Desde os três anos, Caroline Furtado Junqueira dizia que iria ser uma “cientista maluca” quando crescesse. Brincava muito com kits de alquimia e tinha um microscópio, com o qual investigava a intimidade de tudo que lhe caía nas mãos.  

Nascida em Belo Horizonte, no estado de Minas Gerais, no ano de 1981, cresceu junto com o irmão e a irmã mais velhos, o pai engenheiro civil e a mãe arquiteta. Embora não fossem da área da pesquisa, seus pais sempre a incentivaram muito. “Como não sabia bem de qual ‘ciência’ eu gostava, meu pai me dava brinquedos científicos de várias áreas – kits de alquimia, de robótica, de eletrônica, de geologia, microscópio. Enfim, eles me guiaram para encontrar a minha verdadeira vocação.”  

Na escola, suas matérias preferidas sempre foram as ciências – biologia, química e física-, e também geografia e história. Na hora do vestibular, escolheu biologia, que era o que realmente queria, e medicina, como um plano B, caso a carreira de cientista não desse certo. Acabou passando nas duas, mas seus pais interferiram e a convenceram a fazer biologia, argumentando que ela nunca quis ser médica e que estava se desviando de seu verdadeiro foco de interesse. E Caroline foi então cursar a graduação em ciências biológicas na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG).  

Desde o primeiro ano da graduação, Caroline fez iniciação científica, e era a melhor parte para ela. “Se pudesse passar 12h por dia no laboratório ao invés de assistir aulas, com certeza eu passaria”, comentou.  

Já o período do mestrado em bioquímica na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) foi de frustração, em um laboratório sem recursos e com pouco suporte. Caroline conta que, embora tenha dado o máximo que pôde com as ferramentas que tinha em mãos, no final chorava sem parar. Via que aquela “ciência” com que tanto sonhava escorrendo pelos dedos e chegou a pensar que talvez tivesse feito uma escolha errada. Mas era um misto de sentimentos, porque não conseguia se ver fazendo outra coisa além de ciência, pois era o que ela amava. 

Então, engoliu o choro e deu uma guinada na sua carreira. “Procurei um dos pesquisadores de mais prestígio da minha instituição e me candidatei a uma vaga de doutorado com ele”, relata Caroline. Ela conseguiu e fez o doutorado em imunologia na UFMG orientada pelo Acadêmico Ricardo Tostes Gazzinelli. Queria fazer um doutorado que a fizesse esquecer as frustrações do mestrado e, de fato, deu certo. “Trabalhei loucamente e, além de ter ficado extremamente satisfeita com o resultado final do meu trabalho, ainda recebi o Grande Prêmio UFMG de Teses e o Grande Prêmio Capes de Teses”, relata a pesquisadora.  

Caroline Junqueira fez dois estágios de pós-doutorado, um na Universidade de Notre Dame, nos Estados Unidos, e outro no Instituto René Rachou (IRR) /Fiocruz, onde é pesquisadora em Saúde Pública desde 2014. Desde 2015 também é pesquisadora associada do Centro de Desenvolvimento Tecnológico CT Vacinas, um centro de pesquisas em biotecnologia voltado para o desenvolvimento de novas tecnologias ligadas à produção de kits de diagnóstico e vacinas contra doenças humanas e veterinárias, criado por uma parceria estabelecida entre a UFMG, a Fiocruz-Minas e o Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BH-TEC). Desde 2017, atua periodicamente como pesquisadora visitante no Boston Children’s Hospital da Harvard Medical School, nos EUA.  

Ela trabalha com o estudo da resposta imunológica frente a infecções e ao câncer. “A principal linha do meu estudo é aplicar o conhecimento básico da resposta imunológica desencadeado durante as doenças para o desenvolvimento de estratégias de tratamento e vacinas”, explica a Acadêmica. Junqueira diz que na sua área, a imunologia, diariamente são feitas milhares de descobertas, que juntas vão moldando uma visão geral do sistema imune humano, cuja plasticidade faz com que se comporte de forma diferente frente a cada situação. “É isso que me fascina: a plasticidade da ciência e o fato de o conhecimento ser inesgotável”, declara a cientista. 

Esse fascínio e essa paixão se refletiram na eleição como membro afiliado da ABC. “Esse título significa que todos os desafios e obstáculos que enfrentei para chegar até aqui, valeram à pena”, declara Junqueira. E acrescenta que, como membro da ABC, gostaria de semear a paixão pela ciência nas escolas, para que em médio ou mesmo em longo prazo o Brasil tenha mais cientistas apaixonados pelo que fazem. “Gostaria também de atuar em projetos de suporte a mulheres na ciência, ajudá-las a superar as diversas barreiras impostas a nós nessa caminhada.”