Os participantes do 4º Simpósio Científico da ABC reunidos: Rodrigo Muñoz, Oswaldo Luiz Alves, Edson Cavalcanti, Roberta Marciano, Giordano Poneti, Wanderson Romão e Elisa Orth.

O 4º Simpósio Científico dos Membros Afiliados da ABC 2020-2021 foi realizado no dia 29 de junho, com apresentações de seis jovens cientistas de excelência das áreas de química materiais e de alimentos. Os tópicos debatidos pelos participantes, todos de alta relevância, foram desde a busca de novas ferramentas para proteção de humanos durante a guerra química até o desenvolvimento de revestimentos carbonosos com propriedades bactericidas e anticorrosivas.

O evento foi coordenado por Oswaldo Luiz Alves, vice-presidente da ABC para a Região São Paulo. Brenno Amaro da Silveira Neto (UnB, membro afiliado da ABC 2014-2018) e Fernando de Carvalho da Silva (UFF, membro afiliado da ABC 2016-2020) participaram como debatedores.

Conheça os palestrantes da semana:

Desenvolver biomateriais em prol da sustentabilidade
O químico Edson Silva Filho coordena o Núcleo Interdisciplinar de Materiais Avançados da Universidade Federal do Piauí. Utiliza materiais naturais como base para aplicações como biomateriais.

A ciência passada entre gerações
Filha de professores e cientistas, a professora da UFPR Elisa Souza Orth pesquisa formas de neutralizar e monitorar agentes tóxicos presentes nos pesticidas e em armas químicas.

A busca pelo conhecimento interdisciplinar
A engenheira Fernanda Roberta Marciano é professora da Universidade Federal do Piauí e tem experiência didático-científica nas áreas da física, engenharia de materiais e biomédica.

Uma intrigante mistura de ciência com fantasia
Giordano Poneti é professor adjunto na Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde pesquisa o comportamento magnético de materiais moleculares.

Entre tantas dúvidas nas áreas de exatas, a escolha da química
O professor da Universidade Federal de Uberlândia, Rodrigo Muñoz estuda a construção de sensores eletroquímicos de baixo custo desde os tempos da graduação.

 Da área forense às moléculas do petróleo: paixão pela química
O professor da UFES Wanderson Romão já atuou em diversas áreas da química, mas se encontrou no estudo do petróleo em nível molecular e na área forense.

O debate

Após as apresentações dos membros afiliados, foi aberto o debate entre os participantes e para perguntas do público. 

Eletrodos na geociência

Na posição de debatedor, Fernando de Carvalho da Silva questionou Rodrigo Muñoz se há alguma relação entre a geociência e a química ambiental e sua área de estudo, os eletrodos. Como exemplo, o Acadêmico menciona que alguns profissionais destas áreas se ocupam do monitoramento de compostos – como a clorofila – em lagoas para averiguar o nível de poluição. Sua dúvida é saber se os eletrodos podem ser aplicáveis nessa situação.

Muñoz afirmou que é difícil saber se sua poderia auxiliar nessas pesquisas, uma vez que isso depende do tipo de amostra, dos interferentes e da matriz – principalmente de quais substâncias compõem a matriz, o que resulta em um processo mais complexo.

 

Empreendedorismo na academia

O debatedor Brenno Amaro propôs uma provocação aos afiliados, notando que poucos dos trabalhos dos palestrantes viraram produtos. “O que falta para transformar esse conhecimento em produtos tecnológicos?”, questionou.

Wanderson Romão afirmou que as instituições estão incentivando seus profissionais a caminharem cada vez mais para a área do empreendedorismo e das startups. Como exemplo, ele citou seu próprio projeto, que já rendeu um aplicativo e também livros – destacando a importância de gerar conteúdos que auxiliem no processo de educação.

Segundo Elisa Orth, falta interlocução. Pesquisadores são capazes de pensar em como comercializar seus métodos científicos para a aplicação em um produto, mas como realizar essa ponte entre cientista e empresa? “Muitos editais estão incentivando a parceria com empresas, e outras instituições. Mas falta um intermediário que torne isso viável.”

