Eufrânio Nunes da Silva Júnior nasceu em Brasília, no Distrito Federal, em 1982, cidade na qual também passou sua infância. Rodeado de familiares e amigos, gostava de andar de bicicleta, jogar futebol e videogames. O pai trabalhou como servidor público até o momento de sua aposentadoria. Sua mãe trabalhou no lar e, segundo ele, “continua ativa na árdua tarefa de cuidar da família e dos intermináveis afazeres domésticos”. Com duas irmãs mais novas, Eufrânio foi o primeiro filho a entrar na faculdade.
Na escola, Eufrânio revela que gostava de todas as matérias, com exceção de matemática. “Eu sempre fui uma criança curiosa e, durante a adolescência, essa curiosidade foi direcionada para a ciência”, lembra. O pesquisador rememora uma feira de ciências que participou no ensino médio, na qual construiu uma maquete de uma cidade com o sistema elétrico conectado a um dínamo em sua bicicleta. Assim, quando os estudantes pedalavam a bicicleta, a cidade recebia energia que alimentava as casas e os postes das ruas. Seu programa preferido era ‘O Mundo de Beakman’, no qual teve contato com episódios fantásticos, recheados de experiências divertidas conduzidas por um cientista químico excêntrico, inteligente e sagaz.
Sua paixão pela ciência veio desde cedo, mas foi somente durante a preparação para o vestibular que ele decidiu pela química. “Tive um professor de química sensacional no curso preparatório, o que, associado à minha vocação para a ciência, foi um fator determinante para a escolha de cursar química na universidade”, conta. Para ele, o que mais lhe fascina na ciência é a possibilidade de decifrar os segredos da natureza e permanecer em constante contato com novidades, aprendizado constante e fantásticos desafios.
Graduado em química pela Universidade Católica de Brasília (UCB/DF), realizou iniciação científica trabalhando com química analítica, tendo a eletrossíntese como tema central. Essa experiência foi essencial para que Eufrânio escolhesse os rumos que tomaria dali por diante e, sobretudo, para lhe estimular a percorrer os caminhos para se tornar um cientista. “Eu decidi enveredar para a carreira científica no momento que iniciei meus estudos em química orgânica”, declarou o Acadêmico.
Eufrânio revela que, ao longo da graduação, teve a sorte de estudar com ótimos professores e assistir a importantes palestras de pesquisadores da elite científica nacional. Em 2004, participou da X Escola de Verão em Química Farmacêutica e Química Medicinal (EVQFM) e do The 2nd Brazilian Symposium on Medicinal Chemistry. “Participar destes eventos foi crucial para a minha decisão de cursar o mestrado em química orgânica na Universidade Federal Fluminense, trabalhando com síntese orgânica e química medicinal”, relata.
Após concluir o mestrado em 2007, no mesmo ano deu início ao doutorado em química na Universidade de Brasília (UnB), seguindo com os princípios básicos que adquiriu durante seu período no Rio de Janeiro. Seu orientador, o professor Antonio Ventura Pinto, foi muito importante para sua carreira. “O professor Ventura, como era conhecido, foi um grande amigo e orientador que me ensinou todos os detalhes que permeiam a pesquisa científica”.
Em 2018 foi premiado com a aprovação de um projeto de pesquisa para se dedicar como professor visitante (pesquisador experiente) na Universität Göttingen – Georg-August-Universität Göttingen, com financiamento da Capes e da renomada Fundação Alemã Alexander von Humboldt. Durante o período na Alemanha, esteve relacionado ao grupo de pesquisa do professor Lutz Ackermann, dedicado ao tema de pesquisa de ativação de ligação C-H. O reconhecimento por seu trabalho veio, dentre outras formas, pela consagração do Prêmio CNPq-SBQ-RSC Brazilian Chemistry Certificate of Distinction, concedido pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a Royal Society of Chemistry (RSC) e a Sociedade Brasileira de Química (SBQ).
Desde 2018, Eufrânio Nunes é professor associado do Departamento de Química da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde chefia o Laboratório de Química Sintética e Heterocíclica da UFMG. O grupo de pesquisa é dedicado à descoberta de novas moléculas, compostos que podem ser usados contra parasitos e contra o câncer. “Temos trabalhado na difícil tarefa de descobrir uma substância que possa ser utilizada no tratamento da doença de Chagas. Buscamos também novas estratégias para preparar compostos bioativos de forma rápida, simples e eficiente”, explica. Além disso, Nunes atua como revisor de 60 periódicos científicos e possui diversas colaborações nacionais e internacionais envolvendo países como África do Sul, Alemanha, Estados Unidos, Índia, Inglaterra e França.
Como membro afiliado da ABC no ano de 2020, Nunes espera contribuir com a Academia na preservação do padrão de excelência da ciência nacional, adquirido com muito trabalho e dedicação pelas gerações anteriores. “Ser membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências é uma honra e me permite sentir ser parte de um seleto time que ama e se dedica à ciência de forma plena. Espero contribuir e atuar junto à Academia para que a ciência nacional se mantenha forte e determinante na construção de um país justo, conciliador e inclusivo, mas que também seja competitivo e atuante nos mais diversos ramos da fronteira da ciência”, declara.
Além das fronteiras da ciência, Nunes conta que, como um clássico brasiliense, teve uma banda de rock na juventude. Uma de suas maiores paixões desde os anos 90, o químico ainda pratica e toca sua guitarra Jackson Flying V. Ama viajar e visitar novos lugares. “Tive a oportunidade de visitar mais de 20 países, o que considero um privilégio relacionado à minha profissão de professor e cientista”. No entanto, é em Brasília que encontra seu refúgio preferido. Ele afirma ter um estilo de vida simples: gosta de passar seu tempo livre com seu filho Nicolas e sua esposa Juliana. “A tranquilidade e inspiração que preciso para seguir ativo, criativo e perseverante, encontro sempre ao lado da minha esposa e meu filho”, reafirma o Acadêmico.