Como é o dia a dia de um professor da universidade pública no Brasil? Entre alunos da graduação e pós-graduação, os professores se organizam para dar aulas, corrigir provas, orientar e também ensinar os alunos a estudar e a chegar a suas próprias descobertas. Professora titular do Departamento de Bioquímica da Universidade de São Paulo (USP), a Acadêmica Alicia Kowaltowski compartilhou um pouco de sua rotina como docente e pesquisadora no USP Talks, que aconteceu dia 25 de junho, no auditório do Museu de Arte de São Paulo.

Com o tema “Universidades Públicas”, o evento foi mediado pelo jornalista científico Herton Escobar e contou também com a participação de Marcos Buckeridge, professor do Instituto de Biociências da USP. Os vídeos estão disponíveis no canal do USP Talks no YouTube, onde também é possível assistir a todos os encontros anteriores, em que professores e outros especialistas ligados à academia falam sobre temas diversos de interesse da sociedade, como corrupção, agrotóxicos, inteligência artificial e a busca por vida em outros planetas.

Durante a palestra, a Acadêmica falou sobre sua atuação como docente: “Eu preciso ser exigente porque a gente tem alunos espetaculares, e seria uma ofensa à capacidade e à inteligencia desses alunos, muito bem selecionados que a USP recebe, não ser um professor que puxa eles para a frente, que exige que eles aprendam tudo que eles podem aprender. Na verdade, eu também preciso ser exigente porque é uma universidade pública, porque essa universidade é paga com o dinheiro de impostos de todos nós, e seria uma irresponsabilidade minha usar mal esse dinheiro investido nesses estudantes”.

Kowaltowski observou que, há séculos, se percebeu que os cientistas eram as melhores pessoas para ensinar em nível superior. Isso porque eles estão na fronteira do conhecimento, são as pessoas mais atualizadas, e não só detém o conhecimento atual, como sabem buscar novas fontes de conhecimento.

“É por isso que se criou esse conceito de universidade, como um local que em que se faz ciência, e um local em que o pesquisador cientista é também o professor que vai passar o conhecimento para frente. Esse é um modelo que funciona no mundo todo e no mundo todo as universidades de ponta são aquelas que fazem pesquisa de ponta”, ela explicou.

Como cientista, a Acadêmica pesquisa no Laboratório de Metabolismo Energético do Instituto de Química da USP. Ela contou que o trabalho do laboratório já foi citado 8 mil vezes como referência em outras pesquisas, e indicou que o número de citações recebidas por um trabalho é um dos métodos possíveis para se avaliar a ciência que é feita.

E, na realidade, explicou Kowaltowski, “Não tem uma pessoa que descobre a cura para uma nova doença. Isso não existe. Existem milhares de cientistas no mundo inteiro, trazendo novos conhecimentos, que são como se fossem tijolos, e outros cientistas construindo em cima desses tijolos, até a gente gerar um grande edifício que é o conhecimento, que traz o desenvolvimento”. Ela completou: “E a descoberta final a gente não pode atribuir a uma pessoa, porque existem milhares de cientistas por trás”.

Após a palestra, a cientista também participou de uma conversa com Escobar e Buckeridge. Confira no vídeo abaixo: