Durante o 4º Encontro de Jovens Cientistas do BRICS, realizado entre os dias 6 e 8 de novembro, na sede do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), ocorreram diversas sessões, sobre temas de intereese geral.

Diplomacia científica

O tema foi abordado em 7/11 pelo presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Luiz Davidovich, que foi o palestrante principal. Para ampliar a discussão, um jovem cientista de cada país do bloco foi convidado para a discussõa: Arthur Oliveira (Brasil), Vera Iurak (Rússia), Chithra Lekha (Índia), Xiaoxu Chang (China) e Bongiwe Mcata (África do Sul).

Xiaoxu Chang (China), Vera Iurak (Rússia), Arthur Oliveira (Brasil), Luiz Davidovich, Chithra Lekha (Índia) e Bongiwe Mcata (África do Sul)

Davidovich destacou a sua participação no livro “New Frontiers in Science Diplomacy”, no qual são definidas as três dimensões da diplomacia científica: ciência na diplomacia, que consiste em informar os objetivos de política externa com aconselhamento científico; a diplomacia para a ciência, que busca facilitar a colaboração científica internacional; e a ciência para a diplomacia, que utiliza a colaboração científica para melhorar as relações internacionais entre países.

Segundo Davidovich, o mundo enfrenta problemas na distribuição de água e de energia, no acesso à segurança alimentar, e “há uma grande quantidade de pessoas vivendo com menos de 2 dólares por dia”. Para ele, todos esses fatores estão diretamente relacionados, demonstrando uma distribuição desigual de recursos e gerando, até mesmo, a poluição nos países. Trata-se de um assunto de interesse internacional, porque a desigualdade resulta em guerras e doenças que se espalham com a globalização. É nesse sentido que a diplomacia científica se torna muito importante. “Problemas globais requerem soluções globais”, afirma.

Para Luiz Davidovich, um dos grandes problemas enfrentados pelos países do BRICS é a administração de grandes aglomerados, que envolve várias dificuldades relacionadas ao saneamento, ao transporte, à água e à comida. Diante desse cenário, ele destaca uma citação do livro “Inventing the Future”, do ex-presidente da ABC, Jacob Palis e Ismail Serageldin, diretor da Bibliotheca Alexandrina, no Egito: “A ciência não é apenas uma cultura de dimensões globais, ela induz uma corrente cultural que afeta forte e positivamente as sociedades nas quais floresce”.

Após as falas dos jovens cientistas, que explicaram o que as academias de ciências de seus países têm feito em prol do desenvolvimento científico, a plateia levantou um questionamento muito atual: como a diplomacia científica pode ser pode ser utilizada pelos cientistas em uma era de fake news?

Para Davidovich, a ação deve começar desde cedo, já no ensino fundamental, para mostrar às crianças a “beleza de fazer ciência”. Além disso, ele destaca a importância de projetos como o Ciência Gera Desenvolvimento, criado pela ABC, que consiste na produção de vídeos curtos que mostram, com exemplos reais, como a ciência pode ser traduzida em benefícios palpáveis para todo um país. “Nós, cientistas, precisamos ser bastante proativos e divulgar notícias verdadeiras sobre a ciência”, reforçou o presidente da ABC.

Os jovens cientistas durante o debate com o presidente da ABC, Luiz Davidovich

Colaboração entre os jovens cientistas do BRICS

Os jovens cientistas também se mostraram dispostos a trabalhar em prol da diplomacia científica, a partir da colaboração em pesquisas. Durante a sessão conjunta “Promovendo a cooperação científica, tecnológica e de inovação no BRICS a longo prazo, através da parceria entre Academias de Ciências e Jovens Cientistas”, contribuíram para a perspectiva dos jovens cientistas Patrícia Zancan (Twas Young Affiliates Network – Tyan / Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ); Iurii Afonin (Instituto Estadual de Economia, Finança, Lei e Tecnologia de Gatchina, Rússia); Charu Makhija Maurya (Índia); Shouling Ji (China); e Uraisha Ramlucken (Universidade de Pretoria, África do Sul).

Para Charu Maurya, a troca de conhecimento por meio da cooperação no BRICS torna os pesquisadores melhores, além de formar novas amizades. Os projetos em conjunto são oportunidades para combater problemas em comum e tornar as tecnologias disponíveis para as diferente sociedades dos BRICS e suas futuras gerações, a partir do compartilhamento das melhores práticas e recursos.

Durante o debate, um dos principais temas abordados foi a necessidade de uma plataforma para a comunicação entre os cientistas dos BRICS. A diretora da ABC Márcia Barbosa encorajou os jovens cientistas a se organizarem e criarem uma plataforma online para se conectarem de acordo com os objetivos de pesquisa de cada um.

Para o pesquisador chinês Shouling Ji, a plataforma é essencial para uma colaboração bem sucedida: para completar a receita, basta adicionar os interesses em comum, a comunicação e a compreensão.

 

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