O Acadêmico Evaldo Vilela, presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), participou de um encontro promovido pelo Núcleo de Estudos Avançados do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), no dia 19/11, com o tema “CNPq, mola propulsora da ciência brasileira”. Também participaram do webinário os Acadêmicos Adalberto Val, Aldo Ângelo Moreira Lima, Elisa Reis e Vasco Ariston de Carvalho Azevedo e outros convidados. A coordenação foi do Acadêmico Renato Cordeiro e a recepção de Nísia Trindade, presidente da Fiocruz. Os cortes orçamentários para ciência, tecnologia e inovação em 2021 e o papel do CNPq para o desenvolvimento científico nacional foram os principais temas tratados durante o evento.

CNPq: história de sucesso e foco nas prioridades

Evaldo Vilela fez graduação em agronomia pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), mestrado em entomologia pela Universidade de São Paulo (USP) e doutorado em ecologia química, pela University of Southampton, UK. Foi professor titular, reitor e atualmente é professor voluntário/colaborador da UFV. Presidiu a Fapemig e o Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap).

Ele lembrou da proximidade do aniversário de 70 anos do CNPq. Criado em 1951 pelo ex-presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Álvaro Alberto, o CNPq surgiu em um contexto de pós-guerra e foi responsável pela institucionalização da ciência brasileira. “A grande questão do CNPq sempre foi desenvolver a pesquisa e a ciência no Brasil para gerar uma soberania nacional com base no conhecimento”, disse Vilela. “O que interessa ao CNPq é o desenvolvimento da pesquisa e temos que manter isso, em benefício do país e da nossa própria comunidade”, afirmou o cientista, que desenvolve pesquisas em biotecnologia aplicada à agricultura.

O presidente do CNPq elencou momentos em que a entidade mudou as perspectivas de investimento em ciência no Brasil e lembrou do trabalho conjunto com a Finep [Financiadora de Estudos e Projetos], a Capes [Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior], os INCTs [Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia] e as FAPs [Fundações estaduais de Amparo à Pesquisa]. “Desde o início dos anos 2000, tivemos um crescimento no número de bolsas. A Plataforma Lattes contém, hoje, cerca de 7 milhões de currículos. Agora, tentamos resgatar as políticas de fomento à ciência de nossa história”, destacando que o crescimento do CNPq só foi possível graças ao papel de todo o sistema nacional de ciência e tecnologia.

O valioso trabalho de institucionalização da ciência

O vice-presidente da ABC para Região Norte, Adalberto Val, falou em nome do  Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), que já presidiu e onde estuda adaptações biológicas às mudanças ambientais, tanto aquelas de origem natural como aquelas causadas pelo homem, em ambientes naturais e de criação (aquicultura).

Ele comentou os ideais de produção de conhecimento e ciência em prol da soberania nacional do CNPq, desde sua fundação. “Não podemos construir o futuro sem uma base sólida e sem considerarmos o esforço social que foi realizado para a construção de nossas instituições”, disse o cientista. “Hoje, a ciência é uma das mais importantes ferramentas sociais que temos ”, afirmou Vilela. Ele ressaltou também o papel da Fiocruz ao longo de seus 120 anos de trabalho pioneiro pelo desenvolvimento e implementação de tecnologias em saúde.

Nordeste: salto no desenvolvimento em CT&I, mas ainda em sofrimento socioeconômico

“O Nordeste, novo em ciência, como todo o Brasil, teve o suporte do CNPq para a expansão de sua ciência e de suas pós-graduações”, disse o Acadêmico Aldo Ângelo Moreira Lima, que é médico, professor titular de farmacologia e decano do Departamento de Fisiologia e Farmacologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC). Ele estuda doenças decorrentes da pobres e avalia o impacto delas no desenvolvimento das crianças das regiões periféricas de Fortaleza.

Lima, que coordena o Instituto Nacional de Biomedicina no Semi-Árido Brasileiro, ressaltou a presença e a importância regional dos INCTs e a necessidade da ciência brasileira estar preparada para momentos de crise, como a atual pandemia de COVID-19. “Sem esse preparo gerado pelo desenvolvimento científico, podemos vir a repetir a condição de desamparo que vivemos hoje nessa pandemia”, pontuou.

Problemas complexos exigem transdisciplinaridade

A Acadêmica Elisa Reis, que é professora titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), graduou-se em sociologia e política pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), fez mestrado em ciência política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj) e PhD em ciência política pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT).

Representando as ciências sociais, Reis lembrou não apenas da importância da área para o contexto do desenvolvimento científico como questionou a forma como os sistemas de fomento a incluem em seus programas. “Apesar da longevidade de nossas instituições, é preciso ressaltar a dificuldade que temos para manter a continuidade do fomento da pesquisa e o constante questionamento de como as ciências sociais podem contribuir para o desenvolvimento científico e econômico no país”, disse Reis.

Para a cientista, que é vice-presidente do Conselho Internacional de Ciência (ISC, na sigla em inglês), em contextos complexos, como a pandemia, a transdisciplinaridade é fundamental. “Já é mais do que reconhecido que tudo o que for feito em projetos grandiosos deve integrar as ciências sociais e humanas”, lembrou Reis. Na pandemia de COVID-19, o papel das ciências sociais foi evidenciado e vem sendo fortalecido, por exemplo, pela Academia Brasileira de Ciências.

Fim do contingenciamento do FNDCT

Problemas de manutenção da plataforma Lattes, o apoio de projetos que incluam a inovação e a criatividade, publicações em open access e a continuidade de programas de mestrado profissional foram alguns dos pontos frágeis do sistema do CNPq apontados pelo Acadêmico Vasco Ariston de Carvalho Azevedo.

Ele é professor titular do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG. Graduou-se em medicina veterinária pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e obteve os títulos de mestrado e doutorado em genética de microrganismos pelo Instituto Agronômico Nacional Paris Grignon, na França. Aristou fez estágio de pós-doutorado no Departamento de Microbiologia da Escola de Medicina da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos. É livre-docente pelo Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (USP) e doutor em bioinformática pela UFMG.

Concordando com Ariston, o presidente do CNPq ressaltou que essas questões poderão ser melhor atendidas por meio da liberação do contingenciamento do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT).

“Fortalecer o CNPq é fortalecer a contribuição conjunta de diferentes áreas do conhecimento”, disse Nísia Trindade, fechando o evento. “A Fiocruz, como a ABC, reforça neste momento a importância da pesquisa científica para a resposta ao momento de pandemia que estamos vivendo”, completou a presidente da Fiocruz.

“O CNPq precisa de aliados”, disse o presidente do CNPq, sobre a contribuição do encontro para a instituição. Segundo Vilela, a entidade tem desenvolvido importantes avanços em conjunto do Ministério da Saúde e com a Fiocruz. Este encontro, promovido pelo IOC/Fiocruz, também foi uma homenagem aos 120 anos completos em 2020 da Fundação Oswaldo Cruz e do Instituto Oswaldo Cruz.