Leia a seguir o texto escrito pelo também Acadêmico Fernando Lázaro Freire Júnior, físico e professor titular da PUC-Rio, em homenagem ao Acadêmico Alceu Gonçalves de Pinho Filho, físico e professor titular da USP e da PUC-Rio, falecido em 13 de janeiro de 2020:

 

Pinho Filho na posse do Prof. Carlos José Pereira de Lucena como decano do Centro Técnico Científico da PUC-Rio, 1980. Foto: Núcleo de Memória da PUC-Rio

O início acadêmico de Alceu Gonçalves de Pinho Filho em física se deu no começo dos anos 50 ao terminar o seu curso secundário e conhecer Ugo Camerini, físico italiano emigrado que havia trabalhado com Cesar Lattes na Universidade de Bristol. Tal encontro aconteceu graças a alguns grandes acontecimentos que motivaram e propiciaram a interação de jovens estudantes com pesquisadores bem conhecidos, como a descoberta do méson pi por Cesar Lattes, colaboradores em 1947 e a criação do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), em 1949.

Alceu graduou-se em 1956 em engenharia civil pela Escola Nacional de Engenharia, Universidade do Brasil, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Permaneceu no CBPF até 1960, quando partiu para a Universidade de Paris (Orsay). Doutorou-se em 1963, sendo orientado pelo renomado físico nuclear Jean Teillac; no ano seguinte, fez pós-doutorado no Centro de Estudos Nucleares de Saclay. Em 1965, retornou ao Brasil e aceitou o convite do Pe. Roser, então diretor do Instituto de Física da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), para integrar o quadro de professores do instituto. Além da incumbência de gerenciar a instalação de um acelerador de íons de porte médio (tipo Van de Graaff, com 4 MV no terminal) – o maior do país naquele momento -, ele também ficou como responsável pela construção de um prédio especial (10 andares, com estrutura específica para segurança radiológica) para abrigar o acelerador, oficinas, pesquisadores e pessoal técnico administrativo.

A atuação do Prof. Alceu nos 23 anos que esteve na PUC-Rio foi enorme e marcante. Consolidou o Grupo de Física Nuclear, até então voltado apenas para Radiações do Meio-ambiente. Investiu na formação de um Grupo de Física de Partículas Elementares, convidando em 1968 os Profs. Erasmo Ferreira e Nicim Zagury para aglutinar o Grupo. Defensor extremado da importância nas universidades de excelência, participou da Reforma Universitária de 1966 que transformou o Instituto para Departamento. Foi coordenador de Pós-Graduação até 1971, quando passou a ser diretor do Departamento de Física.

Pesquisador experimental habilidoso e possuidor de forte base teórica, o Prof. Alceu foi coautor de mais de 50 publicações em física nuclear e física atômica. Seus orientados o têm em alta estima pelo rigor científico dos seus trabalhos.  Dirigiu as aplicações do acelerador de íons da PUC-Rio para física atômica de camadas internas, assumindo posição de vanguarda mundial ao que viria ocorrer na maioria do laboratórios similares.

O sucesso das inovações por ele implantadas no departamento o levou a ser coordenador central de Pós-Graduação (1973-74) e decano do Centro Técnico Científico (1975-81). Nesta posição, promoveu a renovação acadêmica nos Departamentos de Engenharias e de Informática através de um programa de formação de quadro docente de doutores no exterior para esses departamentos.

O Prof. Alceu tomou posse como membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC) em 1973, foi também membro da Academia de Ciências do Estado de São Paulo (Aciesp). Participou da primeira diretoria (diretoria provisória) da Sociedade Brasileira de Física (SBF) em 1966/1967, tendo sido seu presidente em dois mandatos (1971/1973/1975).

Em 1989 transferiu-se para o Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP), onde foi aprovado em concurso para professor titular. Aposentou-se em 2000, tendo sido o diretor-executivo da Fundação Universitária para o Vestibular da USP (Fuvest/USP) por alguns anos.

A física brasileira, e em particular, a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, muito devem ao Professor Alceu falecido em 13 de janeiro de 2020.