No dia 25 de fevereiro, às 10h no horário de Brasília, ocorreu virtualmente o “1º Encontro da Diáspora Brasileira de Ciência e Inovação na Alemanha”. O evento foi organizado pela Embaixada do Brasil na Alemanha em parceria com a Academia Brasileira de Ciências (ABC), a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) e a InnSciD Sp (São Paulo School on Science and Innovation Diplomacy); com o apoio da Fapesp e da Finep. Participaram do encontro, o presidente da ABC, Luiz Davidovich, o Acadêmico e presidente da Embrapii Jorge Guimarães e Abilio Baeta Neves, membro colaborador da Academia.
A iniciativa faz parte do Programa de Diplomacia do Itamaraty e reuniu mais de 600 participantes, em sua maioria pesquisadores radicados na Alemanha e representantes de instituições de pesquisa e desenvolvimento brasileiras, com interesse em projetos de cooperação com o país europeu. A programação incluiu apresentação de estudo sobre as diásporas científicas brasileiras; um painel sobre experiências de pesquisadores brasileiros em instituições alemãs e potencialidades de cooperação com o Brasil; e um painel sobre casos de sucesso de redes internacionais de pesquisadores, além de salas de bate-papo para fomentar a interação entre os diasporados e discutir o financiamento de projetos envolvendo entidades brasileiras e alemãs.
Diásporas científicas brasileiras
O embaixador do Brasil na Alemanha, Roberto Jaguaribe, foi responsável pela sessão de abertura em conjunto com Luiz Davidovich e Jorge Guimarães. Em sua fala, Jaguaribe ressaltou que “o encontro integra esforço do Itamaraty em mobilizar as diásporas científicas brasileiras ao redor do mundo”, concebido com base em eventos semelhantes que ocorrem em vários países. Segundo ele, a iniciativa tem o intuito de incentivar pesquisadores brasileiros atuantes em universidades, laboratórios e empresas alemãs a encabeçar projetos de cooperação com entidades brasileiras. Ele também manifestou o interesse da Embaixada em realizar esforços semelhantes à esse ao longo dos próximos anos, com o objetivo de facilitar o processo de integração da diáspora.
Em seguida, o presidente da ABC celebrou a iniciativa e destacou a colaboração ativa da ABC com a Academia Nacional de Ciências Alemã Leopoldina. Ele falou, ainda, sobre a necessidade de o Brasil desenvolver mais sua ciência e transformá-la em produtos comercializáveis, que possam contribuir para a sociedade e para a balança comercial do país. Davidovich ressaltou que o Brasil é uma das maiores economias do mundo, mas está muito abaixo no ranking de inovação. Nesse contexto, disse esperar que o evento de mobilização da diáspora se desdobre em ações efetivas e, no futuro, gere inovações disruptivas.
Iniciada há cerca de seis anos, a Embrapii já possui 61 unidades e 750 empresas afiliadas. A informação, dada pelo professor Jorge Guimarães, demonstra que, como ele declarou, muitas empresas internacionais instaladas no Brasil são parceiras da empresa e, dentre elas, muitas são alemãs. Ele destacou que são cerca de 1.200 projetos e mais de R$ 1,6 bilhão aplicados, no total, afirmando que o quadro apresenta um grande avanço, dado que, historicamente, “a indústria brasileira não produziu pesquisa e, portanto, não criou uma cultura de inovação, existente em outros países”. Guimarães frisou, também, o papel fundamental dos diasporados para o avanço da inovação no Brasil.
De acordo com a pesquisadora Ana Maria Carneiro, do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas da Universidade Estadual de Campinas (NEPP/Unicamp), houve uma mudança no conceito de diáspora de CT&I. Durante a década de 2000, a conotação era interpretada negativamente como resultado do fenômeno de ‘fuga de cérebros’, porém, atualmente, tomou um sentido positivo, reconhecendo o potencial desses cientistas como uma ‘rede de circulação de cérebros’. Carneiro esclarece que o potencial se explica pelo fato de os diasporados conhecerem bem as realidades tanto do país de origem, quanto do destino, podendo, portanto, funcionar como “antenas” e “pontes” para novas oportunidades.
O cientista político Abilio Baeta Neves foi o encarregado de moderar a primeira parte do painel “Experiências em Instituições Alemãs de Pesquisa e Desenvolvimento e Potencialidades de Cooperação com o Brasil”, com o objetivo de apresentar casos particulares de diasporados brasileiros na Alemanha, com ênfase no setor acadêmico e pesquisa fundamental. A segunda parte do painel foi dedicada a empresas e à pesquisa aplicada e teve moderação de Eduardo do Couto e Silva, diretor do Laboratório Nacional de Biorrenováveis (LNBR), do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM).
Criando redes de cooperação
O segundo painel do evento consistiu na apresentação de três diferentes modelos de associações internacionais de pesquisadores, com o propósito de inspirar diasporados brasileiros radicados na Alemanha a formar redes próprias de interação. São elas: a Associação de Brasileiros Estudantes de Pós-Graduação e Pesquisadores no Reino Unido (ABEP-UK), apresentado pela presidente, Bruna Montuori; a Red de Investigadores Chilenos en Alemania (red INVECA e.V.), apresentada pelo diretor Fredy Rios; e a Rede Brasil-Alemanha de Internacionalização do Ensino Superior (Rebralint), apresentada pela presidente, Gabriela Marques-Schäfer.
A ministra-conselheira Daniella Ortega ressaltou as iniciativas que a embaixada pretende conduzir junto à diáspora ao longo de 2021 e indicou a realização de webinários com temas de interesse. Além disso, Ortega anunciou a realização de sessões de ‘ciência popular’, com a participação de membros da diáspora, com o propósito de apresentar à comunidade brasileira, em linguagem acessível, os principais aspectos de suas pesquisas.
O encontro permitiu a constituição de um banco de dados inicial de representantes da diáspora e, também, que brasileiros atuantes em áreas semelhantes ou complementares se conhecessem. Esse tipo de contato que, segundo Jaguaribe, “é limitado aos laços dos pesquisadores emigrados com suas universidades e laboratórios de origem”, abre oportunidades para cooperações que podem resultar em ganhos para ambos os países. A criação de uma rede de cooperação entre diasporados que possibilite esses projetos pode beneficiar o Brasil, sobretudo, em relação ao processo de adensamento científico e tecnológico do país.
O embaixador acrescentou, ainda, que “existe a necessidade de que os próprios pesquisadores liderem o processo de formalização de rede, a exemplo do que tem ocorrido em outros países com significativo sucesso, sobretudo os Estados Unidos e o Reino Unido”. A formalização dessa rede serviria de instrumento de aproximação para entidades do ecossistema de CT&I brasileiro em questões como a ampliação da rede de contatos profissionais, o auxílio no estabelecimento de colaboração com grupos no Brasil, o ponto focal de instituições sediadas em ambos os países e a divulgação de oportunidades.
O evento foi concluído com duas salas de bate-papo paralelas, uma dedicada a temas referentes a financiamento e outra destinada à interação entre os participantes. O objetivo era aproximar os pesquisadores e iniciar o processo de criação de uma rede de diasporados brasileiros, através de pesquisa sobre a opinião dos participantes.