“O que o cientista brasileiro produz com muito pouco recurso – e que é reconhecido nacional e internacionalmente – é um milagre. Se é que existe um milagre brasileiro, é a ciência”, apontou Helena B. Nader, vice-presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), durante a abertura oficial do 1º Congresso Brasileiro de Divulgação Científica (CBDC). O evento, que ocorre entre os dias 27 e 30 de setembro, é organizado pela Acadêmica Agência de Comunicação e conta com a ABC entre seus apoiadores. Além de Nader, a abertura do evento contou com a presença de Vanderlan Bolzani, membro titular da ABC e presidente da Academia de Ciências do Estado de São Paulo (Aciesp) e José Roberto Ferreira, diretor da Acadêmica Agência de Comunicação e coordenador geral do Congresso. 

Com o tema central “Divulgação Científica e negacionismo em tempos de desinformação”, a primeira edição do CBDC almeja promover debates sobre a relevância da ciência evidenciada pela pandemia de COVID-19, que desencadeou um movimento de oposição, com base no descrédito da ciência e na propagação de  fake news. A programação completa conta com palestras, mesas-redondas, apresentação de cases e minicursos, e pode ser conferida aqui.

A expectativa dos organizadores é que o evento contribua para que a divulgação científica se torne mais importante para as pessoas, principalmente como ferramenta para o fortalecimento da cidadania. Ferreira destacou que a pandemia de COVID-19 exigiu uma revisão da trajetória da divulgação científica no Brasil, um olhar atento para o momento atual e a identificação dos desafios por vir.

Helena Nader afirmou que o valor da ciência brasileira foi mais que provado ao longo dos últimos dois anos, através da eficiência no enfrentamento à pandemia. Segundo ela, a sociedade já percebeu isso, mas a postura do Estado brasileiro ainda é de descaso e falta de estratégia.

“A diminuição da procura pela pós-graduação e a recusa de pesquisadores formados em persistir na área, principalmente por conta baixo valor das bolsas, está ocasionando a evasão de profissionais para países do exterior e em, casos mais extremos, outras áreas de atuação”, relatou Nader. “Ao invés de nós trazermos grandes pensadores brilhantes para o país, estamos fazendo o inverso. O estudante brasileiro tem uma capacidade de estudo fora do comum e eles estão sendo levados a peso de ouro para o exterior”, aponta a pesquisadora, que compartilha a expectativa de que o congresso chame atenção para a desvalorização da profissão no país enquanto ainda dá tempo de contê-la. “Ainda dá tempo para recuperarmos, contudo, se demorarmos muito, é possível chegarmos a um ponto sem retorno. É muito grave não podermos oferecer as devidas condições de trabalho aos nossos cientistas.” 

Já para Vanderlan Bolzani, a divulgação científica é tão importante quanto uma grande descoberta científica – “é como se ambas andassem de mãos dadas”, ilustrou a Acadêmica. Sua melhor vivência durante a pandemia, quando passou boa parte de seu tempo participando de encontros online com outros cientistas, foi aprender ainda mais sobre o universo da ciência, principalmente sobre a dita sociedade do conhecimento, “onde é necessário trocar músculos por cérebros”.

A cientista destacou o papel da ABC, que ao longo de 105 anos reuniu centenas de cientistas de excelência, responsáveis por inúmeras descobertas fundamentais para o cotidiano dos cidadãos. Conscientizar os “não convertidos” sobre a importância dessas descobertas é o ponto-chave para atravessar a onda de negacionismo sem precedentes que o mundo enfrenta, especialmente em um país como o Brasil, segundo Bolzani. “O país tem hoje uma ciência de primeiríssimo nível, que nos orgulha e faz com que o brasileiro tenha uma vida muito diferente da que tinha 70 anos atrás. A ciência é um bem maior, foi construída para a vida humana sobreviver num mundo sustentável.”