Edgard Almeida Pimentel nasceu em 1983, na cidade de São Paulo. Teve uma infância divertida, muito próxima da família, com muitos amigos do colégio, dos esportes (judô, natação, vôlei), do futebol na rua — em que a criança mais velha, que era seu pai, sempre estava presente — e outras atividades. “Fui uma criança um pouco bagunceira, que dava algum trabalho aos meus pais: abri o queixo duas vezes e quebrei ossos um par de vezes também”.  

Filho único de pai bancário e mãe que também trabalhava fora – em escritório e em escolas de educação infantil – Edgard também tinha um lado mais calmo, sereno mesmo, da sua personalidade que era ligado aos estudos. “Eu sempre apreciei ter um tempo quieto, estudando em casa. Havia o espaço do meu quarto que era destinado a isso e eu me sentia muito bem lá”, conta o pesquisador. A estante de livros do pai sempre foi objeto da apreciação do menino. No colégio, era frequentador da biblioteca. “Era um espaço que passava uma sensação de ser uma coisa poderosa.”  

Os pais sempre valorizaram a educação do único filho. Além de bons colégios cursos de idiomas e outros, falava-se muito sobre a universidade, em particular a Universidade de São Paulo, com a qual algumas pessoas da família, do lado meu pai, tinham alguma conexão.  

No ensino médio, ele era um típico sujeito das Humanidades. Nestas disciplinas suas notas eram excelentes e ele se divertia pensando nos conteúdos e conversando com os professores. As exatas eram menos agradáveis. A coisa que menos o atraía nesta época era a matemática.  

Apesar desta aversão, Edgard tinha um talento muito moderado e conseguia algumas notas medianas. Gostava da ideia de ser economista e dadas as suas habilidades e seu interesse, esta foi uma escolha natural, e cursou economia na Universidade de São Paulo (USP). No início da graduação, estudou matemática com grandes professores, como Pedro Alberto Morettin, Paulo Cordaro, Chaim Samuel Honig, dentre outros. “A frase mais curiosa que eu ouvia era algo como ‘você tem perfil para ter uma bolsa Fapesp’ – dita como se eu soubesse o significado da sigla”. Ele acabou por saber e achar que havia qualquer coisa de muito interessante, muito mais interessante, no que aqueles professores falavam do que em outros temas que ele, verdadeiramente, também adorava. “A graduação foi um passeio fabuloso. Estudava coisa legais, descobria temas novos, pessoas estudando e pensando coisas divertidas, frequentava e vivia muito o espaço estudantil da USP — que é verdadeiramente riquíssimo”, relembra o cientista.  

Assim, cresceu profundamente seu interesse pela matemática e Edgard se entusiasmou com a ideia seguir na formação acadêmica, fazendo mestrado e doutorado em alguma área relacionada a economia e matemática.  

Em sua visão, a grande sorte veio quando conheceu duas pessoas, na altura do mestrado. “A primeira foi o Pedro Tonelli, meu orientador. Um sujeito com uma visão profunda das coisas que eu era capaz de fazer, das coisas que eu precisava fazer e do que faltava para estas duas classes se encontrarem. Sua participação na minha formação foi absolutamente decisiva. Pedro dizia coisas que eu digo hoje aos meus alunos e que de fato afetam a percepção deles sobre as coisas. Uma destas frases é sobre a simplicidade: Pedro dizia que ‘os exemplos corretos devem ser os mais simples’. 

A segunda pessoa muito importante nesta altura foi o professor do IME-USP Waldyr Oliva, que tinha uma posição no Instituto Superior Técnico (IST) da Universidade de Lisboa. Quando eu prospectava oportunidades de doutorado no exterior, Waldyr foi muito carinhoso comigo e sugeriu que eu considerasse o IST. Falou em meu nome com uma das melhores pessoas que conheci na vida: Diogo Gomes”, relata Pimentel, falando no seu orientador do doutorado em Lisboa, cidade em que até a luz tem qualquer coisa de especial, ele conheceu os professores Pedro Girão, Carlos Rocha, Jorge Drummond, Lina Oliveira, Ana Bela Cruzeiro, Gabriel Cardoso e muitos colegas. Destes, alguns são bons amigos, outros são também co-autores, como Diego Marcon, Vardan Voskanyan e Levon Nurbekyan.   

