Confira a matéria publicada na Agência Brasil no dia 19/6, abordando a descoberta de fósseis de novos crocodiliformes e a publicação do estudo sobre os esqueletos publicada nos Anais da Acadêmica Brasileira de Ciências. O artigo está incluído no volume especial em homenagem ao membro titular da ABC Diógenes de Almeida Campos, um dos principais nomes da paleontologia no Brasil, e de comemoração dos 105 anos da ABC. O estudo já está disponível para leitura aqui.

“O volume, que chamamos carinhosamente Festschrift [termo acadêmico de origem alemã que se refere a um livro que homenageia uma pessoa influente ou reconhecida, especialmente um pesquisador] em homenagem ao acadêmico Dr. Diógenes de Almeida Campos, encontra-se desde o ano passado em organização e será concluído até o final do ano. Descobertas maravilhosas como essa relatada são algumas das surpresas que esse volume contém”, comentou o também Acadêmico Alexander KellnerConfira os outros artigos da edição já disponibilizados.

 

O acervo da Faculdade de Formação de Professores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), que fica em São Gonçalo, Região Metropolitana do Rio de Janeiro, foi ampliado com a chegada de dois fósseis de uma nova espécie de crocodiliformes.

Os esqueletos foram encontrados em um projeto desenvolvido por pesquisadores da universidade em parceria com outros colegas do Museu Nacional, que pertence à Universidade Federal do Rio de Janeiro (MN/UFRJ) e das universidades Federal do Acre e Federal Rural de Pernambuco, que publicaram a descoberta na revista científica Anais da Academia Brasileira de Ciências, na quarta-feira (16).

“Em um volume especial de homenagem ao paleontólogo muito importante no Brasil, professor Diógenes de Almeida Campos, da CPRM, hoje Agência Nacional de Mineração e de comemoração dos 105 anos da Academia Brasileira de Ciências”, afirmou à Agência Brasil, o geólogo Felipe Medeiros graduado pela UFRJ e pesquisador associado do laboratório da Universidade Federal Rural de Pernambuco, que também participou do estudo.

Os achados no município de Álvares Machado, no sudoeste de São Paulo, incluem dentes, ossos do crânio e pós-crânio provenientes das rochas da Formação Araçatuba (Grupo Bauru). Os esqueletos, que estavam perto um do outro, pertencem à idade geológica conhecida como Turoniano, que varia entre 93 milhões a 89 milhões de anos.

 

Identificação

A nova espécie foi batizada de Coronelsuchus civali. O primeiro nome significa “crocodilo de Coronel”, em uma referência ao distrito de Coronel Goulart do município de Álvares Machado, onde foi coletado. A civali é uma homenagem ao dono da propriedade onde os fósseis foram encontrados, que se chama Cival.

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Segundo André Pinheiro, o espécime encontrado tem diferenças na dentição e podia se alimentar de carcaças, de insetos, moluscos, ovos de tartarugas e até consumir vegetais. Outra característica é que era mais ereto e se movimentava com maior distância do chão, da que se verifica nos crocodilos que conhecemos atualmente.

Para os pesquisadores, os achados ajudam a compreender as relações de parentesco entre várias espécies de crocodilos fósseis da era Mesozoica do período de tempo geológico Cretáceo Superior, que corresponde a 145 milhões a 65 milhões de anos, de alguns estados brasileiros. “A era Mesozóica tem três grandes períodos: o triássico, mais antigo; o jurássico e o cretáceo que tem várias épocas dentro dele”, explicou Felipe Medeiros.

Com a espécie inédita foi possível definir um grupo novo sistemático para os animais, denominado Sphagesauria. “Essas rochas ocorrem com muita abundância no centro-oeste de São Paulo, parte em Minas Gerais, um pouco no norte do Paraná e no Mato Grosso do Sul. Essas formações do grupo Bauru são as mais prolíficas em termos de fósseis”, informou o paleontólogo.

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Por causa da pandemia, os pesquisadores tiveram que deixar de viajar ao local para continuar as escavações para encontrar mais materiais. Felipe torce para o avanço na vacinação contra a covid-19 para a retomada dos trabalhos na região. Enquanto isso, os estudos avançam nos laboratórios. “A gente focou as pesquisas em laboratórios e a preparação dos fósseis que a gente precisa fazer para serem estudados e avaliada a anatomia”, revelou, acrescentando que quando for possível voltar à região haverá um trabalho de divulgação dos achados com os moradores do município.

Os pesquisadores Felipe Medeiros e André Pinheiro destacaram que o projeto recebeu recursos de uma bolsa do CNPq e a descoberta do Coronelsuchus civali é importante diante das dificuldades de liberações de recursos para as pesquisas científicas. “Para a ciência brasileira em um momento de fomentos escassos e em que a ciência não está favorecida, a gente é favorecido, o que possibilitou as novas escavações. É o primeiro deste tipo encontrado na Formação Araçatuba”, disse o coordenador.