A Academia Brasileira de Ciências (ABC) sediou, entre os dias 27 e 29 de novembro, o encontro “Ciência na América Latina: hoje e amanhã”, que reuniu jovens cientistas para discutir suas pesquisas, desafios e ações para o desenvolvimento da ciência na América Latina e Caribe. O evento englobou a 22ª Conferência TWAS-Lacrep (The World Academy of Sciences-Latin America and Caribbean Regional Partner) e a 1ª Conferência Regional da TYAN (TWAS Young Affiliates Network).

Durante esses três dias, os jovens pesquisadores puderam apresentar suas pesquisas, por meio de palestras e sessões de posters; compartilhar com cientistas da mesma região suas experiências e assim descobrir interesses e desafios que têm em comum; e ainda assistiram a conferências inspiradoras de pesquisadores renomados internacionalmente, como os Acadêmicos Paulo Artaxo e Vanderlan Bolzani.

Organizado em sessões temáticas, o evento contou com quatro sessões exclusivas para a apresentação da pesquisa desenvolvida pelos jovens cientistas. Veja a seguir o que os palestrantes têm a dizer sobre o trabalho que realizam com seus grupos de pesquisa:

Sessão 1: Envelhecimento e doenças não transmissíveis

  • Eva Acosta Rodriguez (Argentina) – A imunoterapia aumenta as defesas do corpo (sistema imunológico) para combater o câncer. A imunidade protetora varia em diferentes tumores, atendendo à necessidade de tratamentos “personalizados”. Meu grupo de trabalho estuda um mediador imunológico (IL-17) que pode desempenhar papéis pró e anti-tumorais em diferentes tipos de câncer.
  • Andrea Paula-Lima (Chile) – Periodontite, uma doença inflamatória oral que destrói tecidos de suporte dentário, tem sido associada à doença de Alzheimer. Meu grupo de trabalho mostrou que haveria sorotipos bacterianos específicos que colonizam o hospedeiro por trás da indução de defeitos de memória e cérebro relacionados à periodontite.
  • Yraima Cordeiro (Brasil) – A interação entre proteínas priônicas (PrP) e DNA pode estar por trás da formação de agregados proteicos relacionados a doenças neurodegenerativas. Meu grupo de trabalho descobriu que o DNA controla a separação de fase líquido-líquido de PrP, um processo semelhante às gotículas de óleo dispersas em uma emulsão óleo-água.
  • Alexander de Luna (México) – Utilizamos o fermento como um sistema modelo simples para entender como os fatores genéticos e ambientais e suas interações determinam a vida útil das células. Nossa pesquisa contribui para uma melhor compreensão do envelhecimento das células em leveduras e outros organismos, incluindo seres humanos.

 

Sessão 2: Novas tecnologias para o século XXI

  • Rogério Panizzutti (Brasil) – Recentemente, meu grupo de trabalho observou que o treinamento cognitivo digital em idosos saudáveis pode fornecer benefícios a longo prazo para a cognição e diminuir o risco de desenvolver demência.
  • Antônio José da Costa Filho (Brasil) – Imagine uma bolsa fechada com bolinhas de gude. Como você conseguiu que as tirar as bolinhas para brincar com elas? As células (o saco) têm mecanismos para mover moléculas (as bolinhas) para o exterior. Nosso grupo se concentra nesses mecanismos, geralmente necessários para manter a vida, principalmente sob estresse, como em doenças.
  • Jaqueline Mesquita (Brasil) – Muitos fenômenos no ambiente não ocorrem instantaneamente, mas há um certo tempo entre sua causa e efeito. A teoria das equações diferenciais funcionais é um campo da matemática que pode ser usado para descrever mais precisamente esses tipos de fenômenos.
  • Hernan Grecco (Argentina) – “O caminho da morte: cronometrando a rede caspase para entender a coordenação de eventos apoptóticos” foi o título de sua palestra.

 

Sessão 3: Biodiversidade e Biotecnologia

  • Oswalt Jiménez (Nicarágua) – Minha pesquisa representa um esforço da academia para contribuir com a ciência para resolver problemas práticos sobre a identidade genética de bioinputs e sua utilização na agricultura, com a possibilidade de transferir todo esse conhecimento e benefícios para pequenos agricultores que vivem em condições de pobreza.
  • Alejandra Iboya Domic (Chile) – Nos Andes semiáridos, a conquista européia introduziu animais e plantas exóticas e produziu mudanças nas práticas de manejo da vegetação, favorecendo o estabelecimento de vegetação tolerante à seca e a reconfiguração de comunidades ecológicas.
  • Roland Gittens (Panamá) – Minha pesquisa se concentra em compreender como as propriedades da superfície em nanoescala dos biomateriais podem afetar a resposta das células-tronco para desenvolver uma nova terapia de regeneração de tecidos para combater a neuro degeneração cerebral após um acidente vascular cerebral.
  • Pablo Bolaños (Costa Rica) – Quero saber por que os nadadores do Rio precisam usar bronzeador, mas o milho tropical nunca precisa. Descobri que o milho roxo da Costa Rica, chamado Pujagua, é muito bom em transformar todos os genes para reparo de DNA muito rapidamente, portanto, ao fazer isso, seu DNA é protegido da luz UV. Meu trabalho pode não ajudar os banhistas, mas pode permitir que futuras variedades de milho cresçam felizes sob a luz do sol por muitos anos.

 

Sessão 4: Química para a vida

  • Cláudia Pinto Figueiredo (Brasil) – “O vírus zika se replica no tecido cerebral humano adulto e prejudica as sinapses e memória em ratos adultos” foi o título de sua palestra.
  • Fabián Sáenz (Equador) – A vigilância molecular constante da resistência aos medicamentos é necessária para apoiar o controle e a eliminação da malária. Surpreendentemente, os parasitas da malária no Equador permaneceram geneticamente inalterados para seus marcadores de resistência a medicamentos por várias décadas.
  • Daniel Limonta (Cuba) – Minha pesquisa se concentra no desenvolvimento de novos modelos de infecção ex vivo do vírus Zika no cérebro humano em desenvolvimento para estudos de imunopatogênese e na triagem de medicamentos com atividade anti-ZIKV.
  • Marcelo Farina (Brasil) – O acidente vascular cerebral é uma das principais causas de morte em humanos. Minha pesquisa tem como objetivo investigar possíveis novos fármacos para o tratamento dessa condição (com foco em derivados de produção), visando reduzir a mortalidade e aumentar a qualidade de vida.

 

Os participantes durante o primeiro dia de evento.

 

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