Mas essa não é a maior preocupação de seu novo diretor, [o Acadêmico] Romildo Dias Toledo Filho. O processo de desindustrialização que o Brasil tem vivenciado nas últimas décadas também é uma ameaça porque fecha as portas de saída para os 500 a 600 mestres e doutores que o instituto forma anualmente. “Em alguns lugares do mundo, os mestres e doutores terminam seus cursos e vão trabalhar nas indústrias. Aqui a maioria fica na academia”, disse Toledo em entrevista ao Jornal da Ciência, a primeira que concede desde que foi eleito para substituir o atual diretor, o professor Edson Watanabe.
Professor titular da UFRJ, Romildo Toledo entrou para a Coppe em 1999 e ocupava até agora a vice-diretoria da instituição. Coordenador do Núcleo de Materiais e Tecnologias Sustentáveis (Numats) e do Laboratório de Estruturas e Materiais (Labest), ele também é coordenador executivo do Centro Brasil-China de Mudanças Climáticas e Energias Renováveis, uma parceria entre a Coppe e a Universidade de Tsinghua, em Pequim, na China.
Toledo foi eleito com 878 votos da comunidade acadêmica para o comando da instituição no período 2019-2023, junto com a professora Suzana Kahn Ribeiro, que será a vice-diretora. Ambos tomarão posse em 2 de agosto para liderar uma estrutura de ensino considerada referência internacional. Mestre em planejamento energético e doutora em engenharia de produção, Suzana Kahn Ribeiro tem como linha de pesquisa o planejamento e a organização do sistema de transporte, com foco em mobilidade sustentável, energia renovável, mudança climática e cidades e meio ambiente.
Fundada em 1963, pelo engenheiro Alberto Luiz Coimbra, a Coppe formou mais de 16 mil mestres e doutores nestes 56 anos. A instituição faz parte de um ecossistema que conta com 131 laboratórios e duas incubadoras de empresas, acoplados ao Parque Tecnológico da UFRJ. São 346 professores, 2.500 alunos de mestrado e doutorado, cerca de 700 técnicos-administrativos. Atualmente seus 13 programas de pós-graduação em engenharia incluem áreas novas como a nanotecnologia da saúde, química-verde, óleo e gás, energia, planejamento energético. E 70% dos cursos são avaliados com conceitos de excelência internacional (6 e 7) atribuídos pela Capes.
A Coppe é um dos poucos centros de pesquisa brasileiros onde a infraestrutura recepciona projetos industriais públicos e privados. Tem firmados aproximadamente 1.200 convênios e contratos com grandes empresas, somando R$ 380 milhões ao orçamento anual da instituição, sendo a grande maioria (60%) proveniente do setor de petróleo e energia. Isso significa que os maiores clientes são estatais – Petrobrás, Furnas – mas também há grandes multinacionais brasileiras e estrangeiras (AmBev, L’oreal, General Electric, British Petroleum). As empresas pagam pela montagem de laboratórios, compra de equipamentos, pesquisadores e bolsistas. Startups, pequenas e médias empresas de alunos, ex-alunos e pesquisadores convivem com as grandes no mesmo ecossistema. “Nós ajudamos as empresas a desenvolver soluções para inovação industrial”, comentou Toledo.
“A Coppe tem hoje uma infraestrutura moderna, capaz de atender aos desafios do setor industrial brasileiro”, disse Toledo. “Mas tudo isso requer um custeio, então quando tem um corte de 40%, cria dificuldade”. O corte a que Toledo se refere foi o que atingiu este ano o orçamento da UFRJ, instituição responsável por todo o custeio da Coppe.
Para Toledo, o papel da Coppe é “continuar formando recursos humanos para atender as grandes demandas da sociedade”, e também manter funcionando um ecossistema de inovação e empreendedorismo exemplar. Em um momento no qual as instituições públicas de ensino e pesquisa passam por pressões vindas de Brasília e questionamentos vindos da sociedade, ele acredita que tem muito a mostrar na defesa da instituição, citando como exemplo tecnologias de ponta desenvolvidas em seus laboratórios, como o ônibus a hidrogênio (H2+2), o trem de levitação magnética (Maglev-Cobra).
“Temos que ser um polo vivo de demonstração, não só na formação de RH, que é importante porque nenhum país consegue evoluir sem capital humano”, afirmou. “Mas, além disso, a ciência de alto nível não pode ser desacoplada da industrialização. Esse é o caminho, é um desafio da universidade pública que acho que a Coppe encarna muito bem, temos que ter isso articulado com o mundo externo e interno”.