Nascida em 1979, na cidade de Pelotas, no Rio Grande do Sul, onde teve uma infância repleta de brincadeiras ao ar livre, Fabiana Kommling Seixas é filha de uma professora do ensino fundamental de escola pública e de um vendedor autônomo. Tem dois irmãos e foi a única a fazer faculdade.  

No colégio, Fabiana afirma sempre ter sido muito estudiosa e ter gosto pelos estudos, com interesse especial pelas disciplinas que envolviam ciências. Esse interesse se iniciou em sua infância, pelo apreço por química e física. Mas ela conta que sua grande inspiração sempre foi sua mãe. “Mulher, mãe e professora do ensino fundamental em escola pública, sempre me incentivou muito a estudar, a ser uma mulher independente e a ter uma carreira”, declara. No ensino médio, ela ficava  fascinada ao ver matérias de divulgação científica na mídia, pois encantava-se com as inúmeras possibilidades científicas advindas de cada descoberta.  

Por ter estudado durante toda sua vida em escolas públicas, Fabiana conta que teve que se esforçar muito durante o ensino médio para ingressar em uma boa universidade. “Quando fui escolher o curso para prestar vestibular, não tive dúvidas da minha escolha, queria fazer ciências biológicas e me tornar uma cientista. Com o passar do tempo, observei que minhas curiosidades me levavam cada vez mais próxima de me dedicar à pesquisa biomédica”, diz. Posteriormente, quando ingressou na Universidade Federal de Pelotas (UFPel), em 1999, sentiu que tinha escolhido o ambiente certo para trilhar seu caminho na ciência com impacto social.  

Logo que entrou na faculdade, a pesquisadora procurou grupos de pesquisas para realizar estágios. Primeiramente, ficou um ano em um laboratório de Cultura de Tecidos. Adiante, resolveu procurar outro grupo na área que tinha interesse em aprofundar seus conhecimentos, no Laboratório de Biologia Molecular, onde aprendeu engenharia genética e vacinologia. Nessa época, foi contemplada com uma bolsa de iniciação científica do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A experiência foi de grande ajuda para Fabiana, tanto pelo aspecto científico, quanto financeiramente, possibilitando que ela realizasse cursos de inglês e participasse de congressos.  

Formou-se em Biologia pela UFPel em 2002 e passou os anos seguintes dando continuidade aos seus estudos. Realizou mestrado e doutorado em biotecnologia agrícola, ambos pela mesma instituição, e finalizou suas pesquisas em 2007. Durante o doutorado, teve a oportunidade de participar de congressos regionais, nacionais e internacionais, os quais possibilitaram a divulgação do trabalho que ela estava desenvolvendo, bem como receber algumas premiações que foram sempre incentivadoras para sua carreira científica. Também fez pós-doutorado na University of Illinois, nos Estados Unidos, com modelos transgênicos miméticos ao estudo do câncer, em 2013.  

Fabiana conta que seu estágio de iniciação científica, mestrado e doutorado, foram realizados no mesmo grupo de pesquisa, liderado pelo professor Odir Dellagostin, um exemplo de cientista para ela, pelo apoio e o incentivo para sua carreira na ciência. A pesquisadora relata que sempre procurou trabalhar de forma colaborativa durante toda sua formação acadêmica, o que possibilitou que ela participasse de diferentes projetos de pesquisa e ampliasse seus conhecimentos. “Hoje, com mais de 10 anos de experiência e independência científica, tive a oportunidade de colocar em prática que ciência de qualidade só é possível fazer em colaboração”, afirma.  

E são essas inúmeras possibilidades que a ciência proporciona que fizeram Fabiana se apaixonar pelas ciências. “Quando iniciamos um novo projeto de pesquisa, temos novas perguntas a serem decifradas, esta mistura de desafios para chegar a um objetivo são encantadores”, conta. Mas, para ela, o verdadeiro impacto da descoberta se dá quando o resultado da pesquisa científica chega à sociedade. Sua família sempre a apoiou e incentivou sua carreira como pesquisadora e professora. Em colaboração científica com seu marido, o pesquisador Tiago Collares, o casal divide a vida entre a pesquisa e a família. 

Fabiana atua no desenvolvimento de vacinas terapêuticas, utilizando Mycobacterium bovis BCG recombinante para tratamento do câncer de bexiga e melanoma. Na área de nanomedicina, tem trabalhos utilizando nanocápsulas com diferentes fármacos como ferramenta de drug delivery contra o câncer. “Com o intuito de realizar testes pré-clínicos contra o câncer de bexiga, estou envolvida em projetos internacionais focados no desenvolvimento de um modelo suíno para estudos pré-clínicos desta patologia no Brasil”, explica. Atualmente é coordenadora do Programa de Pós-graduação em Biotecnologia da UFPel e coordena o Laboratório de Biotecnologia do Câncer.  

Além disso, é líder do grupo multidisciplinar de pesquisa em Oncologia Celular e Molecular (GPO) e membro da American Association for Cancer Research (AACR). A professora, que ministra aulas nas disciplinas de biologia molecular, genômica e oncologia celular e molecular, afirma que o grupo multidisciplinar do qual faz parte, o GPO, exige uma “dedicação profunda na orientação de estudantes de graduação e pós-graduação, aumentando a responsabilidade e consequentemente o tamanho da família”.  

Fora da ciência, Fabiana gosta muito de música, em especial MPB, adora caminhar ao ar livre e cuidar das suas plantas. A pesquisadora também adora viajar e diz que são ótimos momentos para ter contatos com novos lugares e culturas. “Como pesquisadora, adoro livros e filmes, em especial aqueles que trazem uma conexão de fatos históricos e ciência, onde podemos refletir sobre como foram realizadas grandes descobertas científicas e fazer uma analogia ao presente e ao futuro da ciência”, conta. Dentre seus livros preferidos, destaca A Vida Imortal de Henrietta Lacks, de Rebecca Skloot, e O Imperador de Todos os Males – Uma biografia do câncer, de Siddhartha Mukherjee.  

Como membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências, Fabiana revela se sentir muito orgulhosa. “Acredito que seja um incentivo para minha carreira científica e também uma responsabilidade junto a academia de divulgar e promover ciência de qualidade no Brasil, através de interações científicas, que são a base para ciência de alto impacto”, ressalta. Além disso, pretende atuar na área de divulgação científica, estimulando crianças e jovens a seguir a carreira científica, bem como, apoiar jovens cientistas nos caminhos de formação de grupos de pesquisa e na divulgação  de ciência de qualidade e impacto para a sociedade.