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No dia 30 de julho foi realizada mais uma edição das Mentorias da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e o tema da vez foi “Comunicação Científica”. O evento contou com a participação de diversos afiliados e ex-afiliados da ABC e também teve inscrições abertas ao público. 

O evento foi organizado pela afiliada Jaqueline Mesquita e a mediação ficou por conta de Elisa Oswaldo-Cruz Marinho, gerente de comunicação da ABC. As apresentações foram feitas pela jornalista Catarina Chagas, uma das autoras do livro “Manual de sobrevivência para divulgar ciência e saúde”; e pelo jornalista Herton Escobar, atualmente no Jornal da USP, que trabalhou com cobertura científica por 20 anos no jornal O Estado de São Paulo. 

Palestras 

A primeira apresentação foi feita por Catarina Chagas, que debateu alguns dados recentes sobre a percepção dos brasileiros quanto à ciência e tecnologia. Os números apontam para uma ideia majoritariamente positiva, porém superficial, do que é o trabalho científico, destacando que a grande maioria dos entrevistados não sabia citar um cientista ou instituição de pesquisa brasileira relevante. 

Ela também elencou alguns pontos importantes para se ter em mente na hora de divulgar ciência. “É crucial entender o público para o qual se fala, sabendo que o cientista não é o único ator discutindo esses temas e, portanto, não será o único a exercer influência no modo de pensar da população”, ressaltou Catarina. Por fim, ressaltou que fornecer ferramentas para tomada de decisões é mais eficaz do que simplesmente impor uma ideia que deve ser aceita. 

Herton Escobar destacou as diferenças entre divulgação científica e jornalismo científico. Embora a zona de atuação das duas áreas seja muitas vezes convergente, lidam com coisas distintas. “Nem tudo que é cientificamente importante é notícia, e vice-versa”, explicou. 

Escobar destacou  que o jornalismo científico de qualidade é crucial numa época de desinformação, que é preciso disputar a atenção do público contra correntes de pensamento anticientífico. “A pandemia deixou isso muito claro ao trazer para a luz tratamentos e práticas sem comprovação, mas que foram muito difundidas por partes interessadas”, ilustrou. 

Debate 

Após as apresentações foi aberto espaço para comentários e perguntas do público. 

O primeiro tema que surgiu foi a questão da simplificação de informações: até onde ir? Os convidados relembraram a necessidade de conhecer seu público e entender até onde descomplexificar um assunto pode ser didático ou paternalista. 

Aproveitando o comentário de um participante, que lembrou das dificuldades institucionais de se implementar práticas de divulgação dentro das universidades, a mediadora sugeriu a criação de uma rede integrada com as assessorias de universidades e institutos públicos. Elisa ressaltou a importância da interação para a especialização dos profissionais. “Essas assessorias poderiam se tornar grandes laboratórios para estudantes de jornalismo”, apontou. 

Com relação à difusão da ciência na mídia, os palestrantes afirmaram que o jornalismo científico pode ser feito pelas próprias instituições de pesquisa, sem depender da grande mídia para interlocução com o público. Essa prática permitiria uma maior independência no que se divulga, e pode, não obstante, render pautas para os jornais de maior circulação. Um participante expressou preocupações de que a utilização na íntegra dos materiais produzidos por jornais universitários poderia ser considerada “parasitária”. Herton Escobar discordou da afirmação, enfatizando que a divulgação da ciência para um público amplo deve ser estimulada. “O importante é que a ciência feita nas universidades, com dinheiro público, repercuta na sociedade. Se os jornais ganham com isso, ótimo. É  bom para todos os envolvidos”.

Os debatedores citaram projetos de sucesso em comunicação científica no Brasil e no mundo. Catarina Chagas acredita que a oferta de cursos e oportunidades de especialização vem crescendo no país e outros participantes lembraram as recentes alterações curriculares nas universidades que deram bastante destaque a prática da extensão, espaço considerado no debate de grande interesse para cursos de comunicação e divulgação de ciência. 

Uma pergunta surgiu sobre a ênfase dada pelo jornalismo científico aos resultados em detrimento dos métodos, que se torna um problema quando inverdades começam a circular amparadas em metodologias erradas. Catarina e Elisa reconheceram a atualidade do tema e enfatizaram a necessidade de desenvolver nas pessoas senso crítico que lhes permita diferenciar estudos fortes e fracos. Herton complementou que isso é necessário, porém complicado num mundo em que a informação é muitas vezes superficial e que, dependendo do assunto, um argumento de autoridade pode ser a forma mais rápida de convencimento. 

Por fim, a coordenadora agradeceu a todos os participantes pelo interesse e destacou que eventos similares estão sendo pensados para o futuro.

Assista ao evento na íntegra pelo canal da ABC no YouTube.

 
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