Dar um nome é o primeiro passo para compreender. Na biologia, a taxonomia é o campo que se especializa em descrever espécies, delimitando o que identifica os organismos entre si e o que os diferencia do resto dos seres vivos. Entretanto, como diz a frase do célebre biólogo russo Theodosius Dobzhansky, “nada faz sentido exceto à luz da evolução”, e é só a partir dela que conseguimos traçar a relação de parentesco entre as espécies e entender como os organismos mudaram ao longo das eras.
Juntando essas duas áreas, a taxonomia e a biologia evolutiva, temos a sistemática, foco de pesquisas do novo membro afiliado da ABC, Marcelo Trovó. O paulistano de 40 anos é professor do departamento de Botânica da UFRJ e especializado em sistemática vegetal. “Busco conhecer, delimitar, descrever e mapear a biodiversidade brasileira”, explica, lembrando a importância deste trabalho para a conservação. “É sempre mais efetivo traçar estratégias para aquilo que já conhecemos”.
Mas nem sempre o novo Acadêmico pensou em trabalhar com plantas. Antes de optar pela biologia, cogitou cursar oceanografia ou engenharia da pesca. O interesse pelos ecossistemas aquáticos vem desde pequeno, estimulado por programas que assistia no National Geographic e Discovery Channel. Além da televisão, bons professores na escola e no cursinho o colocaram no caminho da ciência. “De alguma maneira eu sempre me interessei por entender como funcionavam as coisas ao meu redor, em especial relacionadas ao mar”, contou.
Mais velho de seis irmãos, Marcelo lembra com carinho da infância em São Paulo. Seus pais sempre o apoiaram, mesmo após a separação, e foram importantes para que ele confiasse em suas próprias escolhas. Foi durante uma conversa com o pai que ouviu o que mais precisava: “Faça algo que goste, independente de promessa de retorno financeiro”. E foi então que ingressou em biologia na Universidade de São Paulo (USP).
“Fiz um curso com professores e recursos excelentes, além de memoráveis trabalhos de campo e atividades em laboratório. Foi um privilégio”, descreve Trovó, que logo no primeiro semestre se encontrou na disciplina Princípios de Sistemática e Biogeografia. “Eu tinha certeza de que gostaria de sistemática zoológica, então resolvi dar uma chance para a vegetal e nunca mais saí”, comentou, ao falar sobre a escolha de estágio.
Seu projeto de iniciação científica foi focado em relacionar padrões morfológicos à distribuição geográfica da sempre-viva-de-mil-flores (Actinocephalus polyanthus), sob orientação do professor Paulo Takeo Sano. O resultado foi tão satisfatório que o novo Acadêmico ingressou direto no doutorado, que completou em 2010, com o mesmo orientador. Além de Sano, Trovó lembra com admiração de Cássio van den Berg e Thomas Stützel, que também o orientaram no doutorado e pós-doutorado. “Foram fases de muito aprendizado, nas quais estive em contato com abordagens científicas diferentes das que eu estava habituado”.
Sobre o título de membro afiliado da ABC, Trovó considera uma grande honra ter sido indicado, em meio a tantos cientistas talentosos. Para ele, representar a botânica, em particular a sistemática vegetal, é uma responsabilidade nos tempos em que vivemos. “Neste momento de crise da biodiversidade e do meio ambiente, além dos seguidos ataques à ciência, refletir e agir para mudar os rumos das políticas ambientais tem se tornado cada vez mais urgente”, avaliou.
No tempo livre, Marcelo passa boa parte das horas ensinando e brincando com os filhos. Gosta de viagens ligadas à natureza – mas sem o trabalho das coletas de campo – e surfa regularmente nas praias do Rio de Janeiro. Em casa, gosta de escutar rock e MPB, acompanha os noticiários para se manter atualizado e é um ávido leitor de biografias e história da ciência.