Já aluna da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Letícia começou a conhecer o cotidiano de um pesquisador e o caminho acadêmico acabou surgindo naturalmente. No segundo período, já buscou uma iniciação científica em uma área de física experimental, pois um professor a aconselhou a não entrar na física teórica logo no início do curso. “Foi uma experiência muito boa e enriquecedora, mas meu caminho na pesquisa só ficou mais claro depois. Na segunda metade da graduação passei para uma iniciação científica teórica. Tive contato com tópicos e formalismos mais avançados, cuja beleza e desafios me fascinam até hoje”, resume a professora.

Na pós-graduação, Letícia Palhares escolheu seguir numa área de física teórica que englobava uma variedade grande de assuntos e técnicas, com uma conexão forte com experimentos. “Um perfil muito especializado, que trabalha em algo específico, nunca foi atraente para mim. De alguma maneira, o desejo de poder aprender continua guiando a minha carreira até hoje”, observa.

Ela finalizou o mestrado em 2008 e o doutorado em 2012, esse com um período sanduíche no Instituto de Física Teórica do Comissariado de Energia Atômica e Energias Alternativas, em Saclay (CEA-Saclay), na França. Palhares fez ainda um pós-doutorado júnior (2012) na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e foi Humboldt Fellow (2012-2014) na Universidade de Heidelberg, Alemanha. Desde 2016, Letícia Palhares integra o time de professores do Departamento de Física Teórica da UERJ.

Atualmente, sua área de pesquisa tenta explicar a estrutura mais profunda da matéria: as partículas no interior dos núcleos atômicos e como estas interagem para gerar os mais diversos sistemas, em diferentes condições. “Minha pesquisa está relacionada com algumas perguntas profundas, mas que podem parecer ingênuas, como: do que os átomos são feitos? Qual é o menor ‘ingrediente’ existente neles? Como estes funcionam? O que acontece quando tentamos esquentar muito (muito mesmo!) a matéria? Ou apertá-la, gerando altíssimas pressões?”

A excelência de sua pesquisa já teve muito reconhecimento. Palhares recebeu o Iupap Travel Grant for Women in Physics (2010) pela União Internacional de Física Pura e Aplicada (Iupap, na sigla em inglês); foi selecionada 2012 pela ABC e a Fundação Lindau, da Alemanha, como Jovem Pesquisadora no Lindau Nobel Laureate Meeting; e foi laureada com o prêmio nacional Para Mulheres na Ciência L’Oréal-Unesco-ABC em 2014. Recebeu também as bolsas Jovem Cientista do Nosso Estado da Faperj (2018) e a Prociência, da Uerj (2018). E em 2020 foi eleita como membro afiliado da ABC.

Para ela, este é um estímulo ainda maior para seguir em frente com sua carreira acadêmica. “Eu gostaria de conhecer melhor a ciência brasileira através do contato com os outros membros da Academia e usar esse contato com outras áreas para enriquecer a formação das pessoas ao meu redor, em todos os ambientes que convivo”, disse a Acadêmica, que se comprometeu a contribuir com iniciativas de apoio à ciência brasileira. 

No momento, sua vida pessoal é bastante concentrada nos seus dois filhos pequenos (de 1 e 3 anos), em mostrar-lhes as coisas boas da vida: leitura, contato com a natureza, arte, boa música, boa comida. Ela mantém a paixão pelo balé clássico e considera a atividade muito eficiente e prazerosa. “Ajuda a desconectar a mente dos problemas pessoais e da física”, confessa. Para Letícia Palhares, viajar, aprender novos idiomas e conhecer outras culturas é o que há de mais interessante a se fazer nessa vida. “Felizmente a carreira em ciência também é muito rica nesse aspecto, propiciando um contato não-trivial com muitas pessoas, de diferentes culturas e partes do mundo.”