Especialista em análises econômicas de questões ligadas à educação, o economista Eric Hanushek, da Universidade de Stanford, nos EUA, proferiu uma Conferência Magna na reunião Magna da ABC, no dia 15 de maio, no Museu do Amanhã.

Graduado na Academia da Força Aérea dos Estados Unidos e doutor em economia no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês), Hanushek é membro sênior da Universidade de Stanford. Desenvolveu inúmeros estudos, altamente citados, sobre os efeitos da redução do tamanho de turmas escolares e da avaliação da qualidade do professor. Introduziu a ideia de medir a qualidade do professor através do crescimento do desempenho dos alunos, que forma a base para o desenvolvimento de medidas de valor agregado para professores e escolas. Mais recentemente, Hanushek mostrou que a qualidade da educação está relacionada ao crescimento econômico nacional.

Hanushek comentou que os 17 objetivos que se espera alcançar até 2030 são ambiciosos e que se deteria no ODS 8, relativo a recursos econômicos e desenvolvimento, porque este é necessário para alcançar os outros 15. E trataria do ODS 4, referente à educação de qualidade, “porque esta é a única forma de se alcançar o crescimento econômico.”

Prioridade na educação para garantir o futuro

Ele explicou que desenvolvimento requer competências estabelecidas. “O futuro é totalmente dependente das habilidades e capacidades da população de hoje”, argumentou Hanushek. Assegurou que o valor da melhoria das escolas e da escolaridade é enorme e que esta melhoria é possível. “Já vimos isso ocorrer em alguns lugares do mundo, então pode acontecer aqui ou nos Estados Unidos.”

A base da mudança é a continuidade. “Não adianta fazer uma coisa aqui, hoje, e depois não dar seguimento.” Para Hanushek, apesar das dificuldades tributárias e previdenciárias, o Brasil tem que pensar em soluções para alcançar o desenvolvimento.

Capital do conhecimento em 2012 a proporção dos alunos que estavam concluindo o fundamental e iniciando o ensino médio. Idade de 15 anos – dados antigos, mas são o pano de fundo da situação atual.

O número de anos de escolaridade da população tem relação direta com o crescimento econômico, mostrou Hanushek em um gráfico. Porém, se o aluno frequenta a escola, mas não aprende nada, este dado perde o significado. “A qualidade da aprendizagem é que dá resultados consistentes e está associada ao crescimento econômico”, apontou o palestrante, referindo-se ao baixo desempenho do Brasil no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), ranking de avaliação da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE). “Esses testes requerem evolução em habilidades e conhecimentos e isso tem valor econômico”, destacou Hanushek.

E não há possibilidade de indicativo de melhora se não houver investimento na escola. O especialista fez duas projeções: numa, as escolas brasileiras atingindo o mesmo nível das mexicanas, que tem resultados melhores. Isso corresponderia a um avanço de 25 pontos no PISA e a um aumento de 4 trilhões de dólares no PIB. “Todos os trabalhadores no país ganhariam 11% a mais”, acrescentou..

A outra projeção inclui mais alunos nas escolas. Se o Brasil atingisse o objetivo de ter todos os jovens de 15 anos matriculados no ensino médio, capacitados resolver problemas básicos como conversão de moedas, o aumento do PIB seria de 23 trilhões de dólares, com aumento de salários de 32%para todos os trabalhadores.

E como melhorar o capital de conhecimento, conhecimento e aprendizado?

Para responder, Hanushek tomou como exemplo alguns países que participaram de testes internacionais nos últimos 50 anos. O Japão melhorou, a Noruega caiu e se recuperou, a Alemanha não chegou a cair muito, mas teve recuperação e foi além, com grande avanço. E como esses países investiram em educação nesse período? “Não é só colocar mais dinheiro, mas sim controlar como esse dinheiro é aplicado”, explicou. E os resultados de estudo mostram que para evoluir, o que é necessário em primeiro lugar é melhorar a qualidade dos professore. “Em segundo lugar, melhorar a qualidade dos professores. E em terceiro… melhorar a qualidade dos professores”, brincou, fortalecendo assim sua ideia.

Ele mostrou um estudo que fez numa escola muito pobre de uma cidade no estado de Indiana, onde o forte era a indústria do aço, que teve deterioração muito intensa e aguda. “As turmas com os melhores professores obtiveram melhores resultados e, para isso é preciso estabelecer com as escolas contratos de sucesso. Hanushek deu como exemplo o estado Ceará, no Brasil, onde foram feitos acordos do governo com os professores, com bônus por resultados. “Incentivos são a chave. Melhores resultados, mais dinheiro, um círculo virtuoso num estado muito pobre, onde a eficiência nas escolas fez a diferença”, acentuou.

No entanto, se o Brasil crescer sem nenhuma mudança ate o final do século, vai ficar como está hoje. Hanushek assegurou que se o país não melhorar a educação, estará abrindo mão de grande quantia de dinheiro, suficiente para resolver os problemas de pobreza, saúde e saneamento.

“O Brasil está muito defasado”, alertou o cientista, reiterando que a qualificação da força de trabalho se traduz em melhores resultados. “A melhora não é imediata, leva tempo até as crianças crescerem e se transformarem em força de trabalho. Mas crianças inteligentes se destacam, são capazes de desenvolver novas invenções e inovações que contribuem para a economia.”

Concluindo, Eric Hanushek reforçou sua ideia inicial: de que o Brasil não deve negligenciar o futuro por conta de crises econômicas, se deter em problemas políticos ou fiscais. “A economia depende da qualidade da força de trabalho, que está baseada nas habilidades e competências dos indivíduos e, portanto, da qualidade da educação básica”, repetiu. Fica a dica. Ou melhor, os resultados de estudos científicos. Ciência.

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