Matéria de Mariana Costa e Déborah Lima para o Estado de Minas, publicada em 17/1, apresenta o trabalho inovador de três Acadêmicos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), empenhados na luta contra a COVID-19. Confira:

Na guerra mundial contra o novo coronavírus, vem da ciência a principal arma, a vacina, e também todo um esforço para desvendar os mecanismos da COVID-19 e brecar, o quanto antes, os estragos que a doença vem fazendo na saúde, nas relações sociais, na economia, enfim, na própria vida.

Em Minas Gerais, cientistas travam essa batalha em parceria com o Instituto Butantan, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O Estado de Minas entrevistou esses guerreiros da imunização, especialistas de reconhecimento internacional, com publicações nas melhores revistas científicas globais, que trabalham para garantir a vacina produzida no Brasil.
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Santuza Teixeira, Ricardo Gazzinelli e Mauro Teixeira

Paixão vence barreiras

Mineira e belo-horizontina, Santuza Maria Ribeiro Teixeira é professora do Instituto de Ciências Biológicas, integra o Centro de Tecnologia de Vacinas (CT Vacinas), núcleo da UFMG com especialistas de várias áreas que se juntaram para tentar acelerar o processo de desenvolvimento de imunizantes.

Em março do ano passado, com a chegada da pandemia no Brasil, o centro tecnológico começou a investir 100% na vacina de COVID-19. Desde então, uma equipe de cerca de 30 pessoas se dedica diariamente ao tema, sem férias ou descanso. Movidos pela paixão e pelo compromisso com a ciência.

Por lá, o estudo mais promissor está em fase de conclusão dos ensaios pré-clínicos, feitos em camundongos. A expectativa é que no início de fevereiro saiam os primeiros resultados. Se forem positivos, será a vez dos testes em humanos.

Santuza se formou em biologia. Logo em seguida, fez mestrado na área de engenharia genética e foi bolsista no doutorado que concluiu na Suíça. E não parou. Depois do pós-doutorado, ela montou seu laboratório. O longo processo de amadurecimento científico não fica apenas no currículo.

É na UFMG que ela repassa seus conhecimentos e incentiva novos alunos a buscar conhecimento dentro e fora do país. “O Brasil pode ter a dificuldade que for, mas se você se isolar, você perde o bonde. E o bonde passa muito rápido, as metodologias avançam em alta velocidade”, alerta a professora.
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Estudante para sempre

As raízes na universidade fazem Ricardo Tostes Gazzinelli ter um currículo extenso e que impõe respeito: infectologista, professor e atual coordenador do CT Vacinas da UFMG, líder do Grupo de Imunopatologia da Fiocruz Minas e coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Vacinas (INCTV). Também membro da Academia Brasileira de Ciências, Gazzinelli estuda o desenvolvimento de uma vacina contra o novo coronavírus (Sars-CoV-2) com base numa técnica que utiliza o vírus da influenza para gerar resposta imunológica contra o novo coronavírus.
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Gazzinelli acredita que os cientistas são desvalorizados no Brasil e se decepciona com os negacionistas. Para ele, são pessoas que não percebem que estão indo contra tudo que tenha tecnologia avançada. “Hoje vivemos uma vida com muito conforto e com muitas possibilidades, não só na área de saúde, mas na de tecnologia. Tudo isso veio da ciência. As pessoas que negam, mesmo que neguem estão usufruindo disso tudo. Não é possível que elas não percebam isso”, finaliza, inconformado.
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Liderança e influência

O professor Mauro Martins Teixeira [vice-presidente da ABC para Região Minas e Centro-Oeste] é o investigador principal e coordenador-chefe dos estudos das vacinas da dengue e CoronaVac na UFMG. Ele é um dos 600 pesquisadores brasileiros mais influentes do mundo, segundo o ranking mundial de cientistas feito pela Universidade de Stanford, nos Estados Unidos.

Teixeira é formado em medicina pela UFMG e fez doutorado em imunofarmacologia pela Universidade de Londres. É professor titular do Departamento de Bioquímica e Imunologia da Universidade Federal de Minas Gerais, membro da Academia Brasileira de Ciências, da Ordem Nacional do Mérito Científico e Tecnológico e da Academia Mundial de Ciências. Além disso, faz parte do corpo editorial de revistas científicas e do British Journal of Pharmacology.

Atualmente, Mauro coordena a pesquisa clínica dos testes de eficácia da CoronaVac, pela UFMG. “A gente coordena os testes e a eficácia para saber se a vacina tem eficácia em seres humanos quando acompanhada com os preceitos deboas práticas clínicas. São quase 50 pessoas envolvidas no estudo, entre alunos, pós-doutores e médicos.”A Coronavac

A parceria com o Instituto Butantan começou com o desenvolvimento da vacina contra a dengue, do qual Teixeira também é o coordenador-chefe. “Estamos no quarto ano de estudo. Para desenvolver uma vacina é preciso uma empresa, no caso o Butantan. A UFMG entra interessada na parte dos ensaios clínicos, uma parceria científica mesmo”, explica.
Ele conta que, no início da pandemia, o instituto entrou em contato com ele para saber se a UFMG teria interesse em participar do estudo, que começou em maio. “Num primeiro momento, as empresas que testaram vacinas foram as americanas Pfizer e Moderna. Assim que surgiu a chinesa, o Butantan fez um acordo com a Sinovac e entramos para participar dos testes”.
Ele explica a dinâmica dos testes clínicos conduzidos na UFMG: “Vacinamos metade dos indivíduos e acompanhamos se eles vão ter a infecção, colhemos amostras. Vemos esses voluntários, no mínimo, oito vezes do início ao final do estudo. São em torno de 1.100 voluntários”.
A parceria solidifica o trabalho da equipe. “Temos um grupo que faz pesquisa vacinal de alta qualidade, com boas normas clínicas. Você demora a treinar uma equipe, é complicado. A coisa mais importante é o aprendizado. A ideia é que através dessa parceria tenhamos acesso a resultados importantes.”
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