Márcia Foster Mesko nasceu em 1979 em Canguçu, no Rio Grande do Sul, município conhecido como Capital Nacional da Agricultura Familiar, por possuir cerca de 14 mil propriedades rurais. Passou boa parte da infância na região rural do Arvorito, e modo simples e divertido, com brincadeiras que exigiam bastante criatividade. Ela conta que, por ser uma área rural, as casas eram bem afastadas, o que dificultava a reunião de grandes grupos de amigos para brincadeiras. No entanto, se divertia muito na companhia dos avós, que moravam a 500 metros de sua casa, e dos irmãos. Seus passatempos favoritos incluíam costurar e fazer crochê com a mãe e a avó e “fazer perfumes” com cascas de frutas, flores e perfumes dos pais. “Ficavam horríveis, obviamente”, recordou a Acadêmica, com humor. Nesta mesma época, começou a desenvolver também a paixão pelo magistério. “Gostava muito de brincar de professora. Além de usar minhas bonecas como alunas, tive a pretensão de alfabetizar um menino nosso vizinho que era surdo. Acredito que isso faz parte da minha característica de sempre querer transmitir o que aprendo, seja o que for e para quem for”, confidenciou.

Os pais, Valter e Geni, não tiveram oportunidade de estudar além do quarto ano do ensino fundamental. Essa era uma realidade muito comum naquela época, especialmente para filhos de famílias de baixa renda que residiam na zona rural. Eles mantinham um comércio no interior do município de Canguçu e mudaram-se para mais próximo da cidade quando Márcia tinha nove anos, para facilitar seus estudos. “Possibilitar que os filhos estudassem foi uma prioridade e um grande desafio para meus pais”, refletiu Márcia. Ela foi a primeira da família a concluir o ensino superior.

Na escola, Márcia tinha preferência por matemática, uma vez que já fazia cálculos desde pequena no comércio dos pais. “Mesmo antes de ser alfabetizada eu havia aprendido a fazer algumas contas simples e a fazer o troco para os fregueses”, comentou. Também gostava de português. O interesse pelas ciências veio aos poucos. “Hoje eu percebo que infelizmente não havia muito estímulo na escola para desenvolver a curiosidade e o interesse por esta área”, comentou.

Seus primeiros passos rumo à pesquisa na área da química foram dados ao ingressar no ensino médio profissionalizante na Escola Técnica Federal de Pelotas (ETFPel), atual Instituto Federal Sul-Rio-Grandense (IFSul). Márcia contou ter sido muito incentivada pelo irmão mais velho, Eduardo, que havia concluído o curso em eletrotécnica na mesma instituição. Hoje engenheiro mecânico, foi ele quem apoiou e ajudou Márcia, com 14 anos na época, a convencer os pais a permitir que ela viajasse todas as noites para Pelotas para estudar e a apoiou também financeiramente até durante a faculdade. O irmão caçula, Leonardo, também concluiu o ensino superior na área de administração de empresas. “Somos de uma família muito simples, mas recebemos muito incentivo dos nossos pais para estudar”, justificou a professora, que recebeu apoio também das tias, Dilza e Dalva, que a receberam em suas casas para que ela pudesse continuar seus estudos durante a graduação e pós-graduação, respectivamente.

Convivendo com pesquisadores diariamente nos laboratórios da Faculdade de Agronomia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), durante os estágios para o curso técnico, Márcia começou a pensar em seguir a carreira científica. Trabalhava com análises físico-químicas de grãos, rações e pastagens e ainda acompanhava aulas da pós-graduação. “Eu auxiliava e acompanhava as atividades de alunos de mestrado e doutorado em seus experimentos e meu interesse pela pesquisa foi amadurecendo. Além disso, tive a oportunidade de estagiar em uma indústria arrozeira da região e, nas poucas horas vagas, acompanhava pesquisas sobre desenvolvimento de produtos a base de arroz.”

