Quando pensamos em ciência, nossa associação mais imediata – e estereotipada – é com jalecos, laboratórios e experimentos complexos. Mesmo se focarmos nas Humanidades, a imagem mais comum é a do sociólogo, do historiador ou do economista, que se debruçam sobre diferentes aspectos da sociedade para entender de que forma a interação humana transforma o mundo e o coletivo. Mas e se o foco do cientista for a própria interação? E se o cientista for um jornalista?

É o caso de Thaiane Moreira de Oliveira, nova membra afiliada da Academia Brasileira de Ciências. Carioca, mãe de três filhas e apaixonada por viagens e natureza, Thaiane é a primeira pessoa da Comunicação a ingressar na Academia, o que considera um reconhecimento não apenas para si, mas para toda sua área de conhecimento. Ela acredita que o grande desafio dos comunicólogos na atualidade é lidar com a desinformação e quer engajar a ABC nesse debate.

Preocupada desde cedo com as mazelas sociais do Brasil, Thaiane lembra que a experiência de trocar uma escola católica por um colégio público foi um divisor de águas em sua vida. Nesse novo ambiente, teve a chance de presenciar a realidade brasileira para além do Méier e Ipanema, onde passou a infância.

Filha de pai engenheiro e mãe jornalista, Thaiane é a segunda de seis irmãos. A irmã mais velha também se formou em jornalismo e essa influência familiar fez com que a nova Acadêmica escolhesse o caminho a seguir. “Eu era uma adolescente curiosa sobre a sociedade e sempre soube que escolheria alguma das ciências humanas. Mas houve uma época em que eu não sabia qual delas”, contou.

Durante o período de incerteza, ela aproveitou para tentar diferentes cursos e aulas e avalia que essa experiência foi crucial para se tornar uma profissional interdisciplinar, algo fundamental tanto na ciência quanto no jornalismo. “Admiro a capacidade que o conhecimento especializado tem de se complementar quando entra em contato com outras áreas”, refletiu.

Na graduação, realizada na Universidade Estácio de Sá, ela conta que não teve muitos incentivos para seguir a carreira acadêmica, mas que ouviu o “chamado da ciência” através da professora Rejane Matos, durante o curso de Teoria da Comunicação. “Logo na primeira aula, conheci diferentes perspectivas teóricas que marcaram o campo da Comunicação e foi aí que explodiu em mim a vontade de fazer pesquisa”.

Já na pós-graduação, realizada na Universidade Federal Fluminense, com um período na Universidade de Uppsala, na Suécia, Thaiane se envolveu com editoração de periódicos científicos, onde começou a fazer perguntas sobre métricas de avaliação e políticas científicas. “Trabalhar num periódico científico, para mim, era uma forma de fazer com que mais pessoas tivessem acesso ao conhecimento”, explicou, lembrando também da experiência que teve com eventos científicos e as trocas que estes possibilitam.

O conhecimento multidisciplinar, tão marcante em sua trajetória, é indispensável para compreender o fenômeno contemporâneo das fake news. Para combatê-lo é necessário incluir cada vez mais atores nas discussões públicas – e a ciência precisa entender que este também é seu papel. Para Thaiane, não é uma iniciativa sozinha que resolverá este problema. “É preciso entender as dinâmicas sociais, culturais, políticas e econômicas por trás e elaborar estratégias comunicacionais e educacionais com base em evidências científicas”.

Mas a paixão pela sua ciência não ofusca uma consciência crítica do papel que esta exerce na sociedade. Enquanto muitos enxergam o caráter fragmentado da Comunicação como um problema, Thaiane o vê como uma oportunidade de dialogar com diferentes saberes. “Ciência sozinha não soluciona nada, mas oferece subsídios para o processo de decisão política. Para isso é necessário comunicar os resultados das pesquisas para a sociedade. É isso que me encanta na minha área, a Comunicação.”