Diretor científico da FAPESP recebe distinção concedida pela agência de inovação da universidade a personalidades com contribuições notáveis para o desenvolvimento da ciência, tecnologia e inovação no país (foto: Denise Senda/Inova UFABC)

Carlos Henrique de Brito Cruz [membro titular da ABC], diretor científico da FAPESP, recebeu o prêmio Referência em Inovação em cerimônia realizada em 18 de outubro na Universidade Federal do ABC (UFABC), campus Santo André.

Concedido pela Inova UFABC, agência de inovação da universidade, o prêmio visa reconhecer personalidades com notáveis contribuições para o desenvolvimento da ciência, tecnologia e inovação no país.

Nas edições anteriores foram homenageados Fernando Galembeck [membro titular da ABC], professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp); Rogério Cézar de Cerqueira Leite, professor emérito da Unicamp; Helena Bonciani Nader [vice-presidente da ABC], professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp); e Adelaide Maria de Souza Antunes, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

“É uma grande satisfação para a UFABC outorgar esse prêmio ao professor Carlos Henrique de Brito Cruz em reconhecimento à sua trajetória científica, além de gestor de instituições, como a Unicamp, da qual foi reitor, e também por sua atuação junto à FAPESP, que tem sido umas principais apoiadoras da inovação no Estado de São Paulo”, disse Wagner Alves Carvalho, vice-reitor da UFABC.

Engenheiro eletrônico e físico, Brito Cruz é professor no Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW) da Unicamp, onde foi reitor de 2002 a 2005.

Graduou-se em engenharia eletrônica no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). Obteve os títulos de mestre e de doutor no IFGW, onde leciona desde 1982. Atualmente, é professor titular no Departamento de Eletrônica Quântica.

Foi pesquisador visitante no Laboratório de Óptica Quântica da Universitá di Roma, no Laboratório de Pesquisa em Femtossegundo da Universitè Pierre et Marie Curie e pesquisador residente nos AT&T’s Bell Laboratories em Holmdel, New Jersey.

Brito Cruz é membro da Academia Brasileira de Ciências e é Fellow da American Association for the Advancement of Science. Recebeu a Ordre des Palmes Academiques da França, a Ordem do Mérito Científico do Brasil e a Ordem do Império Britânico (OBE) em 2015.

Na Unicamp, antes de ocupar o cargo de reitor, foi diretor do IFGW de 1991 a 1994 e de 1998 a 2002, pró-reitor de Pesquisa de 1994 a 1998. Foi presidente da FAPESP de 1996 a 2002.

Uma trajetória de pesquisa e de gestão

“O professor Brito Cruz foi idealizador durante sua gestão como reitor da Unicamp da agência de inovação da universidade, a Inova Unicamp, uma das pioneiras no país. Ele trouxe a ideia, fez a agência nascer e tem continuado esse trabalho na FAPESP de dar apoio à inovação, que é muito importante nesse momento que o país vive”, destacou Marcelo Knobel, reitor da Unicamp, em um vídeo exibido durante a cerimônia com depoimentos de pessoas que acompanharam a trajetória acadêmica, científica e de gestor de instituições de ciência, tecnologia e inovação de Brito Cruz.

Marilda Solon Teixeira Bottesi, assessora especial para colaborações em pesquisa da FAPESP, ressaltou que quando Brito Cruz iniciou seu primeiro mandato como diretor científico da FAPESP, em 2005, a Fundação possuía dois acordos de cooperação internacional, e hoje são mais de 300. “A maioria desses acordos tem apresentado excelentes resultados”, disse Bottesi.

Por sua vez, Renato Atílio Jorge, professor da Unicamp e assessor da diretoria científica da FAPESP, relembrou a participação de Brito Cruz em um movimento, na década de 1980, com o intuito de aumentar de 0,5% para o percentual atual de 1% da receita do Estado de São Paulo para a Fundação financiar suas atividades de apoio à pesquisa, desenvolvimento tecnológico e inovação. “O que nos aproximou, também, foi o objetivo comum de transformar a Unicamp em uma universidade de excelência”, disse.

Roberto Freire, presidente do Partido Popular Socialista (PPS), disse que Brito Cruz, que conheceu por meio da atuação política, teve grande influência na afirmação de sua convicção de que a ciência, o desenvolvimento tecnológico e a inovação são fundamentais para o progresso do país.

“Ele sempre foi um homem antenado com o seu tempo, iluminista, com a visão de um mundo mais solidário, que é uma concepção comunista e, nesse sentido, foi para mim alguém muito importante ao indicar a necessidade de que o Brasil precisa seguir o rumo da ciência, da pesquisa e desenvolvimento e das inovações tecnológicas”, afirmou.

Um dos dois irmãos de Brito Cruz, José Humberto, embaixador e, atualmente, cônsul-geral do Brasil em Bruxelas, na Bélgica, disse que Brito Cruz desde pequeno apresentava vocação como pesquisador experimental.

“Em uma casa de classe média no Brasil, nos anos 1960, era comum que os aparelhos eletrodomésticos apresentassem problemas de funcionamento. O que não era comum era ter em casa um irmão com talento extraordinário para adaptar equipamentos, resolver problemas e encontrar soluções que quase sempre davam certo”, relembrou.

Em defesa da “boa universidade”

Em seu discurso de agradecimento, Brito Cruz elencou, além da casa dos pais, outras “escolas” que frequentou ao longo de sua trajetória: o colégio Dante Alighieri, em São Paulo, o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), o Partido Comunista Brasileiro e os Laboratórios Bell. “Foram os lugares onde juntei ideias e conhecimento para construir minha vida profissional.”

Brito Cruz falou sobre sua satisfação de acompanhar o progresso da UFABC, uma das universidades federais mais jovens do Brasil e já reconhecida como uma das principais instituições de pesquisa do país.

“Precisamos estar unidos para defender a boa universidade pública, o progresso do conhecimento e a boa educação, com princípios humanistas, de solidariedade, de amor pela precisão, pela ciência, como se faz nas boas universidades. E uma delas é a UFABC”, afirmou.

Brito Cruz avaliou que uma das frentes importantes de uma universidade é conectar a educação e a pesquisa às oportunidades de mercado, mas ponderou que o papel das universidades vai muito, muito além.

“A universidade é multidimensional. É um lugar onde se faz não só a interação com empresa, mas também a pesquisa fundamental motivada pela curiosidade, onde os estudantes aprendem a aprender, além de muitas outras atividades, de modo que uma ação possa ajudar a outra para criar uma tal sinergia que permita à universidade cumprir a função para a qual foi criada pela sociedade, que é facilitar a descoberta, a educação e o acesso da sociedade aos benefícios do conhecimento ”, avaliou.

Durante a cerimônia também foram homenageados pesquisadores da UFABC que contribuíram para a geração de novas tecnologias e que participaram de projetos de pesquisa ou outras maneiras de interação com o setor produtivo e que contribuíram para a transferência de tecnologia gerada na universidade para a sociedade.