O NutriNet Brasil é uma iniciativa do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo (Nupens/USP), em colaboração com pesquisadores de outras universidades e centros de pesquisa brasileiros (Unifesp, UFMG, UFRGS, UFPel, UFBA, Incor, Fiocruz e INCA). O estudo coordenado pelo professor Carlos Augusto Monteiro, membro titular da ABC, surgiu em 2020 e tem como objetivo principal investigar os padrões de alimentação praticados pela população brasileira que aumentam ou reduzem o risco para doenças crônicas não transmissíveis, tais como obesidade, diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares e tipos de câncer relacionados à alimentação. “A relação entre a alimentação e o risco de doenças crônicas já é bastante conhecida, mas ainda não conhecemos com detalhes quais os padrões de alimentação efetivamente praticados no Brasil que protegem a população contra essas doenças e quais aumentam o seu risco”, disse o coordenador do estudo à ABC.

Inspiração e apoio financeiro

A inspiração para o projeto surgiu da colaboração de anos com os pesquisadores da Universidade de Paris 13, responsáveis pela coorte NutriNet-Santé – pioneira na realização do seguimento de seus participantes de maneira online com o intuito de investigar a relação alimentação-saúde. Estudos como o NutriNet francês identificaram que a “dieta mediterrânea” protege contra várias doenças crônicas, enquanto a  “dieta ocidental” ou “dieta fast-food” estadunidense aumenta esse risco. E no Brasil? O que será que acontece? 

É isso o que o NutriNet Brasil visa descobrir durante os próximos dez anos. Com os resultados obtidos ao longo do estudo, os pesquisadores pretendem aprimorar as políticas públicas de alimentação saudável e promoção da saúde no país. Atualmente, o projeto conta com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Umane, associação civil sem fins lucrativos.

O Acadêmico Carlos Augusto Monteiro, coordenador do NutriNet Brasil.

NutriNet durante a pandemia

As primeiras análises do Estudo NutriNet Brasil envolveram os primeiros dez mil participantes da pesquisa, que já haviam respondido a questionários curtos sobre alimentação pouco antes e alguns meses após o início da pandemia e do distanciamento social. Os dois artigos publicados até agora foram desenvolvidos para analisar o impacto das mudanças nos principais hábitos de vida, provocadas pelo isolamento social.

O artigo mostra um aumento generalizado de 11% na frequência do consumo de marcadores saudáveis, como frutas, mas também hortaliças e feijão. De acordo com Monteiro, essa mudança no comportamento alimentar poderia ser explicada pelas novas configurações trazidas pela pandemia à rotina das pessoas: “O contexto pode ter estimulado muitas famílias a cozinharem mais e a consumirem mais refeições dentro de casa. Seja porque não havia muitas alternativas, seja por uma eventual preocupação em melhorar as defesas imunológicas do organismo.”

Por outro lado, análise também mostrou que houve um aumento no consumo de alimentos ultraprocessados nas regiões Norte e Nordeste, assim como entre as pessoas de baixa escolaridade. A descoberta alarmou os pesquisadores do projeto, uma vez que a ingestão desses alimentos eleva o risco de doenças crônicas, como obesidade, hipertensão e diabetes, que, por sua vez, aumentam a gravidade dos casos de COVID-19.

Já em março deste ano, o NutriNet Brasil publicou um artigo com análises sobre a variação no peso corporal de uma amostra de 14 mil pessoas, que relataram seu peso um pouco antes e seis meses após o início da pandemia. Foi observado um aumento de 2 kg ou mais em quase 20% dos participantes e uma perda de pelo menos 2kg em 15%. A maior prevalência de ganho de peso também se confirmou em pesquisas realizadas em outros países durante a pandemia. Segundo o artigo, graus mais baixos de escolaridade (11 anos ou menos de estudo) foi fator de risco somente para o ganho de peso, o que poderia ser explicado pela maior vulnerabilidade desses indivíduos à publicidade de ultraprocessados e ao menor acesso a alimentos frescos.

Próximos passos

Atualmente, os pesquisadores do projeto estão finalizando a validação dos questionários de alimentação. Essa etapa, segundo o coordenador, será muito importante para as futuras análises que serão feitas, que terão como objetivo investigar a alimentação dos participantes e sua relação com desfechos em saúde. “Futuramente, após a validação desses instrumentos, os questionários poderão ser utilizados por outros grupos de pesquisa. Estamos trabalhando também em um artigo que mostrará quais estratégias de recrutamento foram mais efetivas até o momento para atrair novos indivíduos para o nosso estudo”, disse Monteiro. 

Como funciona o projeto e como participar

Banner da recente campanha “Eu participo do #NutriNetBrasil, e você?” mostra influenciadores participam como voluntários no projeto.

A metodologia do projeto consiste em responder a questionários curtos sobre alimentação, estado de saúde e sobre outras variáveis que podem influenciar essas duas condições. Os questionários são enviados a cada 3 meses e podem ser respondidos através de qualquer dispositivo com acesso à internet (celular, computador, tablete, etc). Os voluntários devem ter no mínimo 18 anos e residir em território brasileiro. Todos os dados fornecidos ficarão armazenados sob absoluto sigilo no sistema InterNuvem USP.

O NutriNet ultrapassou recentemente a marca de 95 mil inscritos, incluindo diversos comunicadores influentes, como o jornalista Pedro Bial e o ator Gregório Duvivier. A meta do projeto é atingir 200 mil inscritos até o fim do ano.

Será que eles podem contar com você para atingir esse objetivo? Para se inscrever, visite o site oficial do estudo.