Leia abaixo artigo do Acadêmico Marcelo Viana, publicado pela Folha de S. Paulo em 29 de maio:

“O mundo moderno começou em 29 de maio de 1919, quando fotografias do eclipse solar tiradas […] em Sobral, no Brasil, confirmaram a verdade de uma nova teoria do universo.” Assim começa o livro “Tempos modernos”, do historiador Paul Johnson, celebrando o experimento que confirmou a previsão da teoria da relatividade geral de Einstein sobre o encurvamento da luz sob a ação da gravitação, exatamente cem anos atrás.

No Brasil, não faltaram aqueles que criticavam o esforço “inútil”, defendendo que os recursos deveriam ser utilizados em coisas “com retorno para a população”. Felizmente, isso não impediu os astrônomos britânicos de irem em frente, com o apoio do nosso Observatório Nacional, consolidando uma área da ciência com inúmeras aplicações nos nossos dias.

 

Uma das chapas fotográficas do eclipse solar em 1919, obtidas em Sobral, no Ceará. (Observatório Nacional). – Observatório Nacional

 

O sucesso do experimento transformou Einstein em uma celebridade do dia para a noite: nenhum cientista na história foi tão conhecido do público. Seu colega Paul Langevin chamava-o de “o papa da ciência”. Mas Einstein também cometeu erros.

Um deles foi no próprio cálculo do encurvamento da luz: antes, ele havia previsto um valor que era menos da metade do correto. Deu sorte que foi impossível observar o eclipse de 1912, que poderia ter invalidado essa previsão! Em 1915, publicou a versão definitiva da teoria, com o valor correto (1,75 segundos de arco), confirmado em 1919.

O erro mais importante de Einstein foi sua oposição à mecânica quântica, cujas conclusões contraintuitivas nunca aceitou. Morreu antes que experimentos comprovassem que entre a intuição humana e as bizarrices quânticas a natureza sempre opta por estas últimas.

Logo depois de 1915, foi constatado que, pela equação de campo de Einstein, o universo deveria estar em expansão. Chocado com essa previsão, em 1917 ele optou por modificar a equação, adicionando uma “constante cosmológica” que representaria a energia do vácuo. Mas em 1931 o astrônomo norte-americano Edwin Hubble descobriu que o universo está realmente se expandindo! Einstein renegou então a constante cosmológica, considerando-a seu maior erro.

Ironicamente, em 1998 foi descoberto que a expansão do universo está  se acelerando. Esse fato é atribuído à presença de “energia escura”, da qual não sabemos praticamente nada, mas que poderia corresponder à constante cosmológica. Então, o “maior erro” pode acabar sendo uma profecia involuntária!

Há outro erro de Einstein com uma história rocambolesca, na descoberta das ondas gravitacionais. Esse fica para outra ocasião.

Neste momento, vale a pena lembrar que a pequena Sobral, no interior do Ceará, também é famosa por ter um dos melhores sistemas educacionais do país, e ótimos resultados na Olimpíada de Matemática. Você acha que é coincidência?

 

Marcelo Viana

Diretor-geral do Instituto de Matemática Pura e Aplicada, ganhador do Prêmio Louis D., do Institut de France.