Nascido em 1980, Rodrigo Alejandro Abarza Muñoz é paulistano e cresceu na periferia do estado, no bairro Vaz de Lima, Capão Redondo. Desde cedo, ele se acostumou a transitar entre países e idiomas diferentes: o cientista é filho de chilenos que vieram para o Brasil no final dos anos 1970, após o golpe militar de Pinochet, em busca de melhores condições de vida. O pai cursou ensino médio profissionalizante em contabilidade e trabalhou em diferentes empresas, até se aposentar na área. Já a mãe foi dona de casa até 1998, quando também começou a trabalhar com transporte escolar, como motorista de van, e o faz até hoje.

Rodrigo estudou na Escola São Vicente de Paulo, localizada também no Capão Redondo, que era mantida pela Associação das Damas da Caridade da Paróquia Nossa Senhora do Carmo. Apesar da clara aptidão para as áreas de exatas – suas matérias favoritas no ensino médio eram biologia, química e física -, ele também nutria paixão pelas disciplinas de geografia e português, talvez devido à origem de sua família: a gramática o ajudava a diferenciar os idiomas português e espanhol que ele ouvia em casa e a geografia mostrava as diferenças físicas entre Brasil e Chile, além de expandir seu conhecimento sobre o mundo. “O fato de desde muito cedo já ter feito uma viagem de ônibus até o Chile, cruzando a cordilheira dos Andes, aumentava minha curiosidade pelo mundo”, apontou.

Apesar de ter crescido em um bairro violento, sobretudo nas décadas de 80 e 90, Rodrigo conta que  teve uma infância bastante ativa. Morava num conjunto habitacional com quase cem casas lado a lado, unidas por uma única rua de acesso, o que lhe permitiu ter contato com muitas crianças. As brincadeiras eram diversas, de futebol na rua a jogos de tabuleiro”, relembrou ele.

Desde pequeno, o Acadêmico sempre foi curioso, dono de uma “intensa vontade” de aprender e de ler. O pai, sabendo do seu gosto pela leitura, levava gibis para o filho. Depois, percebendo que os gibis não eram o bastante, ele começou a comprar a revista Superinteressante, que despertou em Rodrigo o interesse em ciência. No entanto, naquela época, ele ainda não tinha o discernimento de que escolheria uma graduação que tivesse a ver com ciência.

O químico foi o primeiro da família a ingressar no ensino superior e, por conta disso, não teve muitos modelos próximos durante a infância. A primeira vez que pensou na possibilidade de cursar uma graduação foi no ensino médio, com um professor de física que sempre o incentivava e falava do ensino na Universidade de São Paulo (USP). Assim, seu caminho até a escolha da química foi repleto de dúvidas, já que também gostava de física, biologia e matemática. Ele se lembra de ter feito diversos testes vocacionais, que indicaram carreiras variadas, como engenharia de alimentos e biotecnologia.

Rodrigo conta que, ao descobrir que o curso de química da USP oferecia as modalidades de bacharelado em química com atribuições tecnológicas e em biotecnologia, além da licenciatura, ficou interessado. A possibilidade de ter acesso a diversas disciplinas no mesmo curso o conquistou, já que pretendia trocar de curso, para engenharia química. “Minha estratégia então foi garantir o acesso à USP pelo vestibular para o curso de química, menos concorrido que as engenharias. Eu via esse processo como minha única oportunidade em ingressar num curso superior gratuito e de qualidade”, relatou o Acadêmico. “Eu não teria condições financeiras para morar em outra cidade.”

Em 1998, Rodrigo Muñoz ingressou no bacharelado em química da USP e em agosto de 1999 iniciou sua iniciação científica (IC) na área de química analítica, fascinado pelas aulas da disciplina. Seu mentor na IC foi o Prof. Lúcio Angnes, e foi quando sua paixão pela ciência aflorou de fato. Com o professor Lúcio, Muñoz cursou a IC, o doutorado direto e um estágio de pós-doutorado, antes de ingressar na carreira docente na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), onde trabalha até hoje.  “O laboratório do professor Lúcio era fascinante, pois além das vidrarias e equipamentos comuns a um laboratório de química analítica, também possuía uma oficina mecânica, equipamentos desmontados, componentes de eletrônica entre outros”, recorda.

