A mineira Vivian Vasconcelos Costa nasceu em 1984, em Belo Horizonte, onde passou a infância e a adolescência. Ela conta que todos os finais de semana eram passados no sítio da família, em Ribeirão das Neves, a 44km da capital, com os pais, o irmão, os tios e os primos. Era lá que ela se conectava não só com os familiares, mas também com a natureza e com os animais. 

Durante a semana, a menina se dedicava aos estudos. Sua matéria favorita sempre foi ciências e depois biologia, mas também adorava história e matemática. Além da escola, Vivian fazia natação e dançava – fazia ballet, jazz e contemporâneo. Ela praticou dança dos 7 até os 19 anos, chegando a competir semiprofissionalmente, mas acabou deixando de lado por causa da faculdade e do desejo de ser cientista. “Hoje vejo que foi uma das minhas melhores escolhas”, afirmou, comentando a decisão.  

Vivian conta que os pais não tinham curso superior, mas sempre foram muito trabalhadores. O pai é um comerciante nato e bem sucedido, de quem ela tem muito orgulho, dono de um conjunto de açougues com mais de 35 anos de tradição. A mãe trabalhou até quando Vivian completou 18 anos. Também comerciante, ela tinha uma loja de decoração, mas abriu mão do comércio para cuidar melhor da família. “Eles sempre acreditaram que era pela educação que se venceria e incentivaram muito os fihos a ingressarem na universidade”, relata a pesquisadora.   

A escolha pelo curso de fisioterapia se deu por razões pessoais: seu avô materno sofreu um acidente vascular encefálico (AVE) antes de ela nascer e viveu 20 anos com sequelas. motoras, que afetaram bastante sua qualidade de vida, como a capacidade de locomoção e de tomar banho sozinho, entre outras atividades cotidianas. Ela lembra do avô com carinho: “Eu sempre ajudei a minha mãe com os cuidados com meu avô e, em troca, pude conviver com um dos melhores seres humanos que já tive oportunidade de conhecer. Culto e sábio, meu avô era um exemplo de homem”, recorda. Ele faleceu quando Vivian completou 17 anos, na época de prestar vestibular. “Foi aí que decidi cursar fisioterapia, visto que era um curso que envolvia diretamente as áreas biológicas que eu tanto amava e, de forma indireta, supriria a frustração que eu tinha de não ter conseguido ajudar me avô da maneira que eu queria. Eu poderia, pelo menos, ajudar outras pessoas.”  

Vivian Costa prestou o vestibular e iniciou o bacharelado em fisioterapia em uma universidade particular, o Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH). Ela adorava a parte básica do curso, que envolvia muitos conceitos da área de biológicas. No entanto, quando começou a cursar as disciplinas mais aplicadas, por volta do 4º período, que visavam o contato direto e tratamento de pacientes, veio a grande surpresa: Vivian descobriu que não gostava de atuar na linha de frente clínica, pois os procedimentos envolviam protocolos de tratamento já bem estabelecidos e que não permitiam muitas modificações. “E eu me perguntava: por que para tal lesão só poderia ser feito tal tratamento? Me questionava muito e nessa época já participava de monitorias – anatomia humana e histologia –, que despertaram o meu interesse pela vida acadêmica”, explicou.   

Ela então começou a procurar por novas opções na área. Uma professora percebeu seu interesse e seu potencial e a incentivou na busca por uma iniciação científica. No entanto, a pesquisa básica é pouco explorada e valorizada em uma instituições particulares, de modo geral, no Brasil. Percebendo a dificuldade para conseguir uma iniciação científica e como o seu curso era meio período, ela decidiu se envolver em algum projeto na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Lá ela tinha uma amiga de infância, a então pós-doutoranda Danielle Glória de Souza, ex-afiliada da ABC (2012-16), que lhe conseguiu uma vaga de  iniciação científica. “Foi entrar e nunca mais sair”, ressalta Vivian.  

Dada a frequência de artrite nos pacientes que atendia na clínica, suas primeiras pesquisas foram com modelos de inflamação estéril de artrite, induzida por antígeno, em camundongos. Um dos trabalhos envolvia avaliar o papel terapêutico e os mecanismos do tratamento com uma alga marinha usada como suplemento alimentar em pacientes acometidos por essa condição.  

