Na oitava sessão da Conferência IAP-SPEC, ocorrida em 29 de março no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), os palestrantes apresentaram novas estratégias para empoderar os menos favorecidos, pautadas na transferência de renda, na educação e na inovação.

Participaram da mesa o moderador Wang Yi (Institutos de Ciência e Desenvolvimento da Academia Chinesa de Ciências), Sarah Cook (Universidade da Nova Gales do Sul), Marcelo Carvalho de Andrade (Pro-Natura) e Elisa Reis (Universidade Federal do Rio de Janeiro), representando a palestrante Ratna Ghosh (Universidade McGill).

Wang Yi, Sarah Cook e Marcelo Carvalho de Andrade

O papel dos programas de transferência de renda na redução das desigualdades

Sarah Cook é diretora do Instituto do Desenvolvimento Global da Universidade de Nova Gales do Sul e passou a última década pesquisando sobre posições de liderança na Organização das Nações Unidas (ONU).

Cook tratou em sua apresentação do impacto empoderador que os programas de proteção social podem ter sobre as famílias mais pobres. As políticas sociais são muito positivas para a proteção, distribuição de renda e transformação social; porém, a especialista lembrou que “criar empoderamento, criar os resultados que você deseja, sempre será complexo; não há apenas uma solução que resolverá todos os problemas”.

Os programas de proteção social reduzem a pobreza, transformam o consumo e aumentam a segurança alimentar porque focam na pobreza em nível domiciliar, ajudando assim a mitigar os resultados adversos entre membros de uma mesma família, especialmente na adolescência.

Um exemplo citado pela palestrante foi o Transfer Project, criado em 2009 com os objetivos de fornecer provas da eficácia de programas de transferência de renda nacionais em larga escala e usar essas evidências para mostrar o desenvolvimento e o design desses programas e políticas, por meio do diálogo e do ensino.

As conclusões realizadas pelo projeto comprovaram o impacto positivo dos programas de transferência de renda para a redução da pobreza e o aumento da segurança alimentar. Além disso, Cook ressaltou, não foram encontradas nenhuma evidência que os beneficiados desse tipo de programa gastaram o dinheiro recebido em bens indesejáveis, como álcool e tabaco, por exemplo.

“Esse é um resultado muito importante desse programa, nós tivemos a capacidade de desafiar as percepções erradas sobre transferência de renda. Há uma resposta muito comum de que você não pode dar dinheiro para pessoas pobres, ou eles gastarão nas coisas erradas, e que isso incentiva o crescimento da fertilidade”, completou a especialista.

Educação para o empoderamento dos mais pobres

Diretora de Educação na Universidade McGill, no Canadá, Ratna Ghosh pesquisa em  educação comparativa e de desenvolvimento internacional, especialmente no que diz respeito às mulheres, educação e desenvolvimento, assim como temas relacionados à justiça social. Ghosh não pode comparecer a sessão para realizar sua palestra, mas foi representada pela coordenadora da conferência, Elisa Reis.

O tema pesquisado por Ghosh e apresentado por Reis foi o empoderamento da população mais pobre por meio da educação. O trabalho de Ghosh tem como ponto de partida o pensamento do educador brasileiro Paulo Freire, que enxergou a educação como um processo que pode chamar atenção para as causas da desigualdade.

A apresentação feita pela socióloga Elisa Reis (foto ao lado) trouxe um panorama dos objetivos globais para a democratização da educação e os desafios para alcançá-los. Enquanto, no hemisfério sul, muitos objetivos não foram atingidos, a nível global, a igualdade de gênero permanece também um alvo muito difícil de ser atingido.

A educação e a pobreza são como um círculo vicioso: baixos níveis de educação levam ao desemprego, saúde precária e famílias maiores; oportunidades desproporcionais levam a pobreza e a pobreza leva a exclusão social.

Para romper com esse círculo, são necessárias políticas eficientes e uma abordagem integrada. Nesse sentido, a Academia tem o papel essencial de elevar o status das mulheres nas áreas de STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática) e a qualidade da formação dos professores e das instituições de ensino.

Inovação para o desenvolvimento sustentável

Marcelo Carvalho de Andrade é fundador da Pró-Natura Internacional, uma das primeiras agências de desenvolvimento econômico sustentável internacional do mundo, que foi originalmente estabelecida no Brasil e já atingiu 61 países.

Andrade também co-fundou a Earth Capital Partners, um investidor ativo privado com especialização em sustentabilidade financeira; a Terra Capital Fund, o primeiro fundo capital de risco dedicado ao investimento exclusivo em negócios de biodiversidade no setor privado; o Axial Bank/Axial Par, primeira instituição financeira na America Latina dedicada a promover investimentos no setor de desenvolvimento sustentável; e a Eco Carbon, primeira empresa a especializar-se nos aspectos da engenharia de sumidouros de carbono na silvicultura e na agricultura.

Em sua apresentação, o especialista compartilhou um pouco de sua experiência trabalhando em uma agência de desenvolvimento sem fins lucrativos. Andrade mostrou como é possível criar economias diversificadas e sustentáveis em áreas pobres, por meio da ciência, tecnologia, boa gestão e bom financiamento.

 

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