Durante os dias 19 e 20 de novembro, a Academia de Ciências da Hungria, em Budapeste, sediou o Young Researchers Workshop (#YRW2019), organizado pela Global Young Academy (GYA) e a Interacademy Partnership (IAP), antecedendo o 9º Fórum Mundial de Ciências (WSF, na sigla em inglês).

O workshop teve a participação de 40 jovens pesquisadores de diversos países e áreas do conhecimento. O tema central do YRW2019 foi Liderança Colaborativa na Ciência, desenvolvido por meio de três facilitadores das áreas de criatividade e pensamento inovador: Maggie Dugan, dos Estados Unidos, Eshchar Mizrachi, da África do Sul e Sai Setthapong, da Tailândia.

Através de dinâmicas e práticas, foram discutidas as dimensões do modelo de liderança colaborativa: reflexão, empoderamento, estratégia, engajamento, conexão e questionamento. Foram praticadas algumas técnicas criativas de resolução de problemas, como o mind mapping, divergência e convergência, a arte de colocar problemas como perguntas e formas de escuta generosa. Os participantes listaram problemas que identificavam no meio científico, que foram agrupados em categorias, para que fossem propostas possíveis soluções.

“As categorias foram ciência e sociedade, mulheres na ciência, ética na ciência, liderança e mentoria, desenvolvimento pessoal do cientista e financiamento na ciência”, contou a astrofísica Ana Chies Santos, professora adjunta do Departamento de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e membro afiliado da ABC para o período 2018-2022. Ela foi indicada pela ABC para participar do evento e selecionada pelo Comitê Organizador da GYA e IAP. “Debatemos cada um destes pontos em grupos e fizemos apresentações, sugerindo caminhos. Trocamos impressões com os outros grupos, sempre tentando ressaltar o lado positivo, os potenciais, as preocupações e como atingir os objetivos desejados.”

Após o workshop, os participantes se reuniram com os membros da Global Young Academy (GYA) para o lançamento do manifesto das Young Academies. Neste documento, destaca-se a necessidade de reconhecer a perspectiva única de jovens pesquisadores para os muitos desafios que a ciência e a sociedade estão enfrentado e dar voz a estes. “Viu-se que é necessário que os jovens pesquisadores criem novos modelos e não, simplesmente, reproduzam os modelos até agora utilizados pelos mais seniores”, observou Ana Chies.

Durante o restante da semana, os jovens cientistas participaram do Fórum Mundial de Ciência, que este ano teve como temas norteadores Ética e Responsabilidade na Ciência. O Fórum ocorreu na Academia Húngara de Ciências, no Szepmuveszeti Múzeum, no Muppa e no Parlamento Húngaro. A ABC foi representada pela vice-presidente Helena Nader e pelos Acadêmicos Elisa Reis e Paulo Artaxo.

Foram intensos dias de discussão sobre problemas relevantes tanto para os países do hemisfério Norte, quanto do Sul. Alguns temas foram recorrentes nos debates: um deles foi a importância da conexão com a sociedade, num mundo com problemas globais, por um lado, e crescentes nacionalismos, por outro. Segundo Ana Chies, foi visto que “para ampliar a comunicação dos cientistas com a sociedade é, mais do que nunca, importante contar com mediadores e comunicadores científicos.”

A colaboração e a confiança entre os membros da comunidade científica internacional foram apontadas como aspectos que precisam ser cada vez mais estimulados. A luta pela igualdade de gênero em ciência ainda está longe de ser vencida e, por isso, deve no centro das atenções. Além disso, foi ressaltada a importância de as ciências humanas trabalharem juntas com as outras ciências para o bem comum. Destacou-se também a área de diplomacia cientifica, que tem muito a contribuir para uma crescente visibilidade positiva da ciência. “Os cientistas podem e devem estar mais presentes no centro dos debates e do planejamento de políticas públicas, baseadas em evidências”, comentou Ana Chies. “Mas não é colocando um cientista enfurecido na frente de um político que resolveremos os problemas do mundo”, brincou.

O 9º Fórum Mundial de Ciências terminou com a leitura da declaração desta edição, valorizando os 20 anos de diálogo científico internacional e reafirmando o compromisso do WSF com a responsabilidade científica para o bem global, através dos objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU. A meta atual é avançar em quatro pontos principais: ciência para o bem-estar global; fortalecimento dos padrões globais para a integridade na pesquisa; liberdade acadêmica e direito humano à ciência; e a responsabilidade e a ética de comunicar ciência.