“Eu gostava tanto da área básica que acabei desenvolvendo o trabalho de conclusão de curso na UFMG, estudando o papel de um recurso terapêutico utilizado de maneira empírica nos pacientes com dor aguda: um laser de baixa terapia em um modelo de inflamação aguda em camundongos. Foi demonstrado experimentalmente que a aplicação do laser reduzia a dor nos animais.  

Em julho de 2007 ela concluiu a graduação e foi incentivada pela professora Danielle a prestar a prova de mestrado para o Departamento de Microbiologia da UFMG, onde a então orientadora estava trabalhando. Nesse momento, Danielle estava adaptando sua linha de pesquisa, adaptando-a para o estudo da inflamação no contexto de doenças infecciosas. “Não pensei duas vezes e aceitei o desafio”, conta Vivian. Ela lembrou do processo para prestar a prova: “Saí pela primeira vez da minha zona de conforto, estudei microbiologia por seis meses, fazendo iniciação científica em tempo integral na UFMG como bolsista.” Em dezembro daquele mesmo ano, Vivian foi aprovada para o mestrado.  

Nessa ocasião, a dengue emergia como um grande problema de saúde pública no Brasil, e as pesquisadoras iniciaram os estudos de patogênese e avaliação de potenciais terapêuticos em modelos experimentais de dengue em camundongos. Em sua dissertação, Vivian Costa desenvolveu um modelo experimental de dengue (sorotipo 3) em camundongos e avaliou o papel de algumas citocinas em direcionar a produção de óxido nítrico, uma molécula antiviral, para o vírus da dengue.   

Ela concluiu o mestrado em 2009, iniciando em seguida o doutorado na mesma área. A cientista deu continuidade ao trabalho com modelos de infecção por dengue e o estudo de mecanismos e mediadores inflamatórios envolvidos na patogênese, visando a busca por potenciais alvos terapêuticos antivirais e anti-doença. Estes estudos resultaram em diversas publicações e na tese de doutorado, defendida em junho de 2013. Tal como sua dissertação, quatro anos antes, a tese de Vivian foi eleita a melhor do ano no Departamento de Microbiologia.   

Durante a pós-graduação, Costa teve a oportunidade de sair do país por duas vezes: uma no início do doutorado (três meses em 2010) e outra ao final (três meses em 2012). Em ambas as vezes, a Acadêmica foi para Cingapura, destino até então considerado exótico por ela. “Na primeira vez fui estagiar numa empresa farmacêutica, a Novartis Institute for Tropical Diseases, para ensinar o modelo experimental de infecção pelo vírus da dengue que havia desenvolvido no mestrado e testar o potencial terapêutico de um fármaco antiviral que eles acabavam de desenvolver”, conta a cientista. A segunda foi um doutorado sanduíche em modelo humanizado, realizado no Singapore-MIT Alliance for Research and Technology em Cingapura (SMAR-Centre), uma parceria da Universidade Nacional de Cingapura (NUS) com o MIT em Boston, no Estados Unidos.  

Atualmente, Vivian Costa coordena o Grupo de Pesquisa em Arboviroses e Outras Doenças Virais (GPA), que estuda moléculas e mecanismos associados à patogênese de doenças como dengue, zika, chikungunya, febre mayaro e a COVID-19. “Nosso objetivo é identificar e entender a contribuição de diversas moléculas, sejam do que chamamos de hospedeiro, do próprio agente causador da doença, ou do vetor (o mosquito transmissor). A identificação destes alvos permite a elaboração de estratégias terapêuticas, como testes de medicamentos, seja na forma de reposicionamento ou desenvolvimento de novos fármacos, que poderão vir a ser utilizados no tratamento dessas condições”, explicou.  

Para ela, ter sido eleita membro da ABC é sinal de reconhecimento, “uma injeção de ânimo frente ao momento tão desvalorizado da ciência que estamos vivenciando”. Ela pretende atuar ativamente na divulgação da ciência de qualidade e inclusiva.   

Ela é fã de filmes de ação e drama, mas também curte MPB, adora viajar e experimentar coisas novas. Caseira, como uma típica mineira, nas horas vagas Vivian Costa adora sentar em volta de uma mesa cheia e papear, comendo um bom pão de queijo ou broa de fubá recém saídos do forno, acompanhados de um belo cafezinho. “Dedicar um tempo à família é crucial”, acrescentou, dizendo que vive grudada nos pais e no irmão, mesmo sendo casada e com filhos.