O presidente da ABC, Luiz Davidovich, conclamou todos os setores da sociedade brasileira a se juntarem às instituições que compõem a Iniciativa para Ciência e Tecnologia no Parlamento (ICTP.br) em defesa da recuperação econômica do país.
A campanha, que foi lançada no dia 8 de julho, 4ª feira, Dia Nacional da Ciência, às 10h, tem por objetivo a liberação dos 4 bilhões e 600 milhões de reais que estão contingenciados pelo governo e que compõem o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT). Estes recursos tem origem em impostos pagos por empresas para o desenvolvimento de pesquisa e inovação em suas respectivas áreas de atuação.
Segundo o físico Luiz Davidovich, presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), estes recursos estão sofrendo desvio de finalidade, sendo utilizados pelo governo para reduzir a dívida pública, o que vai contra a Constituição brasileira. “Ora, já é de domínio público que o que recupera a economia de um país não é o corte de gastos, é a liberação de investimentos. Investimento não é gasto, porque ele traz um retorno imediato.”
Essa lógica que prega a redução da dívida pública como fundamental para a recuperação da economia é, segundo Davidovich, antiga e cruel. “Já não está mais sendo aplicada nos países desenvolvidos e nem nos que estão se desenvolvendo mais rapidamente que o Brasil. Porque aumentar o investimento também reduz a proporção entre a dívida pública e o PIB, aumentando o PIB. Então temos que mudar essa lógica.”
O presidente da ABC destacou que existe uma angústia e uma apreensão muito grande sobre como vai ficar o financiamento da ciência no país. “Essa pandemia serviu para mostrar como a ciência é importante para o Brasil. Não podemos ficar dependendo de insumos importados da Índia, equipamentos de proteção individual [EPIs] importados da China”. E Davidovich alerta que a questão vai além. “A economia brasileira está indo para o brejo, vamos ter uma recessão fortíssima e precisamos de apoio de toda a sociedade para permitir que o país se recupere. E essa recuperação só acontecerá com o aumento dos investimentos”.
Ele explica que vai ser preciso recuperar a estrutura de pesquisa, que tem equipamentos parados nas universidades, estragando. Acrescenta que será necessário incentivar a criação de start-ups para renovar a renovar a indústria, de modo a que haja mais inovação no Brasil. “Precisamos mudar o perfil industrial e de exportação desse país, não podemos depender da exportação de produtos cujo preço depende da bolsa de Chicago. O preço de um produto de alta tecnologia depende do país que produz, então essa é uma questão urgente”, apontou.
Para tanto, Davidovich ressalta que é preciso unir para conquistar. “Essa liberação do FNDCT, que é o fundo brasileiro para ciência, tecnologia e inovação, interessa à indústria, que precisa inovar; interessa às Forças Armadas, cuja capacidade de pesquisa está sendo brutalmente reduzida.”
E de onde virá o dinheiro? Já prevendo a pergunta, o físico deu uma reposta bem clara: do mesmo lugar em que o governo encontrou 5 bilhões para investir no turismo recentemente.
“Sim, é claro que o turismo é importante. Mas esse ano, ele não vai dar retorno ao país. Então liberar o FNDCT significam mais 4 bilhões e 600 milhões para ciência tecnologia e inovação. Como se vê, é pouco, comparado com o que está sendo liberado para outras áreas, mas é essencial para permitir uma recuperação da economia brasileira, para recuperar o processo de desindustrialização que vem corroendo o país já há alguns anos No dia 8 de julho, 4ª feira às 10h, temos então um encontro marcado no lançamento da campanha pela liberação do FNDCT. Até lá.”
As instituições que compõem o ICTP br são a Academia Brasileira de Ciências (ABC); a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes); o Conselho das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap), o Conselho Nacional das Fundações de Apoio às Instituições de Ensino Superior e de Pesquisa Científica e Tecnológica (Confies), o Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (Conif), o Conselho Nacional de Secretários Estaduais para Assuntos de CT&I (Consecti), o Instituto Brasileiro para o Desenvolvimento de Cidades Humanas e Sustentáveis; e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC)