Leia o documento publicado em 12/8:

Carta dos Pesquisadores e Professores Eméritos da Fiocruz em Defesa da Saúde, da Ciência e da Democracia 

Causa perplexidade na comunidade científica brasileira a incompreensível tentativa de desmonte das universidades federais e do Sistema de Ciência e Tecnologia de nosso país, arduamente construído desde a fundação, em 1951, do Conselho Nacional de Pesquisas (hoje Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, o CNPq). É lamentável assistir ao contingenciamento das verbas para a ciência, em especial do FNDCT, e testemunhar a situação de penúria a que o governo federal submete nossas principais agências de fomento – a CAPES e o CNPq -, com o corte de verbas para auxílios à pesquisa e concessão de bolsas para pós-graduandos, fragilizando universidades, institutos de pesquisa e a ciência brasileira como um todo. Resultado disso é o grave e irreversível processo de diáspora de nossos jovens pesquisadores para países mais ricos e desenvolvidos que vemos neste momento.

A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em sua recente 74ª Reunião Anual, realizada na Universidade de Brasília, alertou mais uma vez as autoridades sobre a gravidade da situação. Enquanto o Brasil segue na contramão da história, China e Estados Unidos aumentam cada vez mais o financiamento para as atividades de Ciência e Tecnologia e Inovação e, com isso, ficamos cada vez mais distantes das grandes potências mundiais.

Sofremos em nosso país, até o presente momento, com a ocorrência de mais de 34 milhões de novos casos e 680,598 mortes pela COVID-19, que poderiam ter sido evitadas, em sua grande maioria, se medidas adequadas tivessem sido tomadas em tempo hábil pelos governantes. E sabemos que esses números seriam ainda mais dramáticos se não tivéssemos contado com o extraordinário empenho da comunidade científica para a produção de vacinas em nosso país.

Agora vemos a “Monkeypox”, ou a “Nova Varíola”, acometer a população brasileira. E diante de uma potencial nova crise sanitária, mais uma vez as autoridades de saúde postergam decisões adequadas para proteger seus cidadãos e evitar mais um colapso no sistema público.

Entre outras tantas situações igualmente dramáticas, de pobreza, de fome, de desatenção às populações vulnerabilizadas, assistimos nos últimos anos ao criminoso desmatamento da Amazônia, com o progressivo aumento de atividades de mineradoras ilegais em seus rios, com a fragilização da Funai e do ICMBio, o que tem levado, cada vez mais, à ocorrência de doenças e perdas de vidas de nossos povos originários e ribeirinhos, além das repercussões que impactam na vida de todo o País e do planeta.

Esse quadro não para por aí. No momento em que nos preparamos para o pleito de 2 de outubro próximo, nos deparamos com difíceis tentativas de desestabilização das instituições responsáveis pelo processo eleitoral, com a persistente veiculação de informações falsas sobre a segurança das urnas eletrônicas, além de violações da ordem constitucional.esistem e de forma consensual apoiam com veemência o regime democrático, que mais uma vez encontra-se ameaçado. No dia 11 de agosto, a “Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito”, que já atingiu um número significativo de adesões – 1 milhão de assinaturas – foi lido na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) e recebe nosso incondicional apoio.

Sem democracia não há futuro, não há saúde, não há educação, não há ciência.

Não fique fora da História! Participe!

Assinam Pesquisadores e Professores Eméritos da Fiocruz:

Renato Cordeiro
Samuel Goldenberg
Bernardo Galvão de Castro Filho
Arlindo Fábio Gómez de Sousa 
Andre Furtado
Gabriel Grimaldi
Euzenir Nunes Sarno
Francisco Viacava
Maria Cecilia de Souza Minayo
Paulo Marchiori Buss
Akira Homma
Ricardo Ribeiro dos Santos
Alzira Maria Paiva de Almeida
Benjamin Gilbert