Leia o artigo do Presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Luiz Davidovich, professor de física na Universidade Federal do Rio de Janeiro  (UFRJ), publicado na Folha de S. Paulo em 4/4:

Dispositivos como lasers, computadores, aparelhos de ressonância magnética nuclear nos hospitais e GPSs fazem parte do cotidiano no mundo atual. Poucos sabem, porém, que há uma ligação direta entre essas invenções e a curiosidade de jovens pesquisadores que, no início do século 20, queriam entender o funcionamento do mundo dos átomos e dos elétrons e fundaram a física quântica.

A força motriz desses cientistas foi a curiosidade, mesmo sem clareza das possíveis aplicações. Tudo começou em 1900, com um trabalho do físico Max Planck. Cem anos depois, os dispositivos que surgiram baseados na física quântica representavam um terço do Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos.

Perguntas básicas sobre a origem da vida levaram a investigações sobre o código genético, que por sua vez resultaram em técnicas extremamente sofisticadas de edição de genomas, o que permite novas abordagens para tratamento de diversas doenças. Jennifer Doudna e Emmanuelle Charpentier compartilharam no ano passado o Prêmio Nobel de Química pela contribuição pioneira a essas novas técnicas. Quando começaram suas pesquisas, não tinham ideia das consequências práticas, que afetam de forma radical o destino da humanidade. Incluindo, nesta pandemia, a produção de vacinas envolvendo RNA (ácido ribonucleico), um marco na área de imunizantes.

O valor da ciência vai muito além de possíveis aplicações imediatas. As novas vacinas produzidas em tempo recorde, como vemos na atual pandemia, resultam de um longa sequência de descobertas. As armas da civilização humana contra a Covid-19 foram gestadas ao longo de décadas em inúmeros laboratórios, através do trabalho persistente e meticuloso de cientistas que buscavam respostas a perguntas fundamentais.

A Covid-19 colocou a ciência em destaque e é cada vez maior a percepção de sua importância para a saúde da população. Mas essa não parece ser a concepção do governo federal, que propôs, no Orçamento de 2021, severos cortes nos recursos para as universidades, os institutos de pesquisa e a inovação, prejudicando o desenvolvimento nacional. Cortes agravados pela politização da ciência e o negacionismo, origem de milhares de mortes que poderiam ter sido evitadas.

Para reforçar a importância da ciência para a sociedade e de políticas públicas baseadas no conhecimento científico, a Academia Brasileira de Ciências, conjuntamente com a Fundação Nobel e o Instituto Serrapilheira, promoverá o encontro entre estudantes universitários brasileiros e dois ganhadores do Prêmio Nobel, May-Britt Moser (Medicina, 2014) e Serge Haroche (Física, 2012), no dia 8 de abril, em um evento virtual.

Esperamos que essa troca de experiências sirva de inspiração para os jovens de todo o país. Amparados pelo que há de mais avançado no conhecimento científico, devemos neste momento buscar caminhos que nos permitam preservar vidas e retomar o desenvolvimento econômico, gerando empregos, renda e inclusão social.

Leia o artigo na íntegra, com fotos, na Folha de S. Paulo.