 

Ele relembra detalhes de como era a vida no laboratório durante a graduação: “Uma característica do grupo era o de utilizar componentes de baixo custo, resíduos, componentes eletrônicos, para a construção e desenvolvimento de dispositivos de análise.  (…) Meu projeto de IC era o emprego de CDs, na época muito utilizados para armazenamento de arquivos, para construir sensores eletroquímicos de baixíssimo custo. Havia alguns CDs que continham um filme fino de ouro que podiam ser usados como eletrodos, e esta foi a aplicação que explorei na IC”. O fato de ser um dos poucos alunos de IC em um grupo com muitos pós-graduandos fez com que ele logo entendesse como seria o mestrado e doutorado, e ao acompanhar a rotina de alguns deles e seus projetos, constatou que estava no lugar certo.

Após a conclusão do curso de graduação em quatro anos e tendo a experiência de dois anos e meio de IC, Rodrigo já estava certo de que gostaria de iniciar o doutorado direto com o mesmo orientador. Porém, dessa vez ele queria um desafio, um projeto mais ambicioso do que o feito na IC. Ele desenvolveu a ideia: “Meu projeto de pesquisa do doutorado foi voltado ao desenvolvimento de métodos analíticos para detecção de metais em petróleo, derivados e combustíveis. A pesquisa permitiu conhecer várias técnicas de preparo de amostra e diferentes técnicas de determinação de metais traço, com o auxílio de diferentes grupos de pesquisa parceiros.” A tese recebeu o prêmio Petrobras de Tecnologia em 2006 no tema “Tecnologia de Preservação Ambiental”.

O doutorado sanduíche permitiu que o professor da UFU vivesse uma experiência fascinante junto ao grupo do Prof. Richard Compton, na Universidade de Oxford. Foi uma grande oportunidade para que Muñoz melhorasse o inglês para a redação de artigos e conversação, e aprendesse novas técnicas em eletroquímica. Viver em Oxford fez com que o pesquisador crescesse muito profissionalmente. No ano seguinte à conclusão do doutorado, Rodrigo Muñoz realizou um estágio de pós-doutorado na Arizona State University (2007), em seguida, outro pós-doutorado na Universidade de São Paulo (2008).

A mais recente pesquisa à qual Muñoz vem se dedicando é o uso da impressão 3D como ferramenta acessível a todos laboratórios para a fabricação de sensores eletroquímicos de baixo custo. As aplicações desses sensores incluem a área forense, incluindo a detecção de drogas ilícitas, de resíduos de metais provenientes de disparo de arma de fogo e de explosivos, em parceria com a polícia federal e civil. Além da área forense, há outras áreas de interesse potenciais para estes sensores, como a análise de fármacos, fluídos biológicos, alimentos e amostras ambientais.

Além de professor da UFU, Muñoz também é editor associado do Journal of the Brazilian Chemical Society desde 2018 e diretor da Divisão de Eletroquímica e Eletroanalítica da Sociedade Brasileira de Química (SBQ) no período de 2020-2022. É sócio da SBQ desde 2000 e da International Society of Electrochemistry (ISE) desde 2012. Desenvolveu um produto tecnológico com a empresa espanhola DropSens, chamado “BIASPE cell”.

Nas horas vagas, o Acadêmico gosta de apreciar uma boa prosa e cerveja. Ele adora conhecer novas cidades, culturas e a culinária local. Adora música e conhecer novos artistas de variados estilos, com preferência para o rock, mpb e música latina. Durante a pandemia, ele contou ter escutado ainda mais música do que o habitual, pois trocou todos os esportes que praticava pela corrida, sempre na companhia de boa música.