento do processo de desertificação e o sistema de previsão de risco de colapso de safras no Semiárido, com a prospecção do potencial biotecnológico da Caatinga (fármacos, cosméticos, biofungicidas, segurança alimentar), formam a Plataforma Genômica Computacional para fins de sequenciamento genético de amostras coletadas em mulheres grávidas expostas ao vírus zika no Nordeste, desenvolvem a aplicação da técnica do inseto estéril para combate à proliferação do Aedes aegypti; criam embalagens valorizáveis para frutas e ampliam a infraestrutura de fibra óptica na Região Nordeste.

Às manifestações de preconceito arraigado na imagem do “Nordeste de solo rachado e lócus da pobreza extrema por falta de alternativas viáveis”, o Nordeste responde acolhendo uma nova abordagem de desenvolvimento econômico sustentável, dispondo da Ciência, Tecnologia e da Inovação como eixo central de uma política regional que pretende articular de forma mais eficiente e eficaz o enfrentamento de fragilidades legadas e a maior apropriação de oportunidades em áreas de fronteira tecnológica. Esta aposta, decisão política de governos locais, é o caminho que vem inserindo a região na economia do conhecimento.

 

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