Hubert Lacoin nasceu em 1985, na comuna francesa de Le Havre, próximo ao Rio Sena, onde residiu apenas até os seis meses de vida. Por conta do trabalho do pai, Hubert passou sua infância em diferentes cidades francesas: Caen, Bordeaux e Nancy. 

Filho de um casal de engenheiros, Hubert conta que sua mãe nunca chegou a exercer a profissão, mas retornou aos estudos após o nascimento dos cinco filhos para se tornar professora de matemática, quando ele tinha oito anos. Hubert é o quarto filho da família, na qual todos são graduados: as duas irmãs mais velhas são formadas em medicina e farmácia, respectivamente. O irmão mais velho se formou em engenharia civil e o irmão mais novo se formou em acústica.  

Ele conta que cresceu num meio social que valorizava muito a cultura científica, o que o influenciou desde muito jovem.  Hubert se interessou pela pesquisa científica como possível profissão apenas durante a faculdade, mas seu sonho era construir automóveis. “A meu ver, a profissão de cientista tinha muito prestígio, eu percebia desse modo provavelmente por influência do ambiente. Justamente por isso, na escola e no início dos meus estudos universitários, não considerava que era um objetivo que podia ser alcançado. Nunca foi um objetivo explícito”, confidenciou.

Curioso por natureza e entusiasta da área de exatas, não foi surpresa quando Hubert iniciou sua graduação em matemática na École Normale Supérieure, em Paris, na França. Toda a sua formação acadêmica foi realizada em seu país natal: obteve o título de mestre em 2007, pela Universidade Paris Sud-Orsay, e o de doutor em 2009, pela Universidade Paris VII-Denis Diderot. Durante o período acadêmico, fez intercâmbios e estágios no exterior, incluindo períodos na Índia e na Inglaterra.  Depois, fez estágio de pós-doutorado em Roma, na Itália, e ao voltar à França, em 2010, trabalhou quatro anos como pesquisador do Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS), o equivalente francês ao nosso Conselho de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Hubert Lacoin atribui aos seus orientadores, desde o período de estágio até o doutorado, uma influência decisiva na escolha da carreira científica. Suas áreas de interesse incluem probabilidade e estatística, sendo especialista em teoria das probabilidades, focando em problemas que possuem relação com a física. Nos últimos anos, Lacoin vem se dedicando ao estudo do tempo de mistura. O objetivo é entender quanto tempo precisa para um sistema físico para atingir a sua configuração – por exemplo, quanto tempo leva para derreter um cubo de gelo em um ambiente com temperatura de 10ºC. Apesar da evolução do gelo não ser algo aleatório, a teoria da probabilidade oferece uma descrição adequada da evolução dele ao nível microscópico.

Desde outubro de 2014, Lacoin reside no Rio de Janeiro e atua no Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), após participar de um processo seletivo com cem candidatos, dos quais 83 estrangeiros. Além disso, o Acadêmico também é membro do corpo editorial dos periódicos Electronic Journal of Probability, Electronic Communications of Probability e Annales Henri Lebesgue. Ele também é revisor de diversos periódicos, incluindo o Publications Mathématiques de l’IHES e Journal of the European Mathematical Society.  

Como fruto do reconhecimento de sua pesquisa, o matemático obteve dois importantes prêmios franceses: em 2010, ele recebeu o Prêmio Perrissin-Pirasset/Schneider da Chancelaria das Universidades de Paris (2010) de Melhor Tese em Matemática. Em 2013, foi a voz do Prêmio de Melhor Artigo Publicado na Annales de l’IHP, oferercido pelo Institut Henri Poincaré. 

Apesar de gostar muito da ciência, ele confessou não ficar “encantado” pela prática. Ele acredita que encanto não é uma postura adequada acerca da prática científica, que precisa ser analisada e às vezes criticada. “Na matemática, eu gosto da diversidade dos tipos de raciocínio, ou seja, as pessoas podem resolver um mesmo problema de várias formas: alguns gostam atacar o problema de frente e fazer computações enormes, enquanto outros vão logo tentar achar correspondências engenhosas que irão simplificar tudo. O que eu gosto também na prática da pesquisa é o grande sentimento de liberdade e autonomia que ela traz. É um imenso privilégio.” 

Nos tempos vagos, Lacoin conta que gosta de passear. Pouco importa se por pontos turísticos, locais desconhecidos, cidades grandes ou na natureza: o importante é oferecer um bom quadro para interações com outras pessoas ou digerir pensamentos.