A Academia Nacional de Ciências da Alemanha, Leopoldina, e a rede global The InterAcademy Partnership (IAP) estão empreendendo um novo projeto sobre “Mudança climática e saúde”.
As mudanças climáticas já estão afetando a saúde humana e os sistemas de saúde, e espera-se que as mudanças projetadas no clima aumentem a carga de uma variedade de resultados sensíveis ao clima para a saúde. A pesquisa fez muito para contribuir para melhorias passadas na saúde em muitos países, mas, em termos de compreensão do efeitos do clima na saúde, a base de evidências é bastante fragmentada.
Os efeitos das mudanças climáticas na saúde foram relativamente negligenciados pelos formuladores de políticas até recentemente, mas isso está começando a mudar – e requer evidências científicas cada vez mais robustas para orientar as opções políticas e avaliar os compromissos atuais. As ameaças à saúde devem levar a uma ação decisiva das comunidades científicas, de saúde e dos decisores políticos públicos, para proteger a saúde das gerações atuais e futuras, como uma contribuição crítica para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
À luz desses desenvolvimentos, o novo projeto produzirá três relatórios regionais para a África, a Ásia e as Américas (o relatório regional para a Europa já está disponível), que analisarão as respectivas situação sobre mudança climática e saúde e produzirão recomendações de base científica para cada região. Além disso, uma síntese global, que será baseada nos resultados regionais, destacará as semelhanças e diferenças, fornecendo conselhos sobre mudança climática e saúde para a implementação em níveis global, regional e nacional – personalizados de acordo com as circunstâncias locais e as necessidades estratégicas, com especial atenção para as soluções de adaptação e mitigação.
A Academia Nacional de Ciências Alemã, Leopoldina, está liderando este projeto com o apoio do Ministério Federal de Educação e Pesquisa da Alemanha (BMBF), que fornecerá o financiamento para a atividade que está prevista para acontecer de outubro de 2019 a março de 2022. O projeto é co-presidido pelo professor Volker ter Meulen, ex-presidente da Leopoldina e atual presidente da IAP, e por um dos principais especialistas no assunto, o professor Sir Andy Haines, da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres.
Os participantes da primeira reunião do projeto sobre mudança climática e saúde. Foto: Markus Scholz
A rede global de mais de 140 academias nacionais de ciências em todo o mundo, IAP, está estruturada de acordo com quatro redes regionais, que compreendem as academias de ciências da África, Ásia, Américas e Europa. Peritos e representantes dessas quatro redes regionais – AASSA (Ásia), EASAC (Europa), IANAS (Américas) e NASAC (África) – reuniram-se em Halle, Alemanha, de 4 a 5 de novembro de 2019 para a primeira reunião do projeto.
Durante a reunião, os participantes contribuíram com suas perspectivas regionais de base científica e pontos de partida para um projeto global sobre mudança climática e saúde. Eles também discutiram o desenho do projeto e o roteiro em mais detalhes. O foco proposto está nas medidas tanto de adaptação, quanto de mitigação da mudança climática, onde isso também traz co-benefícios para a saúde.
O professor da FMUSP Nelson da Cruz Gouveia. Foto: IEA-USP
Indicado pela ABC, o professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) Nelson da Cruz Gouveia foi um dos quatro representantes da rede regional das Américas. Ele destacou a urgência do tema: “A OMS [Organização Mundial da Saúde] estima que, entre 2030 e 2050, as mudanças climáticas causem aproximadamente 250.000 mortes adicionais por ano, devido à desnutrição, malária, diarreia e estresse térmico. Ou seja, é imperativo que se discuta cada vez mais a relação entre mudança climática e saúde, e que o foco das discussões sobre medidas de mitigação e adaptação levem em consideração a saúde da população”.
A nível nacional, o doutor em saúde pública pela Universidade de Londres afirmou que, primeiro, “é preciso que o governo brasileiro entenda a gravidade da questão e reconheça o importante papel que tem nosso país do ponto de vista ambiental”. “É preciso garantir que os impactos na saúde sejam integrados nas políticas nacionais de enfrentamento das mudanças climáticas, com foco especial na redução das desigualdades em saúde por meio de ações de mitigação e adaptação”, ele concluiu.
Após a reunião inicial, a próxima fase se concentrará na criação de grupos regionais de especialistas de cientistas destacados, bem como formuladores de políticas e profissionais que podem contribuir para o estudo das academias sobre mudança climática e saúde. Cada rede regional organizará seu próprio workshop, que irá reunir uma ampla experiência e ajudar a esclarecer o foco regional específico de cada estudo. Subsequente às fundações estabelecidas no workshop, haverá duas reuniões dos grupos de trabalho, durante as quais os participantes concordarão em uma análise regional para a mudança climática e saúde, e formularão suas recomendações científicas.
Os relatórios regionais da NASAC, AASSA e IANAS (juntamente com qualquer material atualizado da EASAC) serão publicados e lançados em 2021 e serão usados para engajar os formuladores de políticas regionais, a comunidade científica e outras partes interessadas. Paralelamente, será elaborado o relatório de síntese global, que estará pronto até o final de 2021 para comunicação com a OMS e outras partes interessadas globais.