[A Academia Brasileira de Ciências lamenta  profundamente a morte do ex-ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antonio Raupp, na madrugada deste sábado, aos 83 anos.

Matemático, em sua gestão como presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), de 2007 até fevereiro de 2011, promoveu, junto com o então presidente da ABC e também matemático Jacob Palis, um estreitamento forte dos laços entre as duas instituições, com características diferentes, mas  objetivos comuns.]

Raupp comandou a pasta da Ciência e Tecnologia do governo de Dilma Rousseff (PT) entre os anos de 2012 e 2014.

Graduado em física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e doutor em matemática pela Universidade de Chicago, Raupp dividiu sua vida profissional entre as atividades acadêmicas e a gestão de instituições de ciência e tecnologia, tornando-se defensor da integração entre a instituição de pesquisa e o setor produtivo.

Em sua longa carreira, foi pesquisador e diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC). À frente da diretoria do Inpe, participou das negociações que resultaram no programa dos satélites CBERS, em cooperação com a China. Ainda no Inpe, em tempo recorde conseguiu implantar o Laboratório de Integração de Testes, e na Direção do LNCC criou o Laboratório de Bioinformática, ambos considerados de ponta e utilizados por pesquisadores de todo o País e pela indústria. Foi diretor-geral e um dos mentores da criação do Parque Tecnológico de São José dos Campos (PqTec), organização que dirigiu entre 2006 e 2011, atuando de forma decisiva para a implementação de projetos inovadores.

Presidiu a Agência Espacial Brasileira (AEB), instituição à qual levou sua larga experiência em temas da política e tecnologia do Espaço, tendo integrado também o Conselho Administrativo da Alcântara Cyclone Space (ACS). Foi membro titular do Conselho Nacional da Ciência e Tecnologia (CCT), presidente do Conselho de Administração do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), membro do Conselho de Administração da Associação Brasileira de Tecnologia de Luz Síncrotron (ABTLuS), todas instituições que enrobusteceram o Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia e Inovação.

Por suas contribuições à ciência brasileira, recebeu o título da Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico da Presidência da República; Grande Oficial da Ordem do Mérito Aeronáutico, da Força Aérea Brasileira/FAB; Grande Oficial da Ordem do Mérito Naval, da Marinha do Brasil/Brasília; Medalha de Pacificador, do Exército Brasileiro/EB; Grã-Cruz da Ordem do Rio Branco, do Ministério das Relações Exteriores/MRE; e Medalha da Inconfidência, do Governo no Estado de Minas Gerais/Ouro Preto.

A presidente de honra da SBPC, Helena Nader, [vice-presidente da ABC], salienta o grande homem que Raupp foi, tanto profissional quanto pessoalmente. “Ele foi mais que um colega de SBPC, quando fui sua vice-presidente. Eu perdi um grande amigo e a figura de um pai intelectual. Raupp tinha uma sabedoria à frente de seu tempo, ele foi além da SBPC”, declara. Nader lembra que quando ele era presidente da SBPC, criou um grupo de trabalho (GT) para escrever o livro “Ciência, Tecnologia e Inovação para o Brasil competitivo”, publicado em 2011. Na obra, se propôs a criação do que hoje é a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii). “Coordenado por Roberto Faria, a proposta foi feita claramente no capítulo 13, argumentando que a empresa seria para a indústria o que representa a Embrapa para a agricultura”, observa.

“O Brasil e a ciência, tecnologia e inovação devem muito a esse homem. A luta dele sempre foi constante. Seu trabalho está eternizado em todos os órgãos por que passou, como o Parque Tecnológico de São José dos Campos, a Agência Espacial Brasileira. Ele lutava por um país soberano. Ele vai fazer muita falta para mim e para o Brasil que precisamos”, diz Nader.

O professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) [e membro titular da ABC], Luiz Bevilacqua, lamentou profundamente a morte de Raupp e reitera que ele foi uma das pessoas que mais contribuiu para a ciência no Brasil. “Nós devemos muito a ele, não só nessa área de desenvolvimento tecnológico como cientista, pesquisador e professor, mas também na gerência de órgãos públicos, como o MCTI, e em institutos de pesquisa como o Inpe”, comenta.

A ABC cumprimenta os familiares e amigos do admirável e querido Raupp. 


*[ ] indicando inserções da Ascom ABC