Na noite do dia 4 de maio foi realizada cerimônia conjunta da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
A Sessão Solene envolveu a entrega do Prêmio Almirante Álvaro Alberto para a Ciência e Tecnologia 2022; a concessão de títulos a pesquisadores eméritos, pelo CNPq, e da Menção Especial de Agradecimentos; a diplomação dos novos membros titulares e correspondentes da ABC e a posse da nova Diretoria da Academia Brasileira de Ciências, sob o patrocínio da Fundação Conrado Wessel.
Compuseram a mesa o ministro de Estado da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), Paulo César Rezende de Carvalho Alvim; o presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Luiz Davidovich; o presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o Acadêmico Evaldo Ferreira Vilela; o diretor-geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha do Brasil, almirante-de-esquadra Petronio Augusto Siqueira de Aguiar; o presidente da Diretoria Executiva da Fundação Conrado Wessel (FCW), Acadêmico Erney Felício Plessmann de Camargo; a vice-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Fernanda Sobral; o presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro Carlos Chagas Filho (Faperj) Jerson Lima Silva e o presidente do Conselho Nacional de Secretários Estaduais para Assuntos de CT&I (Consecti), Rafael Pontes Lima.
Abertura das homenagens do CNPq
O Acadêmico Evaldo Vilela, presidente do CNPq, agradeceu, em nome de todos os brasileiros, aos cientistas – que são tão importantes para a nossa sociedade. “O CNPq hoje outorga hoje os títulos de pesquisador emérito e as menções de agradecimento a alguns pesquisadores e instituições comprometidas com a produção de ciência de excelência”, apontou.
Ele cumprimentou o prof. Jailson Bittencourt, que recebeu na ocasião o prêmio que tem o nome do Almirante Álvaro Alberto, “um visionário, que desenhou uma estrutura central de fomento para a ciência brasileira, criando o CNPq”. Agradeceu ainda o apoio da Fundação Conrado Wessel nessa premiação e a parceria com a ABC, que possibilitou este ano a realização do Simpósio Comemorativo dos 70 Anos do CNPq e da imperdível REVISTAq. Agradeceu, ainda, a ativa atuação de Helena Nader no Conselho Deliberativo do CNPq, ao cumprimentá-la pelo novo cargo.
Vilela ressaltou que, “nesse cenário desafiador que o mundo enfrenta, nos empenhamos na busca por mais recursos para pesquisa no país. O esforço que permitiu a liberação do FNDCT, que irrigou a ciência brasileira este ano, tem que continuar. Estamos conseguindo cumprir nossos compromissos com os INCTs , o programa RHAE e a Chamada Universal”, relatou.
Pensando no desenvolvimento do país, segundo Vilela, o CNPq está investindo numa ciência mais colaborativa e estratégica. “Estamos lançando uma chamada especial para as ciências humanas e sociais, dentro da ideia da ciência orientada à missão. O presidente do CNPq afirmou que a ciência brasileira tem feito grandes realizações com orçamento limitado. “Agora, temos a confiança de que vamos conseguir distribuir mais recursos – não é o bastante, mas vão apoiar diversos laboratórios.”
Menção Especial de Agradecimentos
Essas homenagens, concedidas anualmente pelo CNPq, representam um reconhecimento da significativa contribuição de instituições, personalidades e pesquisadores para o desenvolvimento, o aprimoramento e a divulgação do Conselho.
A primeira Menção Especial foi para a Amazon Web Services, plataforma de nuvem mais adotada do mundo, que firmou parceria com o CNPq, em 2019, para oferecer a pesquisadores brasileiros a oportunidade de utilizar créditos promocionais em projetos científicos em diversas áreas que utilizam serviços de computação em nuvem. Em nome da empresa, receberam a homenagem os diretores Rubem Saldanha e Paulo Cunha.
