No dia 8 de julho, ocorreu o evento que marcou a abertura oficial do Ano Internacional das Ciências Básicas para o Desenvolvimento Sustentável (IYBSSD2022, na sigla em inglês), na sede da Unesco, em Paris. O evento reuniu ministros responsáveis pela pesquisa científica, ensino superior e inovação para debater com cientistas sobre a importância das ciências básicas para enfrentar os desafios impostos pela Agenda 2030 e seus 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Considerado um passo importante na jornada que cientistas, cidadãos e formuladores de políticas farão juntos ao longo desta década, o debate buscou garantir que a ciência básica auxilie na busca de um desenvolvimento mais sustentável em todo o mundo.

Os Acadêmicos Serge Haroche (membro correspondente) e Mercedes Bustamante (vice-presidente regional da ABC para a região MG e CO) participaram da cerimônia, compartilhando novas perspectivas relacionadas às suas áreas de estudo. Bustamante participou da mesa de debate “Perspectivas sobre Ciências Básicas e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”, onde discorreu sobre ciência básica e as questões de ecologia e biodiversidade,  fundamentais para atingir os objetivos de sustentabilidade. A professora da Universidade de Brasília chamou atenção para a situação do Cerrado, segundo maior bioma do Brasil, cujo coração fica concentrado na capital do país. “Quando avaliamos os 17 objetivos de desenvolvimento sustentável, é essencial lembrar que os objetivos baseados na biosfera sustentam os objetivos sociais e econômicos”, comentou a cientista. “Nesse contexto, as questões fundamentais da ecologia enquanto ciência são centrais para o avanço da agenda da sustentabilidade. Como os organismos interagem uns com os outros e com o meio ambiente, a dinâmica da mudança ambiental e as interações entre ecologia e evolução é conhecimento básico, necessário para responder questões aplicadas críticas para a gestão dos ecossistemas naturais e dos bens e serviços que eles fornecem.”

Embora as evidências sugiram uma relação positiva entre a biodiversidade e o funcionamento do ecossistema, poucos estudos abordam os ecossistemas tropicais com os mais altos níveis de biodiversidade. Bustamante destaca a urgência de mais pesquisas sobre as regiões tropicais, de foram a apoiar os esforços mundiais para alcançar a sustentabilidade ambiental, diante das crescentes taxas de extinção. “Até agora, não descrevemos mais de 10% de plantas e animais tropicais e, com as taxas atuais de descoberta, a maioria provavelmente já terá desaparecido antes de tomarmos conhecimento de sua existência”, explicou a pesquisadora. 

Além da pesquisa científica, Bustamante destaca que todo tipo de conhecimento deve ser valorizado e respeitado, e cita como exemplo os povos indígenas. Apesar de representarem hoje apenas 5% da população, os indígenas protegem cerca de 22% da superfície do planeta, 80% da biodiversidade restantes e 90% da diversidade cultural global. O apoio financeiro de investigações científicas básicas não pode ser considerado um gasto e sim  um investimento para o futuro, capaz de gerar conquistas significativas a longo prazo. “Estudos científicos fundamentais sobre biodiversidade e ecossistemas podem abrir caminho para sociedades sustentáveis, fornecendo o conhecimento para vincular a saúde e a integridade ambiental ao bem-estar humano”, concluiu a cientista.

Com múltiplas ideias apontadas em diversos campos científicos, o evento mostrou aos diversos atores que o conhecimento pode reconfigurar as trajetórias de desenvolvimento. “A expectativa é que as atividades para destacar o papel da ciência básica para o cumprimento dos ODS sejam intensificadas nos países participantes”, afirma Bustamante. Para a cientista, a experiência foi muito enriquecedora por permitir que diferentes perspectivas fossem apresentadas e também por propor uma reflexão sobre sobre discussões similares que podem ser conduzidas em âmbito nacional ao longo do Ano Internacional. “Esse conjunto de ações a serem desenvolvidas irá gerar importantes subsídios para a interface ciência-política em âmbito global.” 

Veja a programação completa no site do IYBSSD2022.