Em 1998, ela iniciou a graduação de bacharelado e licenciatura em química na UFPel. Na época, as pesquisas na área de química ainda eram incipientes – especialmente na química analítica. Então, ela ingressou na iniciação científica na área de físico-química e química nuclear, sob orientação dos professores Ari Santos e Vladmir Levit, período que ficou marcado pela realização de diversos trabalhos que a conduziram aos primeiros eventos científicos regionais e nacionais. “Essas atividades contribuíram para o meu aperfeiçoamento e com certeza me fizeram entender um pouco mais sobre a atuação do cientista”, afirmou a pesquisadora.

Márcia Mesko deu sequência aos estudos, cursando o mestrado (2004) e o doutorado (2008) com enfoque em química analítica na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), desenvolvendo pesquisas com alimentos, medicamentos, amostras biológicas e até mesmo com petróleo, sob orientação do professor Érico Flores, quem ela considera um grande incentivador de sua carreira. Ela relata ter tido sorte de integrar um grupo de pesquisa que contribuiu muito para a sua formação como cientista e cidadã. Nesta mesma época, também teve as primeiras experiências como docente no ensino superior. “Foram muitos desafios, inclusive o de ministrar aula de química e informática para uma aluna cega. Acredito que neste momento eu percebi que eu estava disposta a encarar todos os desafios intrínsecos à atividade docente.”

Ela conta que teve grandes oportunidades ao longo de sua carreira, como um período como pesquisadora convidada no Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) e diversos estágios de curta duração em renomados laboratórios na Áustria, Alemanha, Bélgica, Canadá, EUA, França. Aprendeu com os profissionais envolvidos a importância da educação, da ciência e da tecnologia para o desenvolvimento da sociedade. “Tenho muita vontade de despertar essa paixão e responsabilidade social em meus alunos de graduação e orientandos do grupo de pesquisa que coordeno”, afirmou.

Atualmente, as pesquisas de Mesko são voltadas principalmente para o desenvolvimento de métodos mais rápidos, sensíveis e seguros para a detecção dos elementos, utilizando reagentes menos tóxicos e com menor geração de resíduos, de acordo com os princípios da química analítica verde. “Esses métodos possibilitam determinar diversos elementos, muitos considerados poluentes ambientais em baixas concentrações. Estas informações são bastante relevantes para diversas áreas do conhecimento, pois possibilitam um melhor entendimento sobre a toxicidade de alguns elementos ou sobre a sua essencialidade para o organismo humano, por exemplo”, explicou a Acadêmica, reiterando que suas pesquisas têm aplicação em diversas áreas, como alimentos, medicamentos, análises bioquímicas e forenses, entre outras.

A afiliação à ABC é vista por Márcia Mesko como grande distinção, tanto para ela como para seu grupo de pesquisa e seus familiares. “Significa um marco na minha carreira e uma grande motivação para seguir trabalhando com dedicação e determinação, sem desanimar nos momentos difíceis”, completou. Ela pretende atuar fortemente junto à ABC, participando de todas as atividades e discussões pertinentes. Também pretende incentivar cada vez mais jovens a seguirem na carreira científica, “especialmente as mulheres, pois na área de ciências químicas, em particular, ainda somos poucas”.

Para a professora e pesquisadora, o país precisa de educação pública básica de qualidade, especialmente para evitar que os menos favorecidos economicamente sejam excluídos do sistema e que se consiga aproveitar ao máximo todos os talentos existentes no país. “É preciso pensar que para muitos brasileiros o acesso à escola é a porta para uma vida melhor, além de um importante amparo social. Se o investimento em educação fosse uma prioridade na sociedade, com certeza o país estaria mais bem preparado para enfrentar a pandemia de COVID-19, sendo menos dependente das importações de matéria-prima e tecnologias”, apontou Mesko.

Nas horas livres, Márcia gosta de assistir filmes que envolvam fatos históricos e documentários sobre política, religião e sobre as civilizações em geral. Além disso, aprecia um bom chimarrão e bares que tenham música ao vivo. E tem paixão por viajar. Como os irmãos e suas famílias residem em outros estados, sempre que pode ela viaja para participar mais da infância dos três sobrinhos. “Viajo bastante a trabalho, o que muitas vezes é desgastante e corrido, mas gosto muito de viajar nas minhas férias para aprender sobre novas culturas, lugares, aprender sobre história e política”, comentou.