Leia artigo de opinião do Acadêmico Isaac Roitman, professor emérito da Universidade de Brasília, pesquisador emérito do CNPq, membro do Movimento 2022-2030 O Brasil e o Mundo que Queremos, publicado no Correio Braziliense, em 31 de maio:

Segundo a antropóloga e pedagoga Adriana Friedmann, “escutar crianças tem a ver com postura e mudança de atitude daquele que escuta; tem a ver com compreender que cada criança apresenta um repertório próprio, interesses, necessidades e potenciais únicos. Abrir-se para entender, então, que, nós adultos, podemos aprender e nos surpreender com elas. Precisamos aceitá-las e descobri-las no seu âmago, sem a pretensão de corrigir ou necessariamente ensinar-lhes alguma coisa. Todo ser humano quer ser escutado, mas, principalmente, respeitado. Não é diferente com as crianças”.

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O segundo relato foi com um menino de quatro anos. Ele era franzino e nas disputas físicas com amigos/as e primas, usava a boca como instrumento de defesa e ataque. Era um especialista em mordidas. Assistia com ele a um daqueles desenhos fantasiosos na televisão. Depois de um certo tempo, perguntei-lhe se aquilo que estávamos vendo era real ou simplesmente imaginação. Ele respondeu convicto que era imaginação. Eu, então, perguntei: Será que você não é também imaginação? E ele me respondeu: “Coloque a mão na minha boca para ver se sou imaginação!” Logo, eu me lembrei do pensamento de René Descartes: “Penso, logo existo”. Entendi imediatamente o que o menino quis dizer: “Mordo, logo existo!”

O terceiro relato foi com um menino de 10 anos, que, apesar da pequena idade, havia frequentado várias escolas. Recentemente, foi estudar em uma escola que está em franca transformação educacional, trocando o paradigma da instrução pelo paradigma da aprendizagem (Comunidades de Aprendizagem), com inovações inspiradas na Escola da Ponte (Porto/Portugal) e comandadas pelo educador José Pacheco, fundador da Escola da Ponte. Nesse novo paradigma, não há provas como no ensino tradicional já superado. Perguntei então ao menino, o que ele achava sobre o fato de não ter prova? Ele, então, me respondeu, com tranquilidade: “Acho uma boa ideia. Imagina, na prova nos colocam em um ambiente em que não temos o direito de ajudar uns aos outros!” Certamente, Paulo Freire gostaria de ter ouvido isso.

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Infelizmente, o nosso sistema educacional, por acreditar que o pensar das crianças não é consistente, preferem ensinar tudo, como se elas não tivessem ao longo de suas vidas, a partir de observações e escuta, uma visão do mundo. Penso que devemos exercitar o pensamento crítico desde a primeira infância. O pensamento crítico é a capacidade que uma pessoa tem de pensar por si mesma, ou seja, obter dados do meio que está inserido e transformar as informações em opiniões, em ideias próprias e também exercitar a sua criatividade em instrumentos de progresso do processo civilizatório.

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Leia o artigo na íntegra no site do Correio Braziliense.