A outra homenageada foi a Fundação Conrado Wessel, representada pelo seu diretor-presidente, Acadêmico Erney Camargo. A FCW, fundada em 1994, tem como um dos objetivos fomentar a arte, a ciência e a cultura por meio da concessão do Prêmio Conrado Wessel e foi importante parceira do CNPq no Prêmio Almirante Álvaro Alberto.
Daniel Elias, presidente da Petrogal Brasil S.A., representou a empresa e recebeu a terceira Menção Especial da noite. Pioneira no desenvolvimento do pré-sal através do Campo Tupi, a Petrogal é o terceiro produtor de petróleo e gás do Brasil, e mantém importante parceria com o CNPq em chamadas para oferecer bolsas visando à formação internacional de pesquisadores em áreas de interesse para a indústria de petróleo, gás e engenharias.
Finamente, foi concedida in memoriam a Menção Especial ao físico Ronald Cintra Shellard, representado por sua esposa Maria Elisa da Costa Santos Shellard. Importante nome da física no Brasil, Ronald Shellard faleceu em dezembro de 2021, quando ocupava o cargo de diretor do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), de onde era pesquisador titular. Era bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq e membro titular da Academia Brasileira de Ciências.
Título de Pesquisador Emérito do CNPq
O reconhecimento é destinado a pesquisador brasileiro ou estrangeiro, radicado no Brasil há pelo menos dez anos, pelo conjunto de sua obra científico-tecnológica e por seu renome junto à comunidade científica. Foram homenageados esse ano:
- Chang Chung Yu Dorea, professora titular do Departamento de Matemática da Universidade de Brasília
- Kabengele Munanga, antropólogo congolês, naturalizado brasileiro, professor titular da USP
- Norma Catarina Bueno, bióloga, professora associada da Unioeste (PR)
- O Acadêmico Marco Antonio Zago, presidente da Fapesp, também foi homenageado, mas esteve impossibilitado de comparecer ao evento.
- Ruy de Araujo Caldas, professor de diversas universidades brasileiras, tem contribuído na formulação de políticas públicas e execução de programas estratégicos em ciência, tecnologia e inovação nos ambientes do CNPq, MCTI, CGEE e FAP-DF.
- Foi homenageado in memoriam o Acadêmico Oswaldo Luiz Alves, professor titular da Unicamp. Reconhecido como um dos pioneiros da nanotecnologia no país, faleceu em julho de 2021. Recebeu o título em nome dele o professor Ítalo Odone Mazali.
Prêmio Almirante Álvaro Alberto para a Ciência e Tecnologia
Em 1981 foi criado o Prêmio Nacional de Ciência e Tecnologia, alterado em 1986, quando passou a ser denominado Prêmio Almirante Álvaro Alberto para Ciência e Tecnologia, uma parceria entre o MCTI, o CNPq a Marinha do Brasil. É a mais importante honraria em ciência e tecnologia do Brasil, atribuído ao pesquisador ou pesquisadora que tenha se destacado pela realização de obra científica ou tecnológica de constituindo reconhecido valor para o progresso de sua área.
O prêmio contempla, alternadamente, uma grande área do conhecimento por ano: ciências humanas e sociais, letras e artes, ciências da vida e ciências exatas, da Terra e engenharias, foco da edição de 2022. Ao agraciado é concedido um diploma e uma medalha do CNPq, MCTI e Marinha; premiação em espécie concedida pelo CNPq; visita ao Centro Experimental Aramar, em Iperó, São Paulo, do Programa Nuclear da Marinha, e uma viagem à Antártica, oferecidas pela Marinha do Brasil.
O agraciado com a honraria, em 2022, foi o químico Jailson Bittencourt de Andrade. Professor aposentado da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e atuante no Centro Universitário Senai/Cimatec, Jailson Bittencourt é um importante nome da pesquisa brasileira, desenvolvendo pesquisas em química inorgânica, analítica, ambiental, de energia e combustíveis. Bolsista de produtividade em pesquisa 1A do CNPq, ele coordena, atualmente, o INCT em Energia e Ambiente do programa Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia do CNPq/MCTI, e o Estudo Multidisciplinar da Bahia de Todos os Santos – Projeto Kirimurê, planejado para durar 30 anos que no momento está no 15º ano, sem interrupção.
