A Coppe/UFRJ, cujo diretor é o Acadêmico Romildo Toledo, firmou parceria com Bio-Manguinhos/Fiocruz e com a empresa FK Biotecnologia-Imunobiotech para a produção de testes sorológicos para diagnóstico da covid-19. Os testes estão sendo desenvolvidos, com apoio da unidade Embrapii-Coppe e do Sebrae, a partir da proteína S (spike) presente na superfície do novo coronavírus. A proteína S está sendo produzida desde fevereiro de 2020 em células geneticamente modificadas no Laboratório de Engenharia de Cultivos Celulares (Lecc) da Coppe, coordenado pela professora Leda Castilho [membro afiliado da ABC 2008-2013].
De acordo com a professora do Programa de Engenharia Química da Coppe, a produção de testes confiáveis no Brasil permitirá ampliar significativamente a testagem da população brasileira, que hoje em dia é muito baixa. “Os testes que detectam anticorpos do tipo IgG, os quais podem estar relacionados à imunidade, são muito importantes para compreender a disseminação da doença, subsidiar modelos epidemiológicos, auxiliar no desenvolvimento de vacinas, assim como permitir que decisões de políticas públicas sejam cientificamente embasadas”, esclarece.
“Os testes sorológicos, mais baratos e simples que o PCR, não detectam o vírus na fase aguda da doença, mas sim os anticorpos gerados pelo organismo algumas semanas após o contágio com o vírus, como parte da resposta imunológica do organismo. Por isso, eles se aplicam mesmo aos cerca de 80% dos indivíduos infectados que não apresentam sintomas, mas que podem ter contribuído para transmitir o vírus”, explica a coordenadora do projeto.
Segundo Leda Castilho, os testes sorológicos podem ser produzidos no Brasil por várias empresas e em grande escala, desde que haja disponibilidade de uma proteína do vírus para atuar como o “coração” do teste. Conforme explica a professora, a proteína S é uma das proteínas responsáveis pela estrutura tridimensional do novo coronavírus, o SARS-CoV-2. “Ela é responsável pela ligação do vírus às células humanas, permitindo a entrada e multiplicação do vírus. A proteína S é um alvo prioritário do sistema imunológico, sendo portanto a proteína mais promissora para o desenvolvimento de ensaios de diagnóstico sorológico”.
Em conjunto com o professor André Vale, do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCCF/UFRJ), foi desenvolvido um teste sorológico do tipo “ELISA” usando a proteína S produzida na Coppe. Quando o plasma de indivíduos convalescentes foi avaliado, o resultado do teste “ELISA” apresentou correlação direta com a capacidade de neutralizar o novo coronavírus, medida no Instituto de Biologia da UFRJ, em trabalho coordenado pelos professores Amílcar Tanuri [membro titular da ABC] e Orlando Ferreira.
Amostras da proteína S produzida no Laboratório de Engenharia de Cultivos Celulares já foram entregues às empresas parceiras, as quais estão produzindo testes do tipo “ELISA” (FK Biotecnologia-Imunobiotech) e do tipo teste rápido (Bio-Manguinhos). Dada a urgência por testes confiáveis para diagnóstico da Covid-19, a parceria apoiada pela Embrapii e pelo Sebrae visa a otimização e o escalonamento do processo de produção e purificação da proteína, para que a tecnologia possa ser implementada em maior escala.
“O escalonamento inicial do processo até escala de biorreator de 50 litros ocorrerá na Coppe, já possibilitando a obtenção de proteína S em quantidade suficiente para produção de dezenas de milhares de testes por semana”, antecipa a professora Leda Castilho.
De acordo com o vice-diretor de Desenvolvimento Tecnológico de Bio-Manguinhos, Sotiris Missailidis, “o Instituto participa com apoio técnico para o escalonamento da produção da proteína S e com o desenvolvimento de um teste rápido para detecção de anticorpos. É uma parceria de inovação aberta; um exemplo de colaboração nacional, de instituições públicas e privadas, para dar resposta às necessidades do País, garantir a independência tecnológica e fortalecer o combate à atual crise da Covid-19. O objetivo final é a produção do teste rápido em larga escala, para atender às demandas do Ministério de Saúde.”
Na avaliação do CEO da FK Biotecnologia-Imunobiotech e professor licenciado da PUC-RS, Fernando Kreutz, o novo teste baseado na proteína S representa uma inovação que pode mudar o paradigma de enfrentamento à pandemia. “O desenvolvimento deste teste é um exemplo de parceria público-privada que dá certo e que transforma ciência em riqueza social”, reforça Kreutz.
Outras parcerias para a produção da proteína S
Outras empresas brasileiras, laboratórios governamentais e pesquisadores de diversas instituições brasileiras também já receberam a proteína S da Coppe com diversas finalidades além da produção de testes diagnóstico. Segundo a professora Leda Castilho, o Instituto Vital Brazil (IVB) recebeu a proteína para a imunização de cavalos para produção de soro anti-coronavírus, e o Hemorio a recebeu para monitorar a quantidade de anticorpos anti-coronavírus em voluntários convalescentes, com objetivo de tratar pacientes graves de Covid-19 mediante transfusão de plasma.
Antes de firmar a parceria apoiada pela Embrapii e pelo Sebrae, o projeto liderado por Leda Castilho recebeu em maio apoio do Senai Cetiqt (RJ), do Senai Nacional, e da empresa CTG para o desenvolvimento inicial da produção da proteína S em pequena escala, em uma ação que envolvia também a utilização da proteína S produzida pela Coppe por Bio-Manguinhos e pela empresa AdvaGen Biotech.