Produção de goma de cajueiro

O professor Eduardo Galembeck, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), estava acompanhando o evento e deixou algumas perguntas. A Edson Cavalcanti, perguntou sobre os números da produção de goma de cajueiro e seus atuais usos. Cavalcanti explicou que a goma possui propriedades similares às da goma arábica, trazida da África para o Brasil. Um dos principais objetivos agora é tornar esse produto comercializável. “Enfrentamos um gap na conscientização dos produtores de caju. A extração da goma não prejudica a produção do caju, e nem da castanha. Precisamos enfrentar esse receio dos agricultores para nos afastarmos da importação da goma arábica”, explicou. “Temos matéria prima abundante e renovável no país.”

Ação antiviral dos filmes de DLC

Questionada sobre a durabilidade dos filmes de DLC (Diamond-like carbon), Fernanda Marciano afirmou que sua vida útil depende da utilização. “Quanto maior for o atrito entre as superfícies, menor será a durabilidade do filme”, explicou. Ela comentou que está sendo feito um estudo para identificar se os filmes possuem ação antiviral. “A pesquisa está sendo conduzida com base na imobilização de peptídeos na superfície dos materiais. Ainda não há uma resposta certa concreta, com gráficos, apenas indicativos e testes”, relatou.

Segurança alimentar

Respondendo sobre a melhor decisão entre alimentos seguros e a disponibilidade mundial de alimentos, Orth afirmou que ainda hoje a produção de alimentos se baseia no uso de agrotóxicos, mas que é possível mantê-los seguros, desde que sejam respeitados os níveis indicados de uso dos produtos químicos. O ideal, para ela, seria a utilização de “uma ferramenta efetiva e rápida, que permitisse ver quais agrotóxicos são utilizados e se estão de acordo com as regulações”. Ela mencionou a necessidade de plataformas de monitoramento mais rápidas, que facilitem a mercados e consumidores a fiscalização da origem dos produtos.

Para Romão, essa visão já não funciona tão bem. “Há uma demanda muito alta para checagem da adulteração de alimentos”, justificou, mencionando o caso de uma marca que vendia azeite nos supermercados no Espírito Santo, mas que era na verdade óleo de soja. “O tempo de resposta é crucial. A resposta tem que ser mais rápida e o processo de identificação mais próximo do agricultor. Deixar isso nas mãos do consumidor pode acabar prejudicando a saúde dele mesmo”, argumentou. Ele apontou que para um controle efetivo devem ser aprovados projetos que reúnam agências reguladoras e agricultores. “Essa é uma área que precisa de mais aproximação e investimento”, completou.

Giordano Poneti foi questionado sobre possibilidades de aplicação a médio prazo de seu objeto de pesquisa, os interruptores moleculares. O Acadêmico afirmou que, dentre os outros webinaristas, o seu projeto era o que mais se afastava da aplicabilidade, por exigir uma expertise e um trabalho “engenheirístico” que ele não é capaz de fazer. “A minha área de trabalho talvez seja a que mais tem a interdisciplinaridade como ponto crítico”, afirmou.

Na luta pelos direitos dos cientistas

Em mais uma pergunta provocativa para os jovens pesquisadores, Brenno Amaro tocou em um assunto muito debatido no meio científico: como lidar com a crise de financiamento, como trabalhar sem o investimento apropriado, especialmente produzindo ciência de base. “Essa é uma situação que está sendo imposta à nós, pesquisadores. Estamos todos passando pelas dificuldades de liberação de verba, mas com esperança na liberação do FNDCT para corrigir o rumo das nossas pesquisas. Vencemos todas as situações, no Senado, no Congresso, vetos… Mas ainda dependemos da liberação desses recursos”, disse Oswaldo Luiz Alves, antes de passar a palavra para os afiliados. 

Elisa Orth defendeu a batalha que a ABC vem travando diante das atuais circunstâncias: “Temos que continuar fazendo nossa ciência, seja ela de base ou aplicada. O que temos que fazer além de produzir ciência? Lutar, coisa que a ABC faz com maestria.”


Veja a transmissão completa aqui.

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