Licenciado, bacharel e mestre em química UFBA e doutor em Ciências pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), realizou estudos de pós-doutoramento no Laboratório Nacional Brookhaven, em Nova Iorque, nos Estados Unidos. Recebeu a Ordem Nacional do Mérito Científico do Governo Brasileiro em 1998, no grau Comendador, e em 2009, no grau Grã-Cruz. Recebeu a Medalha Fritz Fiegl, em 2004, do Instituto de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IQ-UFRJ), e, em 2013, deu nome a um novo laboratório na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), o Laboratório de Cromatografia Prof. Dr. Jailson Bittencourt de Andrade. Além disso, recebeu a inédita medalha dos 70 anos da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC –RJ), instituição na qual fez o doutorado. É membro da da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), da Sociedade Americana de Química (ACS, na sigla em inglês) e da Royal Society of Chemistry do Reino Unido. Recebeu a Medalha Simão Mathias da Sociedade Brasileira de Química (SBQ), que presidiu. Em 2016, foi criado o Prêmio Química Nova Interativa “Jailson Bittencourt de Andrade” pela SBQ, conferido a professores e estudantes que tenham contribuição original e criativa para a formação de químicos de todas as áreas, sob forma de texto, experimento, vídeo, música ou imagem. É membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC), da qual foi vice-presidente para a região Nordeste e Espírito Santo na última diretoria da ABC.
Após a entrega dos prêmios, Andrade recebeu ainda das mãos do almirante-de-esquadra Petronio o Farol, tradicional honraria da Marinha do Brasil, simbolizando a luz que emana o conhecimento.
Agradecendo as homenagens, Andrade focou seu discurso no que considera uma das maiores ameaças à população brasileira hoje: o mercúrio (Hg). É uma ameaça que se propaga pelo ar atmosférico, seja na forma de vapor como também associada ao material particulado atmosférico inalável, que atinge a região alveolar dos pulmões e entra diretamente na corrente sanguínea. “O Brasil não produz mercúrio, mas toneladas deste elemento são ‘importadas’ de vários países, especialmente, dos continentes americano e europeu. A contaminação por Hg no nosso país atinge os organismos vivos, solo, água e sedimento e está em todos os compartimentos”, alertou Andrade.
Ele apelou para que o ministro Paulo Alvim lidere os demais ministérios, em especial o Ministério de Relações Exteriores, no apoio a um amplo estudo, em todo o território nacional, sobre o mercúrio e o seu impacto no ambiente e nos seres vivos. Sugeriu também que a Academia Brasileira de Ciências lidere a elaboração de um grande programa de pesquisas sobre o mercúrio, “de modo que possamos ter uma visão ampla de como a substância está afetando todo o país. Este programa precisa ir além da ciência, propondo desafios tecnológicos e inovadores para a mitigação dos impactos, exaltou Andrade.
Em resumo, destacou que estamos numa situação crítica e somente com ações articuladas de educação, ciência, tecnologia e inovação poderemos entender esta ameaça e propor ações mitigadoras.
