A redução de investimentos ocorreu ao mesmo tempo em que tempestades poderosas se tornaram mais frequentes. A desta segunda-feira (8) foi a maior dos últimos 22 anos.
No auge do temporal no Rio, o prefeito Marcelo Crivella, numa entrevista por telefone, considerou a situação fora do normal: “Essa é uma chuva completamente atípica. A gente sempre tem previsão de chuva forte, mas não assim, com esse dobro de intensidade que é a média do mês de abril inteiro”.
Outras duas tempestades também causaram estragos e mortes na cidade apenas em 2019. Mas este volume de chuva está longe de ser um fenômeno isolado. O climatologista Carlos Nobre afirma que esses temporais fazem parte de uma nova realidade: “ O oceano todo está mais quente, o planeta todo está mais quente. Por exemplo, São Paulo, 3°C, 3,5°C mais quente do que antes, do que 100 anos atrás. O Rio de Janeiro, que está próximo do oceano, esse efeito é menor, 1,5°C, na zona norte do Rio, 2°C. Mas, de qualquer modo, são 1,5°C, 2°C mais quente, então, quando a quando a frente fria está chegando, ela encontra uma bolha de ar mais quente e úmida do que as periferias, as regiões que não são urbanizadas”.
São Paulo também ficou debaixo d’água no mês passado. Treze pessoas morreram. A série histórica de chuvas na capital paulista revela que, ao longo das últimas décadas, as tempestades têm sido mais fortes e frequentes. Chuvas a partir de 80mm têm o poder de causar inundações e deslizamentos de terra na Região Sudeste.
Nesta segunda (8), o Rio de Janeiro registrou o maior temporal desde 1997, segundo o Climatempo, com base em dados do Instituto Nacional de Meteorologia.
No intervalo de 24 horas, choveu em média quase 190 milímetros. Em alguns lugares, o índice superou os 300 milímetros, como na Rocinha (343,4 mm) e na Barra da Tijuca (335,2 mm).
Preparar as cidades para as mudanças que estão acontecendo no clima é um desafio que não aparece na lista de prioridades de muitos governantes. De acordo com os especialistas, com recursos cada vez mais escassos em ciência e tecnologia, orçamentos enxutos para prevenção de desastres e também para o desenvolvimento de novos sistemas de monitoramento do clima e alertas a população, não será possível dar conta do que vem por aí.
“Os Estados Unidos é todo mapeado com estações meteorológicas, de radares, informações de satélite e tudo mais. O Brasil é pobre em estações meteorológicas e não adianta eu mapear todo o Rio de Janeiro se não souber o que está acontecendo em São Paulo, se São Paulo não souber o que está acontecendo no Paraná. É uma sequência, meteorologia não tem fronteira. Então, o que falta é medição. Faltam dados de uma forma geral em todo país”, explica a meteorologista do Climatempo Patrícia Madeira.
Outras medidas também são urgentes. “Nós temos que pôr na cabeça de todos nós, da população, dos governantes, que essa será a nova normal. Portanto, não é uma situação absolutamente atípica. Isto cada vez mais vai acontecer e nós temos que preparar a sociedade para se adaptar, ser mais resistente a esses extremos climáticos”, diz Carlos Nobre.