Morto em julho deste ano, o professor da Unicamp e Acadêmico foi homenageado pela Sociedade Brasileira de Química com a criação do Prêmio Oswaldo Luiz Alves. O Prêmio será concedido anualmente “a indivíduos ou instituições que se destacaram na defesa da ciência, na difusão e na disseminação do conhecimento científico em prol da sociedade brasileira, num dado período abrangido e analisado”. O diretor da Divisão de Química de Materiais da SBQ, Italo Odone Mazali, em texto publicado no Boletim da instituição, afirmou que se trata de “uma forma de reconhecimento e homenagem perene ao legado construído pelo Prof. Oswaldo em mais de 50 anos de dedicação à ciência brasileira”.

Pioneiro na área de nanotecnologia e com pesquisas mundialmente reconhecidas na área da química do estado sólido, o professor Oswaldo Luiz Alves foi presidente da SBQ e membro do seu conselho consultivo por vários anos. Em 2018, foi homenageado com a Ordem Nacional do Mérito Científico por seus relevantes serviços prestados à ciência e tecnologia. Em webinário em sua memória, organizado em agosto deste ano pela Academia Brasileira de Ciências, da qual era vice-presidente, o químico da Unicamp foi lembrado como amante de sua profissão, da família e do jazz, e por ter deixado um legado de inovação, perseverança e, sobretudo, cumplicidade e afeto com os colegas de laboratório.

Oswaldo Luiz Alves foi o responsável por introduzir no Brasil os estudos sobre química em estado sólido, com a criação da primeira disciplina ligada ao tema e, posteriormente, do Laboratório de Química do Estado Sólido (LQES) na Unicamp. Não sem enfrentar resistências: “Quando introduzimos a rubrica Química do Estado Sólido (QES), o fato causou, num primeiro momento, alguma confusão e muita resistência. Havia certa hesitação em reconhecer o caráter químico de uma área tão estreitamente ligada à Física do Estado Sólido e à Cristalografia. A hesitação ainda persiste por parte dos especialistas em moléculas em solução. Essa situação não é, entretanto, exclusiva do Brasil. Na França, por exemplo, a QES também causou o mesmo impacto em meados dos anos 70”, escreveu ele sobre a criação do LQES. A ousadia para transitar entre química e física resultou em projetos na área de vidro, papel e comunicação óptica.

A primeira edição do prêmio foi para Luiz Carlos Dias

O professor Oswaldo também dava especial importância à divulgação de ciência, o que se traduzia em um prazer especial em dividir o conhecimento, característica compartilhada pelo Acadêmico Luiz Carlos Dias, também professor do Instituto de Química da Unicamp. A ele coube a primeira outorga do Prêmio Oswaldo Luiz Alves.

Em formato remoto, a cerimônia de entrega do Prêmio aconteceu durante a 44ª Reunião Anual da SBQ, no dia 24 de novembro. De acordo com o docente da Universidade Federal do Ceará e secretário-adjunto da Sociedade Brasileira de Química (SBQ), Luiz Gonzaga de França Lopes, a escolha de Luiz Carlos Dias deveu-se a seu trabalho na defesa da ciência e na difusão do conhecimento científico em prol da sociedade brasileira, em especial na pandemia do Covid-19.

“Sinto-me honrado e emocionado em receber essa homenagem. Eu e o professor Oswaldo fomos colegas de Instituto por pouco mais de 29 anos. Ele é um exemplo de como a educação pode ser transformadora, ela transformou a vida dele e ele transformou a vida de muitas pessoas. O Oswaldo sempre fez uma ciência de enorme qualidade, liderando grandes parcerias, projetos e colaborações nacionais e internacionais. Ele sempre falava de ciências com entusiasmo. Tudo em torno do professor Oswaldo era grandioso. Ele sempre foi muito preocupado com o futuro da ciência no Brasil e me inspira a seguir lutando em defesa da ciência, e contra o negacionismo e a pseudociência”, disse Luiz Carlos ao receber o Prêmio.

Luiz Carlos Dias graduou-se em Química pela Universidade Federal de Santa Catarina (1988). Fez doutorado em Química na Unicamp (1993) e pós-doutorado na Universidade de Harvard (1994-95). É professor titular do IQ/Unicamp, pesquisador 1A do CNPq e membro titular da Academia Brasileira de Ciências. Na SBQ, foi secretário geral (2000-04), editor do Boletim Eletrônico (2000-06) e membro do Conselho Consultivo (2006-08). É editor do JBCS, membro do corpo editorial da Revista Virtual de Química (RVQ), representante titular dos editores da área de ciências exatas no Comitê Consultivo SciELO Brasil e foi coordenador da área de Química na Capes (2011-13).