Quando alunos da PUC-Rio convidaram o professor Simon Griffiths para dar uma palestra num evento da graduação, ele pensou sobre qual seria a mensagem mais importante a ser passada para os jovens estudantes de matemática e decidiu: “Ser curioso”.

O novo membro afiliado da ABC, nascido no ano de 1983 na cidade portuária de Poole, na Inglaterra, a 182km de Londres, passou a usar esse texto para incentivar os alunos: “Já temos muito conhecimento sim. Mas nem na ciência, nem na vida, temos todas as respostas. Por isso, precisamos continuar curiosos!”

Simon começou a se interessar pela matemática muito cedo. Sua habilidade para decorar números chamava atenção dos familiares mais próximos. “Minha mãe conta que eu já queria aprender todos os números aos três anos”, relembra. Morando em Wimborne, uma cidade mercantil a 8km de sua cidade natal, ele teve uma infância tranquila, jogando futebol e frequentando a praia de Sandbanks no verão. Nos anos seguintes, o jovem se tornou um dedicado estudante da matemática, além de ter interesse pelo Universo e pelos planetas. No ensino médio, era também um apaixonado pela física e pela economia.

Nessa fase da infância, ele conta que não tinha muito orgulho “em ser o cara bom em matemática, mas acho que sempre foi uma parte da minha identidade”, avalia Griffiths. Seus pais sempre o incentivaram, chegando, inclusive, a levá-lo para visitar o planetário em Londres quando ele tinha cinco anos. Seu pai tinha experiência com computadores e explicou a ele sobre outros sistemas numéricos, como o binário e hexadecimal. Filho mais velho, Simon tem um irmão formado em direito. E acha que foi só na faculdade que começou a entender o que a matemática realmente é.

Ele cursou a graduação, mestrado e doutorado em matemática na Universidade de Cambridge, no Reino Unido. As aulas com o prestigiado matemático Imre Leader o impressionaram, porque ele se esforçava muito para encontrar a melhor maneira de explicar suas ideias nas aulas. Griffiths trabalhou com Leader no doutorado, tendo vislumbrado um outro lado do renomado professor: “Ele fez o máximo para encorajar minha independência como pesquisador.  Aproveitei de discussões com ele e mini-seminários que ele promovia, com outros alunos.”

Em 2010, Griffths veio pela primeira vez para o Brasil, onde permaneceu por três anos para um estágio de pós-doutorado no Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa). A experiência, segundo ele, foi ótima: “Parecia um sonho”, comenta o Acadêmico. “O clima morno, tropical, era muito mais agradável que o clima do meu país natal, Inglaterra, ou Canadá, onde passei dois anos e cursei meu primeiro pós-doutorado.” Após concluir o período no Impa, o Acadêmico foi para a Universidade de Oxford, onde fez um terceiro estágio de pós-doutorado. Durante esse tempo, sentiu saudades do Brasil e passou a visitar o país com frequência, todos os anos.

Dividido entre o Reino Unido e o Brasil, Griffiths refletia muito sobre seus próximos passos na carreira. Em 2015, uma vaga na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro chamou sua atenção e ele decidiu: era o momento de voltar para o Brasil. Aprovado no processo seletivo, teve que enfrentar seus primeiros desafios como professor – e não mais como pós-doutorando – e também as diferenças linguísticas. Seis anos após ter sua primeira turma na PUC-Rio, o matemático coleciona feitos de destaque em sua carreira, como a co-autoria do artigo The chromatic thresholds of graphs, pelo qual recebeu o prêmio Fulkerson, patrocinado pela Mathematical Programming Society (MPS) e pela American Mathematical Society (AMS), em 2018.

“Redes exercem um papel fundamental no mundo atual, incluindo a internet, as redes sociais, as redes de comunicação, as redes neurais artificiais e até o cérebro humano. Na matemática, a teoria de grafos é o estudo abstrato de tais redes”, explicou Griffiths. Esta teoria, segundo ele, estuda as relações entre os objetos de um determinado conjunto, que inclui também o estudo de outras estruturas discretas, como hipergrafos e soluções de sistemas de equações lineares.

Sua pesquisa está focada principalmente nas áreas de combinatória e probabilidade, em particular, os problemas em que é necessário entender a evolução de processos aleatórios no contexto de grafos. “Na área de combinatória, em particular, existem muitos problemas que são elementares e ao mesmo tempo profundamente difíceis.  São problemas que podem ser descritos para crianças, mas que nenhum matemático do mundo sabe resolver.” Segundo ele, a possibilidade de descobrir algo completamente novo e aprofundar o conhecimento é um ponto de atração importante da ciência.

O novo membro afiliado da ABC afirma estar muito honrado com o título e demonstrou interesse em se aprofundar na área de popularização da ciência, na qual ainda não tem experiência. “Como muitos professores, criei vídeos durante a pandemia e espero que seja possível usar essa experiência para desenvolver mais conteúdo relacionado à popularização”, relata o pesquisador.

Para Simon Griffiths, uma das grandes vantagens da vida acadêmica é ter oportunidade de viajar bastante e, com isso, fazer novos amigos e estabelecer colaborações em projetos. Pessoalmente, ele gosta mesmo é de música. Um carioca de coração, ele afirma que o melhor gênero musical ao vivo no Rio é o samba. “Eventos como a roda de samba da Pedra do Sal são incríveis”, comenta o novo Acadêmico, reafirmando a ideia de que matemática e música – ciência e arte -, andam juntas.