Giordano Poneti nasceu em Florença, na Itália, em 1981, e passou a infância em Scandicci, uma cidade com 50.000 habitantes a 14km de sua cidade natal. O pai trabalhava na empresa estadual de transporte ferroviário (Ferrovie dello Stato), onde deixou de ser cobrador nos trens para formar profissionais na área. A mãe trabalhava numa empresa têxtil, o principal destaque da região, que produzia cachecóis. Nenhum parente próximo do Giordano tinha formação acadêmica.

Apesar de não ter irmãos, ele conta ter vivido uma infância feliz com os amigos da escola e com os avós, que cuidavam dele enquanto os pais trabalhavam. Sua brincadeira favorita na infância, o Lego, já dava indícios do futuro como cientista: “Pode-se afirmar que troquei os blocos de Lego por cátions metálicos e ligantes orgânicos, sem perder nem um pouco da paixão que tinha quando era criança”. Ele também gostava de andar de bicicleta pela cidade, de onde surgiu a paixão por viagens que o capacitou para viver em outro país.

Poneti afirma que seu interesse na ciência tem duas origens principais: a primeira, mais pessoal, é que ele sempre adorou a descoberta das relações de causa-efeito na natureza, a análise racional de alguns assuntos para chegar em novas conclusões. Para ele, esse é um tópico muito atual, uma vez que a disseminação de fake news nos meios virtuais testa duramente a capacidade crítica dos seres humanos. A segunda é a criatividade que a química traz consigo: ele se diz apaixonado pela montagem de arquiteturas complexas a partir de blocos construtores predefinidos, habilidade que ele chama de “estrela cadente” na escolha da área. “Para mim, não há maior prazer do que planejar os constituintes de um novo material molecular, para depois passar para a fase de síntese e, finalmente, a avaliação das propriedades físicas e químicas dele.”

O cientista afirma que sempre soube que a faculdade era uma parte inevitável de seu destino, uma vez que ele sempre gostou de estudar. Em relação à escolha do curso, Giordano diz: “Nunca pensei em termos de retorno econômico da minha escolha, escolhi baseando-me somente nas minhas paixões. A ideia de utilizar a fantasia para construir moléculas foi o que me guiou para essa escolha, e, até agora, não estou nada arrependido, pelo contrário. De forma geral, eu adoro o lado artístico dessa atividade científica, onde os químicos de coordenação são pintores que utilizam as moléculas como cores e o laboratório como tela.”

Por conta do distanciamento de sua família com a academia, Poneti revela não ter tido grandes modelos científicos em quem se inspirar na infância. Contudo, durante os anos na universidade, ele conheceu suas grandes inspirações: a professora Roberta Sessoli e o professor Andrea Dei, seus orientadores no mestrado e no doutorado, respectivamente. Sessoli é pioneira na área de magnetismo molecular e Dei introduziu Giordano à área de Interruptores Moleculares Magnéticos. Seus primeiros passos na pesquisa científica foram dados com Sessoli e o Prof. Lapo Bogani (atualmente na Universidade de Oxford), quando ele se apaixonou pela abordagem química utilizada pelos pesquisadores para modelar as propriedades magnéticas de compostos de coordenação.

Antes de vir para o Brasil, Poneti atuou como pesquisador na Universidade Guglielmo Marconi, em Roma, onde lecionou química geral e inorgânica para os cursos de engenharia industrial e ciências e tecnologias agrárias, além de ter completado um período de pós-doutorado na Universidade de Florença.

Atualmente, Giordano Poneti é professor adjunto na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde pesquisa o comportamento magnético de materiais moleculares. Além disso, seu currículo conta com experiências na área de química de coordenação, magnetismo molecular, interruptores moleculares magnéticos, espectroscopias de foto-elétrons e absorção de raios X com fontes de síncrotron.

A principal área de pesquisa de Poneti, magnetismo molecular, é uma das mais ativas no âmbito da química de coordenação, e envolve a síntese e caracterização das propriedades estruturais e magnéticas de compostos de coordenação. Estes compostos são moléculas formadas por um ou mais cátions metálicos ligados por outras moléculas, chamadas de ligantes.

Sob o nome de magnetismo molecular encontram-se várias subáreas, que diferem pelas tipologias de propriedades dos sistemas produzidos. As atividades de Poneti focam em duas tipologias distintas de materiais moleculares magnéticos: os Interruptores Moleculares Magnéticos (IMMs) e os Magnetos de Uma Molécula (MUMs). Os IMMs são compostos de coordenação cujas propriedades físico-químicas, tais como as propriedades magnéticas, espectroscópicas (incluindo cor) e estruturais mudam reversivelmente pela ação de um estímulo externo (calor, luz, pressão, interação com outras moléculas). Por isso, são investigados para a produção de sensores de gases e sistemas de armazenamento de dados magnéticos em nível molecular.

Nos laboratórios do Instituto de Química da UFRJ, Giordano vem trabalhando para o desenvolvimento de IMMs inovadores, que apresentem mais do que um núcleo com a possibilidade de conversão magnética, e também a possibilidade de influenciar as propriedades magnéticas dele através da aplicação de um potencial elétrico. O controle elétrico do magnetismo desses sistemas seria um grande avanço para a criação de materiais úteis para dispositivos de armazenamento de dados em nível nanométricos com consumo de energia reduzido, ou para a preparação de catalisadores químicos ativáveis eletricamente.

Já os UMMs são compostos de coordenação cujo momento magnético depende não somente do campo magnético aplicado sobre eles, mas também da sua história magnética. Isso faz com que, por exemplo, eles apresentem dois estados com momento magnético diferente na ausência de campo aplicado, que podemos pensar ser a base da gravação magnética de dados (bit “0” e bit “1”). Ou seja, os MUMs são candidatos a unidades moleculares de armazenamento de informação magnética.

O trabalho do químico e pesquisador vêm sendo cada vez mais reconhecido: desde 2019 é Jovem Cientista do Nosso Estado pela Faperj. Morando no Rio, Giordano diz que leva uma vida tranquila: ele adora passear no Parque Olímpico da Barra da Tijuca e aproveitar as praias oceânicas do Rio de Janeiro. Carioca de coração, afirma que está aprendendo a tocar cavaquinho e que se apaixonou por samba, Paulinho da Viola e pelo azul e branco da Portela.