Leia artigo do Acadêmico Celso Lafer, professor emérito da USP, ex- ministro das Relações Exteriores (1992 e 2001-2002) e ex-presidente da Fapesp (2007-2015), publicado no Estadão, em 21/2:

É atributo da liderança a capacidade de indicar rumos na lida com a crescente complexidade das coisas. Na perspectiva da política, é assegurar o sentido de direção que sustenta e amplia a governança dos caminhos de uma sociedade. Joe Biden, neste início de gestão, vem indicando abrangente sentido de direção, até mesmo em matéria de ciência e conhecimento.

“Conhecimento é poder”, enunciou Francis Bacon. Antiga afirmação que retém plena atualidade. Esta resulta da crescente velocidade com que a ciência e a pesquisa expandem as fronteiras do conhecimento, trazendo mudanças que alteram as condições de vida em escala planetária. Empoderamento digital e vacinas eficazes para conter a covid-19 são duas ilustrações do alcance da afirmação de Bacon.

Robert Zoellick, no recente livro America in the World, dedicado à análise da diplomacia na construção do poderio dos Estados Unidos, tem um capítulo dedicado a Vannevar Bush, o “inventor do futuro”. Bush foi assessor de Roosevelt e de Truman. É o autor de Science: The Endless Frontier, que inspirou os proponentes da criação da Fapesp e me impressionou quando li a documentação da instituição, que tive a honra de presidir. O relatório mereceu importante apresentação em artigo de 2014 de Carlos Henrique de Brito Cruz, então diretor científico da Fapesp.

Bush concebeu o sistema americano de ciência, tecnologia e inovação pós 2ª Guerra, levando em conta a complementaridade e os distintos papéis do governo federal, da indústria, de uma comunidade científica e universitária livre e independente e das empresas privadas. Criou, como observa Zoellick, um modelo de inovação que eclipsou o sistema soviético estatal. Esse foi um dos dados que levaram ao sucesso dos Estados Unidos na sua competição com a então União Soviética. Hoje a tensão predominante no sistema internacional passa pelas aspirações de hegemonia que caracterizam o relacionamento de Estados Unidos e China.

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Foi com isso em mente que Biden em 15 de janeiro escreveu para Eric Lander, do Broad Institute do MIT e Harvard. Destaca a importância do relatório de Bush e do papel que teve em assegurar a liderança dos Estados Unidos no avanço do conhecimento. Registra as mudanças ocorridas na natureza das descobertas científicas, das quais deflui o imperativo de revigorar estratégias da ciência e tecnologia dos Estados Unidos.

É nesse contexto que atribui a Lander a missão de mobilizar as lideranças científicas do país para propor recomendações voltadas para novas estratégias gerais, ações específicas e estruturas aptas a mobilizar o conhecimento em prol da sociedade americana, no presente e no futuro.

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Como estudioso das instituições e da História americanas, cabe registrar, com admiração, como Biden revela sentido de direção e indica rumos em relação a uma variável crítica configuradora do destino das sociedades, como é a ciência e a inovação, e o seu papel no desenho de políticas públicas.

Em contraste, como brasileiro, só posso lamentar que o presidente Bolsonaro, por seus pensamentos, palavras e obras, também nesta área careça de sentido de direção.

Leia o artigo na íntegra no Estadão.