Leia o artigo de Eliane Cantanhêde para o jornal O Estado de São Paulo, publicado em 15/1:
A Fiocruz foi salva da sanha bolsonarista pelo gongo, ou melhor, pela pandemia, e por essas ironias do destino passou a ser crucial para o presidente Jair Bolsonaro e sua obsessão em começar a vacinação contra a covid-19, mesmo que apenas simbolicamente, antes do governador de São Paulo, João Doria. De perseguida, a Fiocruz passou a ser a salvação da lavoura presidencial.
A Fiocruz sobreviveu e sua presidente acaba de ser reconduzida até 2024, por causa da pandemia. Nísia Trindade Lima [membro titular da ABC] é de áreas diametralmente opostas às que interessam Bolsonaro: servidora da fundação desde 1987, é doutora em Sociologia, mestre em Ciência Política, professora e pesquisadora. E tornou-se fundamental na vacinação contra a COVID-19 no Brasil.
A Fiocruz é responsável pela produção da vacina Oxford/AstraZeneca, a grande, ou única, aposta do governo federal que, desde o anúncio da vacinação no dia 25 em São Paulo, passou a ter muita pressa. O primeiro lote, de dois milhões de doses prontas, deve chegar da Índia neste fim de semana e a foto do primeiro vacinado pode sair semana que vem. Depende da Anvisa.
A esse esforço soma-se o do Instituto Butantan, que começou cedo a corrida pelas vacinas e fez parceria com a Sinovac, da China, para produzir a Coronavac, que chegou primeiro ao solo nacional, já tem perto de 11 milhões de doses prontas para aplicação e é resultado do empenho do governo de São Paulo.
A pandemia salvou a Fiocruz de intervenção e a Fiocruz dá a Bolsonaro a chance da primeira foto da vacinação, mas a história vai registrar o que o ministro do STF Ricardo Lewandowski chamou de “incúria” do governo federal e “diligência” do governo de São Paulo. Para nós, cidadãos, que estamos vendo milhões de pessoas vacinadas mundo afora e os mortos chegando a 210 mil no nosso país – até por asfixia, como no Amazonas –, dane-se a guerra política. Viva o Butantan! Viva a Fiocruz! E que venham as vacinas!