Diplomação dos novos membros da Academia Brasileira de Ciências
Eleitos na Assembleia Geral de 2 de dezembro de 2021, receberam seus diplomas na cerimônia:
MEMBROS TITULARES
Ciências Matemáticas
Robert David Morris
Ciências Físicas
Débora Peres Menezes
Marcelo Knobel
Ciências Químicas
Adriano Defini Andricopulo
Liane Marcia Rossi
Ciências da Terra
Fernando Flecha de Alkmim
Ciências Biológicas
Ana Tereza Ribeiro de Vasconcelos
Ciências Biomédicas
Fabrício Rodrigues dos Santos
Thereza Christina Barja Fidalgo
Ciências da Saúde
Ester Cerdeira Sabino
Ciências Agrárias
Fatima Maria de Souza Moreira
Ciências Sociais
Claudia Lee Williams Fonseca
MEMBROS CORRESPONDENTES
Angela Villela Olinto
Saiba mais sobre todos os membros eleitos em 2021
Homenagem aos membros falecidos em 2021
Foi feito um minuto de silêncio pelos membros que a ABC perdeu no ano anterior. Confira aqui seus nomes e perfis resumidos.
Saudação aos novos membros
A Acadêmica Lucia Mendonça Previato, que até aquela data era vice-presidente regional da ABC para o Rio de Janeiro, saudou os colegas então diplomados. Ela destacou que o momento exige muito da ciência, exige muito dos cientistas. Os membros eleitos para a ABC são e serão cobrados por sua liderança, que deve visar a promoção da qualidade científica e o avanço da ciência brasileira, buscando contribuir para implementação de políticas científicas que diminuam a desigualdade social que atinge a nossa população.
Por outro lado, Previato apontou que nos últimos anos, os órgãos públicos demonstraram posições contra a ciência, pois não deram prioridade aos investimentos em ciência, tecnologia, inovação, educação, cultura, saúde, que são os pilares necessários para a prosperidade de um país. Pelo contrário, os cortes de recursos se sucederam.
Ela citou Gilberto Gil, que em sua posse na Academia Brasileira de Letras comentou que os artistas têm sido hostilizados pelo governo. “Eu incluo os educadores, os professores, os cientistas, os cientistas das ciências sociais, os profissionais da saúde”, declarou Previato.
A pesquisadora se perguntou: o que fazer? Respondendo à própria pergunta, argumentou: “Devemos continuar buscando avanços em ciência e inovação, em educação e em proteção ambiental. Continuar mostrando que o apoio governamental e o privado, através do investimento robusto e adequado em ciência, tecnologia, inovação, educação, cultura, saúde, é crucial para a soberania do Brasil e para a redução da desigualdade social”.
Ela se declarou confiante de que esta tarefa será cumprida “porque temos vocês. Vocês, cientistas brilhantes e comprometidos, serão responsáveis por estas conquistas”. Diante do avanço da inovação tecnológica atual, Previato ressaltou que não é possível o Brasil se sujeitar a vieses políticos. “Ficaremos para trás”, destacou.
Por fim, disse que lhe restava plagiar Lygia Fagundes Telles: “Não cortaremos os pulsos, ao contrário, costuraremos com linha dupla todas as feridas abertas”.
Agradecimento dos novos membros
O Acadêmico Marcelo Knobel falou em nome dos diplomados. Destacou que ser eleito pelos pares e pertencer à Academia Brasileira de Ciências é motivo de muito orgulho para cada um que ali estava, a coroação de uma vida acadêmica de sucesso, sempre trilhada com muito esforço, resiliência e dedicação. “Mas participar desta Academia é muito mais do que um reconhecimento pessoal, é a responsabilidade de contribuir ainda mais para o desenvolvimento e fortalecimento da ciência brasileira, promovendo um engajamento cada dia mais próximo com a sociedade”. Esse engajamento público, segundo Knobel, é cada vez mais necessário. “Como indica o título da Reunião Magna deste ano ‘O Futuro é Agora’, precisamos agir urgentemente para que a humanidade possa sonhar em ter um futuro”, alertou.
De fato, vivemos em tempos sem precedentes. Knobel enfatizou que as chamadas “desordens de informação” prosperam com o aumento da entropia da Internet, com a falta de compreensão do raciocínio científico e com a crise que os meios de comunicação tradicionais enfrentam, entre outros fatores. “As mentiras parecem viajar mais depressa do que a verdade, e muitas vezes é até difícil distinguir entre a realidade e as notícias falsas”, declarou o físico.
