Um dos temas de discussão do I Workshop On-line de Membros Afiliados da ABC, a sala de debate sobre financiamento e interdisciplinaridade foi moderada por Rodrigo Nunes da Fonseca e composta exclusivamente por homens: Daniel Majuste (UFMG), Felipe Bohn (UFRN), Daniel Sadoc Menasche (UFRJ) e Wagner Seixas da Silva (UFRJ). As discussões dos participantes do grupo, aqui relatadas, não representam a opinião do conjunto dos membros afiliados da ABC.

O grupo começou a discussão apontando o quanto o sub-financiamento público tem dificultado os esforços dos pesquisadores, particularmente daqueles envolvidos com a ciência básica. Todavia, alguns grupos de ciência aplicada conseguiram identificar oportunidades interessantes de fomento em determinadas áreas e no contexto internacional. Estes cientistas vêm procurando a adaptação ao cenário atual, sempre trabalhando de forma interdisciplinar e adequando-se às demandas, que vêm se mostrando mais específicas durante a pandemia.

Em relação ao sistema de financiamento, o grupo identificou em todos os âmbitos de fomento – público e privado, nacional e internacional – recursos de ordem superior ao habitual, mas para problemas muito particulares, como no caso das pesquisas relacionadas à COVID-19.

Em nível internacional, foi destacado que o Brasil tem vantagens competitivas, como a mão de obra qualificada e a desvalorização do real. Para parcerias nesse nível, muito têm contribuído os acordos da Capes e do CNPq com órgãos de fomento do exterior; todavia, estes programas precisam de mais recursos. Por outro lado, a desvalorização do real dificulta a ida de pesquisadores para o exterior e o pagamento de bolsas pelas agências nacionais, devido às atuais restrições orçamentárias.

Para diminuir o estrangulamento financeiro da ciência nacional, o grupo apontou direções. Com base nas experiências internacionais, sugeriram a participação da comunidade nos recursos que serão usados pela universidade, como doações de ex-alunos, especialmente os que montaram start ups incubadas que foram bem-sucedidas. Para estimular esse tipo de contribuição, no entanto, é preciso resolver as questões burocráticas das instituições que vão receber os recursos, para que seja um processo facilitado, interessante para os doadores também.

Foi destacado ainda o importante papel das empresas, por meio de parcerias, investindo em linhas de desenvolvimento de novos produtos. Um dos desafios nessa relação é o tempo: para os cientistas, é difícil lidar com exigências de retorno do investimento em curto ou médio prazo, já que a ciência tem um tempo próprio que nem sempre é tão rápido quanto a demanda por lucro das empresas.

Para atrair empresas como parceiras das universidades, o grupo apontou o obstáculo recorrente: a burocracia exagerada para celebrar convênios público-privados, que precisa ser drasticamente reduzida. Nesse sentido, foi sugerida a criação de um documento básico, comum a todas as instituições/universidades, para nortear o estabelecimento de convênios público-privados. A parte legal requer atenção urgente. Qual deveria ser a moeda de troca entre universidades e empresas? Com quem ficam as patentes? Respostas como essas são fundamentais para facilitar os procedimentos.

A interdisciplinaridade, na visão do grupo, é estratégica para lidar com os novos desafios, pois possibilita que se satisfaça as necessidades das empresas (recursos privados) e também da sociedade como um todo (recursos públicos), tendo em vista que os problemas que afligem a sociedade atual, como mudanças climáticas, destinações de resíduos, extinção da biodiversidade, poluição e pandemia, são de natureza eminentemente interdisciplinar.