Nascido no Rio de Janeiro, em 1980, André Frossard Pereira de Lucena teve uma infância tranquila, brincando de Lego, andando de bicicleta nas férias em Teresópolis, no estado do Rio, escalando pedras e árvores. Bola não era o seu forte. Sempre gostou de ler sobre animais e ciências naturais e, na escola, gostava das matérias de ciências. Notando seu interesse, a mãe sempre lhe dava muitos livros sobre esses temas.
Sua mãe era professora do curso de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e o pai trabalhou a vida toda em empresas de tecnologia da informação. André tem um irmão, três anos mais velho. Como na família havia muitos médicos, André achava que seria médico também. No entanto, dos 15 aos 18 anos morou na Inglaterra e foi quando teve contato com economia e sociologia na escola. A partir daí, decidiu fazer economia ao invés de medicina.
André entrou para a graduação em ciências econômicas na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), curso com forte formação para mercado, em especial o mercado financeiro. Chegou fazer iniciação científica com o professor Luiz Roberto Cunha, o que considera um primeiro e importante contato com a pesquisa. Porém, chegou ao final da graduação querendo sair daquele ambiente de mercado financeiro. “Foi então que vi no mestrado em Planejamento Ambiental na Coppe/UFRJ uma saída, uma chance de usar meus conhecimentos para um fim mais nobre do que fazer quem tem muito dinheiro ter ainda mais”, conta o Acadêmico.
Ele diz que precisou sair da economia para ser economista, agora com uma abordagem diferente, voltada para a solução de problemas ambientais e energéticos. “Hoje tenho uma formação multidisciplinar, que une economia, engenharia e ciências sociais”, relata.
Ao fim do mestrado André ainda tinha a ideia de sair para trabalhar fora da academia, querendo “ganhar experiência”. Porém, seu orientador de mestrado, Giovani Vitória Machado, o convenceu a ingressar no doutorado. Além de Machado, ele diz que seus outros orientadores, Roberto Schaeffer e Alexandre Szklo, foram referências importantes para suas escolhas na carreira científica. “A partir do doutorado me engajei diretamente com projetos de pesquisa e passei a querer ser pesquisador.”
Atualmente, André Lucena é professor associado do Programa de Planejamento Energético da Coppe/UFRJ. Trabalha em um grupo que desenvolve modelos de avaliação integrada (Integrated Assessment Models – IAM), que buscam simular diversos sistemas simultaneamente, em um horizonte de longo prazo – 2050 ou 2100. “O principal sistema que modelamos é o sistema energético, mas também temos simulações de suas interações com os sistemas de uso do solo, recursos hídricos e clima”, conta Lucena.
De forma geral, ele explica que esses modelos permitem avaliar uma série de eventos, sejam no âmbito tecnológico, social, econômico ou físico. “Por exemplo, podemos simular qual seria o esforço de cada setor econômico para alcançar uma meta de redução de emissões de gases de efeito estufa; ou podemos avaliar os efeitos de políticas de fomento à penetração de tecnologias disruptivas; ou avaliar os impactos de diferentes trajetórias socioeconômicas sobre a base de recursos energéticos, hídricos ou de terra; ou avaliar como o sistema energético responderia a uma menor disponibilidade de energia devido a alterações climáticas… e por aí vai”, explica André Lucena.
Para ele, a ciência é uma necessidade. “É a forma que temos para olhar o mundo sob uma ótica mais ampla que nossa percepção imediata, de não cair na armadilha dos sentidos ou extrapolar nossas experiências para o todo. É a maneira de perceber a realidade em sua forma mais real”, argumenta.
A urgência acerca das questões ambientais – e climáticas em especial – é o principal motivador para sua área de trabalho. “Gosto de trabalhar buscando soluções para um mundo sustentável e contribuir para uma sociedade melhor, inclusive por ser pai recente: meu filho faz três anos em 2021”, diz.
Mas Lucena não exclui o lado lúdico e de encantamento da ciência: ama ficção científica. Ele diz que livros e filmes de fantasia e ficção científica sempre o cativaram, desde a infância e adolescência. Sua música é a do século 20: rock, mpb e samba. Mas, além de cientista, se considera um viajante. “Adoro o contato com a natureza, de preferência em seu estado mais virgem. Sou escalador, faço trilhas e travessias”, conta Lucena, que também é capoeirista: treina Capoeira Angola há quase 20 anos.
Sobre o título de membro afiliado da ABC, André Lucena considera que é uma grande honra recebê-lo. Ele espera contribuir da melhor maneira que puder e aguarda algum encontro ou palestra para novos membros para entender suas possibilidades de atuação. E agradece muito pela oportunidade de se tornar membro da ABC.