Leia o artigo do Acadêmico Evaldo Vilela, professor da UFMG e presidente da Fapemig, para O Estado de Minas, em 3/3/2019.

O desejo de superarmos o atual modelo de mineração – como fizeram outras regiões do mundo, particularmente Nord-Pas-de-Calais, no Norte da França – depende, acima de tudo, de criarmos em Minas Gerais uma nova economia, baseada em produtos, processos e serviços intensivos em conhecimento e tecnologias. É uma mudança que acompanha as grandes transformações do mundo atual, com a incorporação do conhecimento científico à economia, de um modo dinâmico próprio da nova era digital e da bioeconomia, orientados por uma sociedade que exige, cada vez mais, meios de produção sustentáveis. Essa mudança depende, essencialmente, de atitudes e de vontade do poder público e de lideranças da sociedade civil, convencidos de que o modelo atual é insustentável e de que somos capazes de promover as transformações necessárias.

Temos ciência de classe mundial em nossas universidades e instituições de pesquisa, que querem participar ativamente, como faz hoje a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) com uma força-tarefa em Brumadinho. A Academia Brasileira de Ciências motiva, cada dia mais, nossos cientistas a se engajarem na transformação do conhecimento em qualidade de vida para a sociedade. Temos um ecossistema de inovação que nos revela incríveis talentos, e startups que faturam alto, mesmo em um ambiente de negócios que precisa ser melhorado – e de forma sistêmica – para nos levar além dos casos de sucesso que conseguimos apresentar hoje. Podemos ter centenas de jovens empresas focadas no presente e no futuro, e não nas velhas minas exploradas com modelos desatualizados e perigosos. É preciso que as empresas públicas e privadas reconheçam e apoiem a institucionalidade de ações organizadas dos jovens empreendedores mineiros, nas suas comunidades espalhadas pela capital e interior.

O Movimento pela Nova Economia Mineira (Movem) é um importante parceiro na geração de novos negócios a partir das startups. Como parte de um esforço crescente, como estado ganhando credibilidade e confiança, devemos atrair nova indústrias integradoras que têm o potencial de nos transformar, de referência de casos de sucesso, numa economia forte, contemporânea, capaz de sustentar uma Minas Gerais socialmente mais inclusiva e ambientalmente mais segura.

Assim, suprir satisfatoriamente a necessidade de criar uma Minas pós-minas, capaz de nos livrar de situações de calamidade ambiental e financeira, depende de alimentarmos e exercitarmos nosso desejo de construção coletiva de soluções a partir de um planejamento estratégico de reindustrialização consciente do estado. Trata-se de fazer com que Minas Gerais ofereça espaço de protagonismo para a ciência, a inovação e as novas tecnologias, como suporte de um plano de desenvolvimento socioeconômico conectado com o futuro. Não se trata de inventar, mas sim de adequar, de interferir proativamente na realidade, como fizeram Israel, Coreia do Sul e China.

Conectar empresários, governantes e cientistas –e os que temos são muitos e bons – em um ambiente de negócios mais estruturado e mais eficiente do que o atual. Essa é a nossa maior urgência.