Em sua percepção, todos observamos, quase silenciosamente, os ataques e cortes de recursos impostos a cientistas, artistas, intelectuais, universidades, organizações não governamentais e centros de pesquisa. “A nossa voz, a voz da ciência, no que se refere à urgência de enfrentar os desafios globais, é praticamente inaudível pela sociedade em geral. A falta de resposta enfática à desinformação científica e ambiental vai nos enfraquecer e a nossa atuação na produção de de moções e manifestos servirá apenas para dizer, no futuro: ‘nós avisamos!’”
Marcelo Knobel fez então uma chamada à ação: “Tenho certeza de que nós, os novos acadêmicos que tomam posse hoje, com a liderança da professora Helena Nader, que também está sendo empossada hoje, participaremos ativamente nesta missão de ampliar a voz da ciência, para que possamos ter um futuro em um mundo habitável, com menos desigualdades e com mais harmonia.”
A despedida do presidente
“Esta é uma noite de festa, de celebração. Celebramos a ciência brasileira, através do Prêmio Álvaro Alberto e da posse de uma nova Diretoria e dos novos membros da ABC”, apontou o presidente da ABC, Luiz Davidovich. Ele declarou que, após 18 anos na Diretoria da ABC, sendo que nos últimos seis anos na qualidade de presidente, estava se despedindo da função. “Faço-o com a alegria de ter usufruído da companhia de colegas de Diretoria que compartilham ideias e valores. Enfrentamos, juntos e unidos, neste último mandato, desafios de toda ordem: cortes de recursos para a ciência, negação da evidência científica, perseguição de pesquisadores, ataques às universidades públicas e ameaças à democracia. Essa luta conjunta cimentou entre nós uma amizade profunda, acredito que essa convivência mudou cada um de nós”.
De acordo com Davidovich, a adversidade da pandemia não desestimulou a ABC – pelo contrário, fortaleceu-a. Os relatórios de atividades da ABC descrevem as ações da Academia neste último mandato, no plano nacional e no internacional. Webinários semanais trouxeram para a sociedade a palavra da ciência. Documentos, vários deles elaborados com outras organizações, procuraram enfatizar o valor da ciência, da ética, da solidariedade e da democracia diante da pandemia que ceifou centenas de milhares de vidas. Foi publicada uma série de revistas, sob a coordenação de Jailson de Andrade, sobre o FNDCT, sobre desafios para a ciência e a inovação no Brasil, e também com recomendações de políticas públicas em CT&I para os candidatos à Presidência do Brasil e ao Parlamento.
“Aos jovens, digo e repito que o Brasil possui fantásticas oportunidades, na biodiversidade, nos recursos hídricos, em minérios importantes para a indústria, na estrutura de apoio à pesquisa construída ao longo de décadas, na rede de universidades públicas que concentram mais de 90% das pesquisas realizadas no país”, destacou Davidovich. “Um projeto nacional consistente, com mudança nas atuais agendas econômica e social e investimentos crescentes em ciência, inovação e educação de qualidade, permitirá transformar essas oportunidades em riqueza para toda a população. Esse é o nosso desejo, essa é a nossa luta.”
Ele agradeceu a todos que contribuíram para as atividades da ABC e aos parceiros na luta diária pela ciência, tecnologia e inovação e pela democracia. “Passo o bastão da Presidência para a colega Helena Nader com grande alegria e tranquilidade. Como vice-presidente da ABC, ela me brindou com um companheirismo e um apoio fundamental. Já era tempo da ABC ter uma presidente mulher, mas a Helena não foi eleita por isso e sim pelas suas qualidades de cientista, de liderança e de militante da ciência. Tenho certeza que ela conduzirá a Academia com combatividade, coragem, sabedoria e criatividade.”