Depois de três anos e meio fora do Brasil, Pimentel foi a São Carlos por conta de uma conferência. Lá conheceu a pessoa que se tornou um mentor e parceiro na matemática e, sobretudo, um grande amigo: o Acadêmico Eduardo Teixeira. Após uma conversa durante um coffee break, Teixeira tornou-se seu supervisor de pós-doutorado’. “Eu estava de malas prontas para o Canadá, reprogramei a rota e decidi ficar no Brasil para trabalhar com ele.”  

Em 2016, Pimentel obteve a livre-docência pelo ICMC-USP. Em 2017, começou a trabalhar como professor assistente no Departamento de Matemática na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). É bolsista de produtividade do CNPq nível 2 e Jovem Cientista do Estado do Nosso Estado, com bolsa da  Faperj. É membro junior do International Centre for Theoretical Physics (ICTP-Trieste). Em 2019, foi selecionado como grantee do Instituto Serrapilheira.  

Edgard Pimentel estuda análise de Equações Diferenciais Parciais. “Este belíssimo ramo da matemática se dedica a problemas diversos, de natureza bem abstrata. Nesta abstração moram problemas lindíssimos, muito difíceis, e que atraem a atenção de muitos pesquisadores ao redor do mundo”, esclarece o Acadêmico. Ele completa explicando que esse tipo de pesquisa tem aplicações, como a precificação de ativos financeiros, a estabilidade de uma ponte, a temperatura de um objeto, a distribuição de pessoas em um ambiente ou, até mesmo, a ambiciosa tarefa de calcular com precisão a idade da Terra. “Nos últimos anos eu tenho estudado um mero aspecto deste universo, um tipo de ‘pale blue dot’ ou ‘pale your-favorite-color dot’), que se chama Teoria de Regularidade”, acrescentou.  

Para Pimentel, a ciência é um instrumento importante de elaboração do espírito humano. “Acho que tem uma capacidade impressionante de melhorar a vida das pessoas em diversas componentes. É um dos maiores patrimônios que nós fomos capazes de construir, um patrimônio dinâmico, em movimento, incluindo perguntas novas, produzindo mecanismos de busca por respostas, tentando entender como tornar o mundo, que muda cada vez mais rápido, apresentando demandas urgentes, um lugar melhor.” 

Sobre o título de membro afiliado da ABC, Pimentel diz que é um reconhecimento dos seus colegas, “e prova de que eu tenho amigos muito melhores do que mereço”. Além disso, considera o título uma oportunidade de interagir com pessoas interessantes, de aprender mais, de ser mais efetivo como cientista e, sobretudo, de alcançar novas instâncias para resolver problemas mais difíceis. Finalmente, e o que é mais assustador para Pimentel, é a responsabilidade profunda que o título trás. “Responsabilidade de tomar parte no debate científico nacional e estar à disposição da comunidade para, de dentro deste debate, transbordar para a sociedade brasileira o papel e a importância da ciência, ser capaz de defender a ciência e o ambiente em que ela é produzida.” 

Além da ciência, os interesses de Edgard Pimentel são muito dispersos, nas suas palavras. Viajar faz parte das coisas que adora. “Sou fã de Buenos Aires, Jerusalém e Lisboa acima de qualquer outro canto; São Paulo é casa, Rio de Janeiro é casa. Gosto de dirigir na estrada. É curioso que, depois de me mudar para o Rio de Janeiro, viajar para ver beleza natural se tornou menos óbvio”. 

Ouve música: baixou todas as sinfonias de Beethoven regidas pelo Bernstein. E frequenta o Municipal regularmente. “Ouço muito Anitta, canto Justin Bieber no trânsito – já estou na fase pós-disfarce-, e acho, junto com João Brasil, que a lambada vai voltar, conforme esperamos.”  

No cinema, é fã de Godard. Mas as séries do Netflix e todos os filmes de super-heróis contam também com sua minha audiência. 

A leitura também o atrai. Tentou ler Proust uma vez, mas não entendeu e achou melhor deixar o tempo passar. Adora Borges e, “movido por uma terrível mesquinharia”, ainda não comprou a obra completa de Machado de Assis. “Já me encantei por Philip Roth; hoje tenho reservas. Encantado estou com Marvel Moreno, uma escritora colombiana com uma perspectiva impressionante de coisas como a vida.”