Nova presidente se apresenta
A biomédica Helena Bonciani Nader, eleita na Assembleia Geral Ordinária de 29 de março para presidir a Academia Brasileira de Ciências pelo triênio 2022- 2025, assumiu a presidência na noite de 4 de maio. Em seu discurso, agradeceu aos colegas de Diretoria, com quem conviveu como vice-presidente nos últimos três anos, e apresentou a nova Diretoria, esta composta por oito homens e cinco mulheres, todos grandes cientistas, diversos também nas áreas de pesquisa e nas regiões do Brasil em que atuam. “Esperamos contar com o apoio de cada membro titular, afiliado e colaborador para que se cumpra a missão final da ABC: ciência e educação para o benefício de todos. Precisamos mostrar claramente para a sociedade e governos que políticas de educação, ciência, tecnologia e inovação são políticas de Estado e de longo prazo”, ressaltou.
Nader lembrou que o desenvolvimento sustentável foi definido pelas Nações Unidas como aquele que atende às necessidades do presente, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de atender às suas próprias necessidades. Ressaltou que para que o desenvolvimento sustentável seja alcançado, é fundamental harmonizar os aspectos sociais, econômicos e ambientais, que estão interligados e são cruciais para o bem-estar dos indivíduos e das sociedades. “A ABC entende que todos os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 proposta pela ONU, da qual o Brasil é signatário, envolvem muita ciência e nossa participação nessa agenda é fundamental”, declarou.
A pesquisadora destacou que, de acordo com a ciência, essa talvez seja a última grande chance de transformar nossa história, uma janela de oportunidade única. Isso porque as projeções demográficas das Nações Unidas indicam que, a partir de 2070, a maioria da população brasileira estará com idade igual ou superior a 65 anos. “Temos, então, um período de cerca de 40 anos pela frente na pirâmide demográfica. É urgente investir na educação de qualidade em todos os níveis, para alcançarmos uma sociedade justa e comprometida com os direitos humanos – pacto internacional do qual o Brasil, inclusive, foi um dos primeiros signatários”, observou Nader.
Ela manifestou sua solidariedade às famílias de mais de 664.000 brasileiros que perderam a vida em função da covid-19 e ao povo yanomami, assim como a todos os demais povos indígenas que vêm sofrendo as mais diversas violências e violações de direitos. Alertou que a interlocução da ABC com os diferentes atores deverá ser ampliada, em especial, junto aos diferentes ministérios e parlamento, “pois educação, ciência, tecnologia e inovação são os motores do desenvolvimento sustentável, com inclusão e justiça social, cuidado ambiental, crescimento econômico para todas as brasileiras e todos os brasileiros de forma equânime.”
Posse da nova Diretoria da ABC e encerramento
Eleita para atuar no triênio 2022-2026, outorgada por Davidovich todos os novos membros da Diretoria assinaram o termo de posse, seguidos por Davidovich e Nader.
Encerrando a cerimônia, o ministro de Estado da Ciência, Tecnologia e Inovações, Paulo Alvim, cumprimentou os novos membros e a nova Diretoria da ABC. Em seu discurso ele apontou ser aquele um evento de celebração da ciência “e, como todo evento da ABC, é também um evento de reflexão. Ouvi aqui algumas palavras-chave e gostaria de destacar uma: “sempre juntos”, conceito reforçado na pandemia, pois a ciência trouxe a solução, sempre com foco no coletivo”.
Alvim afirmou que todos os presentes naquele evento eram a favor da ciência, “mas temos muito a fazer pela ciência”. resaltou que avanços estão sendo conseguidos – em 2022, conseguiu-se a execução do FNDCT. “Isso não perderemos mais, mas para seguir nesse caminho, precisamos nos manter unidos. Precisamos dar visibilidade à ciência comprometida que existe nesse Brasil. Nosso desafio é construir uma nação desenvolvida, inclusiva e sustentável. E não existe solução sem ciência, tecnologia, inovação e educação.”